Os ataques que ocorrem na região norte da província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, parecem estar a facilitar a exploração e até exportação ilegal da madeira, devido ao abandono de algumas zonas “ricas” deste recurso e também pelo facto de o Governo ter centrado os esforços no combate aos insurgentes, deixando alguns postos estratégicos de fiscalização e saída de madeira desprotegidos.
Segundo o que “Carta” apurou, para além do tráfico de órgãos humanos, as redes criminosas estão a usar a situação que se vive nos distritos de Palma, Macomia, Nangade, Mocímboa da Praia, Quissanga e Muidumbe para explorar e exportar ilegalmente diversas espécies faunísticas e florestais, através da via marítima.
Dados confirmados pela população e fontes oficiais indicam que, entre os distritos que registam esta situação, estão Macomia, Quissanga, Muidumbe, Montepuez e algumas áreas ao longo do Parque Nacional das Quirimbas.
População residente nas proximidades do rio Rovuma conta que é frequente ver homens armados e equipados, levando madeira, através de barcos que, posteriormente, é transportada para outra margem (Tanzânia) em camiões. Devido à falta de fiscalização nas áreas de conservação da biodiversidade e, sobretudo, por causa do medo que se instalou, são poucas as pessoas que ainda continuam nas respectivas regiões.
Refira-se, por exemplo, que só o Parque Nacional das Quirimbas tem uma extensão de cerca de 7.500 Km², sendo a área florestal uma das maiores, para além do mar e a zona habitacional. À “Carta”, o Director-Geral do Parque, Albino Nhusse, reconheceu haver uma fiscalização deficitária da área, devido à falta de recursos humanos e materiais. Com o aumento de violência nos distritos da zona norte da província, a situação da exploração ilegal aumentou, alguns chegando mesmo a usar a via de Mtwara durante o período da noite. (Omardine Omar e Paula Mawar)
A população residente na aldeia de Quelimane, no povoado de Camalinga, no distrito de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, voltou a viver episódio de terror, protagonizado por um grupo ainda desconhecido que, há quase dois anos, vem aterrorizando os distritos da zona norte daquela província.
Segundo apurou a nossa equipa de reportagem, na tarde da última terça-feira (27 de Agosto), uma viatura da marca Toyota, modelo Land Cruiser, pertencente a um empresário local, conhecido nos meandros empresariais por John Loca, foi atacada pelos insurgentes, tendo sido decapitado, conjuntamente com o seu amigo. As fontes contam que as vítimas terão sido surpreendidas com uma rajada de tiros, provenientes dos dois lados da via.
Fontes residentes naquele distrito contam ainda que, na passada segunda-feira, um líder comunitário terá sido decapitado na aldeia Uló. A vítima, segundo apurámos, apanhou a morte, quando se deslocara àquele local à busca de produtos alimentares.
Entretanto, por outro lado, fontes militares afiançam que, no último sábado, um jovem empresário de “sucessoʺ e também natural de Mocímboa da Praia, de nome Aly Nuro, foi detido pela Polícia por, supostamente, estar ligado aos insurgentes. (Omardine Omar)
Os insurgentes desencadearam mais uma incursão em Macomia e decapitaram 5 pessoas no posto administrativo de Mucojo. Quatro delas, todos pescadores, naturais e residentes na aldeia Nacutuco, foram decapitadas quando regressavam de mais uma actividade piscatória, por volta das 13 horas desta terça feira, no troço Pangane-Nacutuco. Fontes de “Carta” indicam que as vítimas são trabalhadores de um comerciante de nome Momade Mansuli, natural de Olumboa, e residente há longos anos na aldeia Pangane.
Os corpos foram descobertos por populares que passavam pelo mesmo caminho horas depois. Apenas três km distam Pangane de Nacutuco. A quinta morte, também por decapitação, foi registada nas proximidades da aldeia Simbolongo, no mesmo posto administrativo de Mucojo. A vítima é um senhor que estava a cortar palha para sua palhota nas imediações daquela aldeia. Foi surpreendido e, logo, barbaramente decapitado, segundo fontes. (Carta)
Organizações da sociedade civil moçambicana consideraram este domingo, em comunicado, que os ataques armados em Cabo Delgado, norte do país, estão a provocar um círculo vicioso de aumento de pobreza e maior atracção de jovens por movimentos violentos.
"A intensificação do conflito militar com os protagonistas dos ataques armados agrava os níveis de pobreza na província, tornando muitos jovens capturáveis por movimentos violentos, alimentando-se de um círculo vicioso", lê-se no documento intitulado Declaração de Pemba, capital da província.
