A comunidade maometana é uma organização religiosa com raízes bem profundas em Moçambique, visto que a sua criação data de 16 de Janeiro de 1935 através da portaria n˚2; 407, estando ainda em uso até hoje os estatutos criados nos primórdios do colonial fascismo quase próximo da criação do Estado Novo do Salazar.
Durante a leitura dos estatutos é possível deparar-se com abordagens de segregação racial, pois nos termos da mesma só podem ser membros os maometanos indianos, uma autêntica violação do principio da igualdade previsto artigo 35 da Constituição da República, e sem deixar do lado que a lei das associações, lei n 8/91 de 18 de Julho, exige a alteração dos estatutos de todas as associações privadas para que se coadunem com a realidade constitucional do País sob pena da sua extinção administrativa e reversão a favor do Estado todo o Património.
Tendo em conta o que acabamos de abordar duas questões se levantam:
Desde a demissão de um destacado dirigente da comunidade maometana, a mesma vem demonstrando problemas sérios de gestão e cumprimento dos seus objectivos, se não vejamos:
Toda essa desorganização organizada é um banquete de escamoteamento de princípios e valores da comunidade, uma mesa que deveria ser pura.
A questão da ilegalidade do funcionamento da comunidade maometana (não realização das eleições, Estatutos contrários a lei, falta de transparência na administração da mesma), coloca a PGR e os Assuntos Religiosos no dever de com urgência fazer cumprir a Constituição e as demais leis vigentes, pois é mesmo por não se tomar medidas justas e adequadas a nossa realidade, surgem Associações Religiosas, Mesquitas e Igrejas como cogumelos, com seus líderes vitalícios.
Urge a necessidade do Governo, através da PGR por cobro a estas arbitrariedades, exigir que num prazo de 90 dias a destituição da actual direcção por estar a servir de forma ilegítima, e a constituição de uma direcção de transição até que sejam realizadas eleições de uma nova direcção cuja a sua primeira obrigação consistirá na elaboração e aprovação de novos estatutos.
Que esta experiência sirva de aprendizado para se impor medidas que permitam o Estado conhecer quais os factos reais, sob pena de Maputo se tornem num outro Cabo Delgado.
Por: Salvador Murchidão
Jurista e activista social
Do mesmo jeito que o cineasta norte-americano Woody Allen disse um dia – de que não podia escutar muito Wagner, maestro e compositor de ópera alemão que o ditador nazista Adolf Hitler adorava escutar, porque ficava com vontade de invadir a Polónia – eu tenho a mesma vontade em relação a Rússia depois que vejo um Telejornal que debruce sobre a invasão da Rússia à Ucrânia.
Agora estou curioso em saber o que Vladimir Putin, o presidente russo, adora escutar. Mais curioso ainda estou em saber se tal música fora a que ele, eventualmente, escutara na madrugada de 24 de Fevereiro de 2022, enquanto as suas tropas iniciavam a invasão à Ucrânia.
Mas vendo bem, não vou fazer essa pesquisa. E seja lá qual for a música ou músico que Putin goste, certamente que os efeitos de a escutar não são boa coisa.
Ademais, aconselho até a nossa classe política a não procurar saber e muito menos escutar tal música, pois os tempos eleitorais que se avizinham, a começar pelas hostes do partido glorioso, não são propícios para o tipo de música que Putin escute.
Por enquanto, e para fechar, partilhar que para conter os meus ânimos belicistas depois de cada Telejornal, tenho escutado muito a música ligeira moçambicana. Esta, talvez por ser ligeira, deixa-me manso. Porventura até seja o tipo de música que os líderes do Ocidente estejam a ouvir por estes dias.
Razões de ordem técnica dos requerimentos e a pandemia são os subterfúgios a que se recorre para indeferir as comunicações para a realização de marchas/passeatas/ manifestações pacíficas para todos os enteados do governo do dia. Por outro lado, os filhos do governo do dia só precisam de comunicar no partido que pretendem enaltecer ou endeusar a liderança máxima para sair à rua sem máscaras e abraçados! As referidas manifestações de apoio ou reconhecimento dos feitos da chefia, conforme são apelidadas, nunca foram impedidas, mesmo no auge das vagas de infecções com a Covid-19.
