Escaparam da fúria dos terroristas, mas não escapam dos pesadelos do horror presenciado durante as sucessivas invasões às suas aldeias de origem, nos diferentes distritos afectados pelos ataques terroristas, desde Outubro de 2017.
Decapitações, esquartejamentos, incêndio de residências e raptos de adolescentes são algumas das atrocidades cometidas pelos terroristas, que não saem da mente de quem as assiste. É o caso de Mariamo Sumail, que não se esquece de como o grupo transformou em cinzas todo o suor do seu falecido filho.
Viúva, Sumail conta que implorou e até ajoelhou para que os terroristas não queimassem a sua casa, na aldeia de Ingoane, no Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia. Mas, debalde! O grupo queimou a palhota, porém, poupou a sua vida, alegadamente porque é idosa. Acrescenta ainda ter visto o grupo a raptar raparigas.
Por seu turno, Amina Ussene, também da aldeia de Ingoane, descreve o grupo terrorista de “mau”, não só pelo facto de ter destruído todo o seu património, mas também pelo facto de a ter forçado a abandonar a sua terra natal.
Acolhida em casa de um familiar, no bairro de Natite, na cidade de Pemba, Amina Ussene narra que terá resistido a seis investidas dos terroristas, mas à sétima não conseguiu, tendo rumado para a capital provincial, em busca de abrigo seguro.
Em Natite, Ussene e a família (seis elementos) encontraram um abrigo, mas não um conforto, pois, para além das recordações do que viveu em Macomia, há também o pesadelo da fome, que não lhe larga, sobretudo porque não sabe o que fazer para ajudar nas despesas de casa.
Quem também dificilmente se irá esquecer do que viveu é Sacur Muamar, outro deslocado de Ingoane e que também se encontra hospedado no bairro de Natite. “Estamos mal e desesperados”, disse a fonte que se dedica ao fabrico de vassouras de palha, de modo a ajudar nas despesas de casa. As vassouras são vendidas a 20 Meticais.
Dados do Governo indicam que os ataques terroristas, na província de Cabo Delgado, já provocaram a morte de 800 pessoas e o deslocamento de cerca de 300 mil pessoas, porém, o Parlamento Europeu aponta a morte de mais de 1.500 pessoas, para além da deslocação de mais de 250.000 cidadãos. Refere também que mais 700.000 moçambicanos necessitem de assistência multiforme.
Na passada terça-feira, refira-se, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, ofereceu diversos produtos alimentares e peças de roupa às famílias que se encontram acolhidas no distrito de Metuge. Mesmo gesto foi levado a cabo pela Fundação Alberto Joaquim Chipande, que apoiou cerca de 15 mil deslocados com produtos alimentares, vestuários, calçados e outros materiais necessários. Aliás, o Governador da província de Cabo Delgado, Valigy Tauabo, avançou que as campanhas de solidariedade já angariaram um total de 18 milhões de Meticais, que serão investidos na construção de um sistema de abastecimento de água potável, escola e centro de saúde para os deslocados. (Carta)
Num quadro de comprovada incapacidade de dar resposta aos ataques na província de Cabo Delgado, o Governo moçambicano decidiu, semana passada, pedir apoio à União Europeia (UE) na área de treinamento militar especializado para combater o terrorismo e a insurgência.
Através do Ofício nº. 1818/GMNEC/995/2020, datado de 16 de Setembro último, da lavra de Verónica Macamo, Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, o Governo de Maputo solicita apoio nos domínios da formação, logística para as forças de combate ao terrorismo, equipamento de assistência médica em zona de combate e capacitação técnica de pessoal.
Os apoios nestes domínios visam, de acordo com o Executivo moçambicano, reforçar as medidas de resposta militar e de segurança e ainda evitar o avanço dos terroristas e restabelecer a lei e ordem naquela estratégica província do país.
O pedido foi endereçado a Josep Barrell Fontellas, Alto Representante da União Europeia para Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, em Bruxelas.
“Tendo em conta a necessidade de reforçar as medidas de resposta militar e de segurança, bem como contrapor o avanço dos terroristas e restabelecer a lei, ordem e tranquilidade públicas nos distritos afectados, o Governo de Moçambique considera importante o apoio na área de treinamento especializado para combate ao terrorismo e insurgência, através de apoios multiformes: formação, logística para as forças de combate ao terrorismo, equipamentos de assistência médica em zonas de combate e capacitação técnica de pessoal”, refere o pedido do Governo, enviado a Bruxelas.
A par do apoio no domínio militar, o Executivo moçambicano diz esperar contar com o apoio dos eurodeputados (deputados do Parlamento Europeu) na mobilização de ajuda humanitária para a população vítima dos ataques armados em Cabo Delgado.