O documento reúne as conclusões de um seminário realizado na sexta-feira, em Pemba, sobre "conflitualidade humana na exploração de recursos naturais na província de Cabo Delgado". As organizações consideram haver uma exploração "caótica" de recursos naturais, "num cenário que começou por ser de ausência do Estado e de oportunismo generalizado".
Desde 2017, o cenário agravou-se com o início de ataques armados a aldeias por parte de grupos de inspiração islâmica, mas sem outros objectivos declarados, além da prática criminal. Os participantes consideram que o Governo moçambicano deve eliminar os obstáculos de acesso à informação a jornalistas, investigadores e cidadãos em geral nos locais onde há conflitos derivados da exploração de minas ou outros recursos naturais.
O documento sugere ainda que as autoridades façam uma revisão da estratégia de actuação militar, capacitando os militares em matérias de direitos humanos e outras formas de relacionamento com os cidadãos.
A declaração é subscrita pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz (CEJP), União Provincial dos Camponeses (UPC) de Cabo Delgado, Departamento de Ética, Cidadania e Desenvolvimento da Universidade Católica, Observatório do Meio Rural, organização Sekelekani, Centro de Integridade Pública, e Justiça Ambiental.
De acordo com números recolhidos pela Lusa, a onda de violência em Cabo Delgado, desde 2017, já terá provocado a morte de cerca de 200 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança.
Os ataques ocorrem na região onde se situam as obras para exploração de gás natural nos próximos anos. O grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico anunciou pela primeira vez, em Junho, estar associado a um dos ataques. (Lusa)
Duas pessoas, ambas do sexo masculino, residentes na aldeia Machava, que dista a 30 km da vila-sede do distrito de Nangade, foram assassinadas, na última sexta-feira, uma acção atribuída aos malfeitores que aterrorizam alguns distritos da província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017.
Fontes da “Carta” asseguram que o facto se deu por volta das 15 horas e que as vítimas foram atingidas por tiros, quando regressavam do seu cajual, onde se pulverizara suas árvores, em resultado da campanha em curso.
De acordo com dados fornecidos à “Carta”, a acção aconteceu numa zona atravessada por um riacho, próximo ao local onde os malfeitores queimaram um tractor agrícola carregado de castanha, em Novembro do ano passado. Uma das vítimas supõe-se que seja professor da escola primária local.
Outro ataque reportado à “Carta”, também atribuído ao mesmo grupo, deu-se na própria vila do distrito de Nangade, concretamente, no bairro V Congresso, tendo resultado na morte de três pessoas, não havendo precisão do sexo e idade das vítimas.
O episódio, que aconteceu pela terceira vez naquele distrito, no presente mês, aconteceu por volta das 18 horas do mesmo dia (sexta-feira). (Carta)
Nos últimos oito meses, o Aeroporto Internacional de Maputo tornou-se num local de apreensão constante de drogas pesadas, entre elas, a heroína, cocaína, metafetaminas e, na última semana (15 de Agosto), de 70,6 quilogramas de “mira-seca”, um tipo de droga pouco comum no país.
A informação da apreensão da “mira-seca” foi partilhada, na última terça-feira (20), pelo Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), em mais um comunicado de imprensa semanal, método encontrado pela corporação para “fugir” das habituais questões incómodas dos jornalistas, a que estava submetida a cada terça-feira.
No comunicado, a PRM refere que a droga desembarcou num voo doméstico, mas sem especificar a proveniência. Acrescentou ainda que não conseguiu identificar o proprietário da bagagem, durante o desembarque.
Saliente-se que o tráfico de drogas, no país, já levou o Escritório das Nações Unidas Sobre Crime e Drogas (UNODC), a direccionar a sua atenção e recursos para o país, devido à preferência das organizações internacionais de crime transfronteiriço em usar Moçambique como corredor de drogas, sobretudo heroína e cocaína, proveniente do Afeganistão e outros países asiáticos, conforme constatou uma investigação da Organização Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI TOC), divulgada em Abril do presente ano.
Sublinhe-se ainda que, nos últimos oito meses, mais de 200 quilogramas de cocaína, heroína e outras drogas foram apreendidas em diferentes pontos do país, com maior destaque para o Aeroporto Internacional de Maputo, onde já foram detidos em flagrante cidadãos brasileiros, norte-americanos, canadianos, tanzanianos e outros. (Omardine Omar)