Já, enquanto os enteados procuravam marchar contra a onda de raptos que minetou o sistema policial e judicial. Contra as portagens que cercaram Maputo e outras que estão a ser colocadas em zonas com estradas sem qualidade. Contra a violência policial que se fez sentir em vários locais do país. Onde vendedoras ambulantes eram arrancadas peixe, bananas, bolinhos e depois espancadas por indivíduos vestidos de farda policial, o engraçado é que mesmo com os vídeos que viralizaram nas redes sociais, os dirigentes não estão nem aí – talvez tenha sido por isso que homens subversivos levaram um caixão para a casa de um chefe municipal e dias depois invadiram a casa, agrediram o homem e morderam o "mangalho do homem" deixando-o entre a vida e a morte.
Os dias passaram, veio mais uma audiência do mediático julgamento das dívidas odiosas – um peixe grande da nação foi ouvido – durante a sessão citou por várias vezes o outro peixe grande. A comunicação social deu eco àqueles dizeres. Vários debates foram travados em canais com dimensão nacional e internacional e o facto irritou as lideranças que orientaram que deveriam ser realizadas marchas por tudo que é canto, demonstrando de que lado os filhos estavam!
Para os filhos do governo do dia, a Constituição funciona sem precisar seguir o protocolo institucional recomendado. Até se for uma marcha de apoio a um dirigente pedófilo, as autoridades dão parecer até de madrugada. Mas se fores um enteado, mesmo que cites rigorosamente o Artigo 51 da Constituição da República de Moçambique (CRM) e o requerimento tenha sido feito pelo reconhecido cientista jurídico Diogo Freitas de Amaral ou a Juíza- Presidente do Conselho Constitucional (CC), o assessor jurídico do Edil ou do Governador/ comandante identificará os erros e irá indeferir o referido documento que visava simplesmente comunicar.
É complicado quando filhos do mesmo pai e mãe são tratados como enteados, simplesmente porque um reclama por melhores condições e outro agradece por viver na miséria e ser minetado longamente! Seria interessante que, enquanto a bandeira for essa, a constituição a mesma e o governo vigente tenha sido aquele que escolhemos que não houvesse filhos e enteados. Que todos os movimentos sociais e políticos tenham seu espaço de intervenção e exigência. Não devemos alimentar que a sociedade exija seus direitos da forma como o fizeram os trabalhadores da açucareira de Xinavane!
Ninguém deve ser obrigado a viver no silêncio e em constante medo, quando a nação onde todos vivem tem único nome – Moçambique. Tem única bandeira e mesma nacionalidade – moçambicana. Mas apenas alguns pensam de uma forma diferente sobre um determinado problema. Daí que alguns se identificam com os grupos sociais e políticos existentes. É importante que cultivemos as diferenças de pensamento, sem cortar as liberdades de cada um e criar inimigos públicos simplesmente porque o que ele fala denuncia as nossas falhas ou injustiça a maioria.
Pancho vivia na senzala ao lado da mansão da linda Ester como inquilino. No quintal era visto como esquisito e profundo memorizador das músicas românticas, em especial as brasileiras e norte-americanas – no seu quarto era comum ouvir pela madrugada as músicas de Roberto Carlos e Celine Dion. Às vezes, o homem sonhava em cantar.
O que Pancho não sabia é que na janela da mansão defronte ao seu humilde quarto dormia uma elegante moça. Dona de um corpaço extravagante e que despertava o olhar e atenção de todo o senhorio com quem se cruzasse pelo caminho.
Num belo dia, enquanto os pássaros animavam o som ambiente do quintal, Pancho interpretava a música de Roberto Carlos, com o título: "esse cara sou eu"! Foi quando a Ester abriu a cortina do seu quarto, vestida de um roupão vermelho e apertado, mapeando todos os atributos do corpo. Surpreendido com o que acabara de ver, Pancho a saudou e, com uma voz dócil, Ester correspondeu à saudação.
Naquele momento, nascia uma relação amorosa que infelizmente o fim da escuridão da noite e os raios do sol se encarregaram em destruir.
De olhar em olhar. Saudação em saudação, Pancho e Ester começaram um romance. Entretanto, entre milhares de qualidades que a Ester tinha, estavam os seus seios que deixavam Pancho e os admiradores da zona com a cabeça nas nuvens e loucos.
- Conta Pancho que, a cada toque entre os corpos, o "pigmeu" do Pancho ficava com a altura da montanha. Pancho não resistia aos abraços da Ester, que mesmo vestida com a toga de Procuradora ou Juíza os cinematográficos seios ficam expostos e apetitosos.
- Durante o acto sexual entre Pancho e Ester, o prazer era inesgotável, uma vez que a cada round dado, o "pigmeu" do Pancho rapidamente levantava logo que olhasse para os seios da Ester.