As autoridades de Maputo consideram “importante” o reforço do apoio dos parceiros de cooperação internacional aos programas e projectos que estão sendo implementados naquela província da região norte do país (pela Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte-ADIN), que tem por objectivo assegurar o desenvolvimento sócio-económico integrado.
Nas contas do Governo moçambicano, os ataques em Cabo Delgado já provocaram a morte de 800 pessoas e cerca de 300 mil deslocados, desde o seu início em Outubro de 2017.
Entretanto, o Parlamento Europeu (PE) diz, em resolução aprovada semana finda, que os ataques armados já tiraram a vida a mais de 1.500 pessoas, provocaram mais de 250.000 deslocados e fizeram com que mais de 700.000 pessoas necessitem de assistência multiforme.
Ainda na missiva, o Governo diz-se preocupado com a tendência da intensificação e alastramento das acções terroristas para mais distritos daquela província, sendo que, actualmente, perfazem nove distritos. Anota, igualmente, que os terroristas, para além de sequestrar, assassinar, saquear, usam durante os ataques às posições das Forças de Defesa de Segurança (FDS) crianças e mulheres como escudos humanos.
Na semana passada, Cabo Delgado foi tema de discussão no Parlamento Europeu, que culminou com a elaboração de uma resolução (sobre a Situação Humanitária em Moçambique), aprovada com 616 votos a favor, 13 contra e 57 abstenções.
Na resolução, para além de instar o Governo moçambicano a tomar medidas “eficazes” e “decisivas”, alerta para o risco do crescimento da insurreição e, posteriormente, o alastramento pelos países vizinhos, realidade que colocará em causa a estabilidade regional, mas isto se a mesma (insurreição) não for travada.
O órgão diz ser necessário um “esforço regional e internacional mais coordenado para dar resposta” à crise humanitária e aos ataques terroristas em Cabo Delgado.
Num outro desenvolvimento, o PE defendeu que as autoridades de Maputo devem levar a cabo uma investigação independente e imparcial em torno das situações de violação dos direitos humanos que vêm sendo praticadas por elementos das FDS. Para tal, entendem que Maputo deve permitir que investigadores independentes e observadores de direitos humanos entrem no país. (Ilódio Bata)
Os ataques armados, protagonizados pela auto-proclamada Junta Militar da Renamo, no centro do país, desde Agosto de 2019, voltaram a reacender em alguns distritos das províncias de Manica e Sofala. Só nos últimos quatro dias, oito autocarros foram atacados, tendo resultado na morte de duas pessoas e ferimento de outras 15.
O mais recente ataque ocorreu na manhã deste domingo, 20 de Setembro, no troço Inchope-Gorongosa, tendo sido alvos cinco autocarros, todos sob escolta policial, no âmbito das colunas militares introduzidas naquele troço.
Mateus Zeca, que testemunhou o horror, disse à “Carta" que morreram dois ocupantes de uma das viaturas, sendo que sete ficaram feridos, dos quais dois encontram-se em estado grave. Todos tinham sido transportados para o Centro de Saúde da Gorongosa, porém, terão sido imediatamente transferidos para o Hospital Provincial de Chimoio.
O outro ataque armado aconteceu na passada quinta-feira, quando um grupo de homens armados disparou contra três autocarros de passageiros, nos distritos de Nhamatanda e Chibabava, na província de Sofala. Nestes ataques, sete pessoas ficaram feridas, das quais três gravemente.
De acordo com Dércio Chacate, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Sofala, o primeiro ataque ocorreu por volta das 07 horas e 45 minutos, na zona do rio Púnguè e os autocarros tinham como destino a cidade de Quelimane, capital da província da Zambézia. Já o segundo ataque ocorreu por volta das 10 horas, tendo sido alvo um autocarro que saía da cidade da Beira para a capital do país.
Refira-se que, na semana finda, Mariano Nhongo, líder da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, prometeu paralisar o distrito de Nhamatanda, província de Sofala, porque supostamente, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estavam a perseguir seus filhos. (O.O.)
Os distritos de Mocímboa da Praia e Palma, no norte da província de Cabo Delgado, continuam sendo vítimas dos ataques terroristas que já ceifaram mais de 1.000 vidas humanas e causaram a deslocação de mais de 300 mil pessoas.
Fontes da “Carta” contam que, no dia (último sábado), em que o grupo atacou viaturas na estrada que parte da vila-sede de Palma ao Posto Administrativo de Pundanhar, outros elementos do grupo atacavam a aldeia de Quissenge, no Posto Administrativo de Olumbe, sul do distrito de Palma. O ataque, garantem as fontes, resultou no incêndio de diversas residências da população.
