Desde o passado dia 12 de Maio, quinta-feira passada, a equipa de produção e operações da Vulcan, a subsidiária da indiana Jindal que comprou a Vale Moçambique, entrou em greve. Trata-se de cerca de mil operários, operadores da mina, que transportam o carvão dos fundos e manipulam os equipamentos de carga e descarga (pás mecânicas, escavadoras e camiões, tractores de esteira e pneus, etc.).
Eles exigem uma adenda contratual, com incremento salarial. Uma fonte ligada ao Comité Sindical da empresa disse à "Carta" que todos os anos, por volta de meados de Maio, a Vale fazia um ajuste salarial de acordo com o respectivo Acordo Colectivo de Trabalho.
Desde a madrugada do dia 12, a empresa está a operar a meio gás, com avultados prejuízos. "Estamos a perder milhões de USD todos os dias", disse uma fonte da empresa que não quis ser citada. Os trabalhadores têm se manifestado de forma pacífica e nos seus cânticos de guerra evocam a Vale. "Não vamos esquecer a Vale", gritam em uníssono.
Até ontem, os trabalhos mínimos estavam a ser assegurados por "técnicos", uma categoria acima da dos "operadores". Apenas dez camiões estavam a operar quando o normal são mais de 50, disse uma fonte. Ontem, a direcção da empresa manteve reuniões com representantes dos operários grevistas sem nenhuma conclusão assegurada. Ainda ontem, por volta das 16:00 horas, a empresa enviou uma mensagem para todos os trabalhadores, apelando-os para voltarem ao trabalho "após o compromisso firmado, no passado dia 13, entre a Administração Provincial do Trabalho, a Vulcan Mozambique e o Comité Sindical". E apelou à calma.
Alguns trabalhadores atribuem os motivos da greve à sua própria desconfiança relativamente às intenções da Vulcan. Quando a Vale anunciou, em finais de 2021, a venda da mina de Moatize e o Corredor Logístico de Nacala à Vulcan por 270 milhões de USD, foi assegurado que todos os contratos e acordos em vigor seriam respeitados, na perspectiva de uma transição suave.
Os trabalhadores, no entanto, desconfiam. Eles têm notado algum relaxamento nos padrões de segurança e acesso de estranhos à empresa. "Hoje, basta você ligar para o senhor Anup Kumar e ele autoriza sem critério o acesso à empresa", contou uma fonte.
Por outro lado, os trabalhadores notam com estranheza a presença, dentro da mina, de elementos da PRM com equipamento letal. Antes, acrescentou a fonte, a protecção integral era garantida pela G4S, mas com armas de borracha. A greve dos trabalhadores das operações e produção da Vale é simplesmente o sintoma de uma transição não muito bem compreendida pelos trabalhadores.
"Uma das coisas que não compreendem é que a empresa é a mesma e só mudou de nome", disse fonte da empresa, que garantiu que todos os contratos estão a ser respeitados. Isto não é corroborado por alguns fornecedores que alegam que a Vulcan está a "rasgar" contratos de fornecimento de terceiros e empurrando outros para reverem por baixo seus preços. (Marcelo Mosse)