- Talvez não estejas a vislumbrar como são os seios da Ester, lendo até aqui o texto. É que, embora fosse uma jovem das bandas de Chuabo Dembe, em Quelimane, ela tinha as características de Denise Milani, a dona dos seios mais bonitos do mundo. As curvas da actriz que em tempo deixaram um júri de caça-talentos norte-americano rendido.
- A diferença entre Denise e Ester é que uma estava em Quelimane e com todos os atributos naturais e a Denise em Los Angeles, e teve que fazer algumas intervenções médicas. A Ester alimenta-se com frutos caseiros e Denise vive de takeaways e dietas ferrenhas. Mesmo assim, os seios da Ester continuam picantes e com a estrutura arquitectónica da pirâmide de Quéops ou de Khufu do Egipto que, embora tenham passado milhares de anos, ainda continua intacta.
- Devido à beleza e estrutura corporal da Ester, Pancho a chamava de "boneca negra humana", que jorrava nos seus seios um líquido com o sabor a mel e o frio de um sorvete russo.
A madrugada ia clareando, os pássaros cantando, as mamanas do bairro caminhando e os motores dos veículos roncando, quando Alberto, pai de Pancho, bateu à porta do quarto do filho, alertando-o para acordar e preparar-se para ir à escola. E lá se foi o sonho do Pancho em ter uma Ester com os seios deliciosos e um corpo da actriz norte-americana Maria Halle Berry (…)!
- Agora, Pancho só tinha de lavar a roupa interior que estava banhada de sémen – afinal tudo não passava de um sonho molhado de um jovem carente de amor e sem companheira por satisfazer…!
Há dias re-assistia ao informativo filme "Barry Seal: Traficante Americano" que relata como um piloto norte-americano nos anos de 1980 trabalhou com o narcotraficante colombiano Pablo Escobar e com a CIA, levando para alguns países da América latina armamentos diversos para pés descalços, viciados de coca e bêbados que repentinamente comandavam guerrilhas violentas e sem objectivos claros para os integrantes do grupo, mas bem delineados pelos gringos. O papel do piloto é interpretado pelo galáctico da sétima arte hollywoodiana Tom Cruise, principalmente através da saga Missão Impossível.
Sucede que, enquanto acompanhava atentamente a saga acima mencionada no portátil, eis que uma peça de reportagem chama a minha atenção: "Junta Militar da Renamo elege novo líder". Atento e sem pestanejar, lá estava eu, acompanhando o palavreado do brigadeiro incumbido de dar a "boa nova" aos moçambicanos habituados a serem sacrificados sempre que um ciclo eleitoral se aproxima – ali pensei que alguém quer desculpas e renovação do discurso de paz para enriquecer o manifesto!
Na ocasião, o outro lado da minha mente dizia que podia ser mesmo que os homens humilhados no "papo do DDR" tenham sido informados que não teriam nunca na sua mesa alguns vinhos que os chefes consumiam em Maputo, Beira e Nampula e, a partir daí, decidiram resgatar a sinuosa e confusa missão de Mariano Nhongo - pensam em instalar o pânico na zona centro do país.
No outro momento, imaginei até que podem ser alguns mancebos que já estiveram em campos de combate e lá aprenderam que o negócio da guerra é super lucrativo, apesar dos riscos, ou seja, se resistires até podes forçar um acordo de paz, exigires patentes de coronel ou general sem ter combatido e nem disparar uma Makarov, com subsídios chorudos e regalias, e ainda ser visto como herói pelos seus correligionários depois de terem saqueado celeiros de camponeses indefesos e atirados para a pobreza.
Com a informação pipocando a minha mente, imaginei até que se poderia tratar de grupos de moçambicanos que diariamente são despedidos dos seus postos de trabalho e quando verificam suas contas bancárias, percebem que durante toda a sua vida apenas estiveram a acumular roupa rota e problemas de saúde. Entretanto, após estas todas viagens reflexivas, lembrei-me de uma longa conversa com um importante quadro das nossas Forças Armadas, que me disse que o DDR estava rodeado de mistérios e falsas máscaras, no estilo dos militantes de um partido que são transportados de um lugar para outro para encher os comícios de um determinado dirigente partidário.
Sem papas na língua, o patriota defendeu na altura que, por viveremos num país do "faz de conta", onde se procura culpa para tudo e para justificar o injustificável, logo, não seria surpresa que a escassos meses do início do show dos partidos políticos alguém quisesse influenciar as manchetes do Jornal, para que as sujidades governamentais que de quinquénio em quinquénio começam a explodir não tivessem tanto espaço, como o ataque a um autocarro transportando civis ou hospital vandalizado.