Já no dia seguinte, o grupo escalou uma das poucas aldeias ainda habitadas no distrito de Mocímboa da Praia, perto da aldeia Diaca. Neste ponto, diferentemente da outra aldeia, o grupo teve uma pronta reacção das Forças de Defesa e Segurança (FDS), que abateram cinco membros da facção criminosa.
Aliás, as fontes avançam que as FDS, que estavam estacionadas naquele local, até tinham recuado, devido à intensidade dos combates, mas acabaram recebendo reforço dos militares que estavam na aldeia Nanenda. (Carta)
Não são as Forças de Defesa e Segurança (FDS) que aparecem no vídeo, no qual uma mulher (nua) é torturada e depois executada, a tiros (mais de uma dezena), em plena via pública (já privatizada), num dos distritos afectados pelos ataques terroristas na província de Cabo Delgado. A garantia foi dada esta terça-feira, pelo Ministro do Interior, Amade Miquidade, à saída da 34ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros.
Segundo Amade Miquidade, o vídeo (chocante e repugnante), que circula nas redes sociais, desde a última segunda-feira, e que levantou uma onda generalizada de repúdio, no país e no estrangeiro, foi gravado e difundido pelos terroristas, com a intenção de subverter a realidade dos factos.
“Este vídeo não é o único que os terroristas divulgam. É mais um vídeo que eles divulgam com a intenção subversiva de inverter o acto praticado, dirigido contra as Forças de Defesa e Segurança. Aquele é um acto macabro, inaceitável e desumano. Jamais as Forças de Defesa e Segurança fariam algo parecido”, garantiu o governante.
O referido vídeo, com duração de 1 minuto e 58 segundos, sublinhe-se, mostra um grupo de homens, fortemente armados e trajados com uniformes das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), a perseguir e depois torturar uma mulher (nua), antes de um deles começar a abrir fogo contra a vítima, acto repetido por outros dois integrantes do grupo. Um dos membros do grupo, neste caso responsável pela gravação do vídeo, grita dizendo que a vítima é do “Al Shabaab”, nome atribuído ao grupo terrorista que actua na província de Cabo Delgado. Depois da execução da mulher, o mesmo indivíduo mostra dois dedos em forma de “V” e afirma que “já mataram o Al Shabaab”.
Para alguns, o vídeo é da autoria das FDS e os militares envolvidos já estão detidos. Há quem avança que a mulher executada é uma “bruxa”, pertencente ao grupo terrorista e que estava nua porque encontrava-se em mais uma missão de bruxaria. Para outros, o vídeo não pode ser da autoria das FDS, pois, alguns membros do grupo estão trajados com camisetas vermelhas (e não verdes), para além de terem mochilas comuns e não militares.
“Queremos, aqui, aclarar que os terroristas envergam uniforme idêntico ao que usam as Forças de Defesa e Segurança. O que os identifica, entre eles, é que nas suas incursões colocam sinais para que entre eles se conheçam. Mas, quando querem realizar a sua propaganda contra o Estado moçambicano, retiram esses caracteres que os identificam e fazem os vídeos para promover uma imagem de atrocidade por quem defende o povo”, explicou o governante.
O vídeo, que se diga, chega dias depois de a Amnistia Internacional (AI) ter pedido ao Governo para iniciar uma investigação independente e imparcial sobre a tortura e outras violações graves cometidas pelas FDS, na província de Cabo Delgado. Aliás, “Carta” já reportou, por diversas vezes, as atrocidades que têm sido cometidas pelas FDS nos distritos afectados pelos ataques terroristas, destacando-se detenções arbitrárias e execuções sumárias.
“Queremos garantir que os actos macabros que têm sido divulgados são acções de subversão, tendentes a pôr o povo contra as forças que os protegem e nós vamos lutar e combater até lá. Aliás, queremos assegurar que estamos num processo investigativo para saber onde se encontra o núcleo de preparação destes vídeos. Não é a primeira vez que vemos no mundo e no nosso país a serem manipuladas informações, com vista a criar uma desinformação que leve à condenação do nosso país. Recentemente, o governo, perante uma comunicação da comunidade internacional, esclareceu, através de um comunicado, que não havia qualquer relação entre aquelas imagens e as FDS”, defendeu o Ministro do Interior.
“Os terroristas, na sua acção macabra, degolando as suas vítimas, esquartejando-as vivas, provocando uma morte violenta, sem piedade, só demonstram o seu carácter brutal e demonstram que, afinal de contas, temos um grupo de indivíduos com intenções desconhecidas”, sublinha.