A guerra é uma mina de diamantes que alimenta o ego de grupos subversivos e corruptos, que vêem a morte e o sofrimento de inocentes como um negócio lucrativo e sem fiscalização. Por isso, sempre existirão novos Nhongos para causas justas e injustas, dado o rumo das coisas na Pérola do Índico. Podem surgir guerrilheiros como os criados pela CIA em Nicarágua, nos anos 80, para derrubar o governo no poder e que actuavam em conluio com os grandes grupos do narcotráfico da Colômbia, Bolívia, México e Estados Unidos da América (EUA), mas que serão grupos para ganhar eleições e dar agenda de trabalho aos políticos.
A verdade é que se continuarmos a viver num país sem uma agenda de desenvolvimento social e económica justa e comum a médio e longo prazo, as pessoas que se beneficiam destes actos, seja política ou economicamente, poderão continuar a saga de criação de novos "Marianos Nhongos" para instalar o caos e criar novos falsos heróis da paz e mais um acordo definitivo sem conteúdo – e uma lista longa de assassinatos protagonizados por homens com licença e carta branca para matar – os esquadrões da morte! Ainda pensando (…)!!!
Agora que descobriu o silêncio da minha casa, não quer sair mais daqui, vem todos dias. É como se este espaço fosse dela também. Thsala Mahenhane diz que o meu quintal, vedado de plantas, sem muro de pedra, é uma galeria, ao mesmo tempo um atelier. Se estes pássaros todos, chegam e poisam e cantam e fazem sexo em liberdade, “porquê que eu também não posso gozar a liberdade neste lugar?”.
Thsala gosta de beber, “as pessoas dizem que sou uma pipa, mas tu nunca me disseste isso”. Na verdade jamais a considerei pipa alguma. Respeito-a, até porque cada um de nós tem o direito de traçar os limites dos seus passos, mesmo que seja em desobediência ao Deus de Jacob e de David e de Abrahama. E esta mulher quer cantar, depois de um copo. Então, quem convoca a música nestas circunstâncias, tem o coração que passa a vida a repetir versos de amor.
A nossa relação começou num dia inesperado. Num dia como os outros, com o tempo a tomar conta de mim, dando-me alfazemas e orquídeas. De graça. Sentia uma paz extraordinária dentro de mim, sem saber o que isso significava, até à altura em que uma mulher entra de rompante, visivelmente aflita e diz: “desculpa, peço casa de banho”.
Passado um tempo considerável, comecei a achar estranho que a “minha hóspede” não estivesse despachada, então resolvi abeirar-me da porta da “toilett”.
- Está tudo bem com a senhora?
- Desculpa, tenho uma preocupação, mas só posso apresentá-la à uma mulher.
- Está certo, espere só um minuto.
Fui a correr a uma farmácia que fica aqui perto e, passado pouco tempo, trouxe uma embalagem de pensos higiénicos. Fui de novo à porta da casa de banho e introduzi a mão.
- Isto resolve o problema?
- Muito obrigada.
Voltei à minha varanda sem preocupação, feliz por ter ajudado uma desconhecida. Porém, o mais surpreendente é que eu nunca havia comprado pensos higiénicos em toda a minha vida, nem para as minhas ex-esposas, mas a vida é essa caixinha de surpresas!
- Peço imensas desculpas, ao mesmo tempo que agradeço ao senhor pela compreensão. Eu não devia ter feito isto. Desculpa.
- Você não fez nada demais, e, por favor, não me trate por senhor, pode me chamar Bitonga Blu.
- Obrigada, eu chamo-me Thsala. Thsala Mahenhane.
A mulher estava aliviada. Mais do que isso, apaixonada pelo meu espaço.
- Este lugar é tão lindo!
Lançou o olhar por todo o perímetro da casa, e parecia completamente conquistada. Viu a minha guitarra, em repouso num dos cantos da varanda, e perguntou se eu era músico.
- Não sou propriamente um músico, toco algumas coisas. Gosto de cantar.
- Eu também gosto de cantar.
Pediu-me que a acompanhasse no tema da Mingas, Mweti, e o que veio depois, a partir daí, foi a paródia em si, a loucura. Já tinhamos uma garrafa de Gin Gordon à mesa, a alimentar as metáforas, sem que eu soubesse que a presença desta mulher que aparece na minha casa em período menstrual, vinha mudar a minha forma de estar. Ela não mudou meu caminho, mas mudou a mim.