“Há apoios [internacionais] porque recebemos armas e munições”
Questionado pelos jornalistas se o Governo pensa ou não em pedir apoio à comunidade internacional, Amade Miquidade respondeu: “os apoios internacionais estão a ser solicitados sim. Recentemente, foi criada a ADIN [Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte], com o fito de clamar pela ajuda necessária para os deslocados e para a criação de condições, para que alguns desses jovens não sejam aliciados por promessas vãs. Do ponto de vista militar, nós não produzimos munições, não produzimos armas. Então, quer dizer que há apoios porque recebemos armas e munições para nos defendermos”.
Referir que os ataques terroristas, que duram há quase três anos, já causaram a deslocação de mais de 360 mil pessoas e a morte de mais de 1.000 pessoas, entre militares, membros do grupo e cidadãos civis. (Abílio Maolela)
Depois de conquistar a vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia, no passado mês de Agosto, os terroristas tentam capturar a vila-sede do distrito de Palma, ponto onde está implementado o maior projecto de Gás Natural Liquefeito do país.
Segundo as fontes, na manhã do último sábado, o grupo atacou uma viatura na estrada que liga os distritos de Palma e Nangade, concretamente no Posto Administrativo de Pundanhar. A via atacada, refira-se, é a única alternativa segura à Estrada Nacional Nº. 380, bloqueada pelo grupo, desde a tomada da vila-sede de Mocímboa da Praia, complicando cada vez mais a ligação terrestre entre o sul e o norte da província de Cabo Delgado.
Conforme contaram as fontes, a viatura (atacada) transportava passageiros, que saíam de Palma para Nangade, e quando se aproximavam da sede do Posto Administrativo de Pundanhar, os ocupantes da viatura foram surpreendidos por um grupo de indivíduos armados, que abriram fogo contra a viatura. As fontes garantem que houve vítimas mortais, mas não precisaram o número. Acrescentaram ainda que a viatura, na qual seguiam, foi incendiada, porém, dois cidadãos atingidos pelos tiros foram evacuados para o Centro de Saúde de Nangade.
As fontes garantem que não houve muitas baixas, devido à pronta intervenção das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e que conseguiram sair do local, devido à presença de outras viaturas que faziam o mesmo trajecto.
A incursão verificada naquele ponto do país pode representar o início da “captura” da sede distrital de Palma, distrito onde ocorre um dos maiores projectos de Gás Natural Liquefeito do mundo. O facto é que, com o controlo da via Palma-Nangade, o distrito de Palma fica completamente bloqueado do resto do país e pode tornar-se no segundo distrito a ser conquistado pelo grupo terrorista, depois de Mocímboa da Praia.
Refira-se que a estrada que liga os distritos de Palma e Nangade tem registado, nos últimos tempos, um movimento desusado de pessoas que a usam como via segura para chegar ao distrito de Mueda (o local mais seguro da zona centro e norte da província de Cabo Delgado), de onde partem para a cidade de Pemba (capital provincial) e outros pontos do país, em busca de abrigo seguro. A mesma tem uma extensão de 100 Km, sendo uma via de terra batida.
O ataque, sublinhe-se, não é o primeiro a ser registado naquela via, sendo que, em 2019, houve relatos de um ataque terrorista, que culminou também com o incêndio de uma viatura e o assassinato de alguns ocupantes.
Outras incursões
Fontes baseadas na província de Cabo Delgado reportam ainda a ocorrência, na última sexta-feira, de uma incursão armada à aldeia Maputo, no distrito de Mocímboa da Praia, que visava a expulsão dos últimos moradores que ainda se encontravam no local. Uma acção idêntica, asseguram as fontes, ocorreu nas aldeias de Tete (Mocímboa da Praia) e Mute (Palma).
A Ilha de Vamizi, uma das que compõe o Arquipélago das Quirimbas e que é reconhecida como uma das principais ilhas privadas de luxo na África Oriental e no Oceano Índico, voltou a ser vítima de uma acção armada. Na última quinta-feira, o grupo terrorista invadiu a Ilha e queimou várias palhotas e estâncias turísticas. No mesmo dia, dizem as fontes, o grupo atacou as aldeias de Unambo e Olumboa, no Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia, tendo incendiado casas e assassinado uma pessoa.
Referir que os ataques terroristas, que se verificam na província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, já causaram a morte de quase mil pessoas e a deslocação de cerca de 250 mil pessoas, na sua maioria nos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Muidumbe e Quissanga. (O.O & Carta)