Populares acusam os militares de terem baleado mortalmente dois operadores de táxi mota, a menos de um quilómetro do quartel das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), no bairro Maringanhe, na cidade de Pemba, em Cabo Delgado. Os corpos das vítimas foram encontrados na manhã da passada quinta-feira (10).
As vítimas, de 22 e 27 anos de idade, foram baleadas na madrugada do mesmo dia por indivíduos desconhecidos, mas a população local suspeita que tenham sido mortos por militares, os únicos que podem circular com armas naquele raio.
"Não se chega àquela zona de qualquer maneira, então a informação que temos aqui é que esses dois homens foram baleados por militares. Disso não temos dúvidas. Acho que não queriam pagar o serviço de táxi, então nessa discussão acabaram matando", disse um residente local, explicando que o segundo moto-taxista foi baleado cerca de 300 metros do local onde iniciou a discussão.
"Tudo indica que, quando mataram o primeiro, o segundo moto taxista começou a fugir e, vendo que este podia denunciá-los, os soldados perseguiram-no e mataram-no também", acrescentou outro residente.
Os corpos das vítimas permaneceram ao ar livre e foram evacuados por volta das 13h00 por uma equipa multi-sectorial liderada pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) que até ao momento não se pronunciou.
Em Maringanhe, embora os residentes considerem uma zona calma em termos de criminalidade, há relatos de violações sexuais e violação de direitos humanos protagonizados pelos militares.
“Recentemente, um militar foi encontrado a violar sexualmente uma menina numa casa inacabada. Nós só ouvimos gritos e quando chegamos encontramos os dois. Os familiares da menor bateram no militar que foi salvo pela polícia comunitária", narrou outro residente de Maringanhe.
As nossas fontes apelam às autoridades a intensificar a educação patriótica dos membros das Forças de Defesa e Segurança para ter a mesma postura dos soldados ruandeses.
O suposto envolvimento dos membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique nos dois baleamentos em Maringanhe aconteceu cerca de duas semanas depois da visita do ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, às obras do hospital militar em construção naquele bairro.
A Polícia da República de Moçambique já está no terreno para investigar o caso e promete pronunciar-se dentro em breve. (Carta)
O enchimento de urnas não é novidade, mas foi muito mais descarado e aberto nesta eleição em comparação com eleições passadas. Os observadores da União Europeia testemunharam o enchimento de urnas em seis províncias, disse a observadora-chefe Laura Ballarin Cereza, em conferência de imprensa, na sexta-feira.
E os observadores nacionais observaram enchimento de urnas em 10% das assembleias de voto visitadas na Zambézia, que novamente é a pior província. Observadores na Zambézia relataram muitos presidentes com pilhas de boletins de voto já arrancados do livro de votos, prontos para serem entregues a pessoas seleccionadas que irão preencher vários boletins de voto para a Frelimo e depois dobrá-los.
Num exemplo particularmente óbvio, o Presidente da Mesa de Voto deu três boletins de voto adicionais a um eleitor que depois se dirigiu à cabina de votação, mas o eleitor regressou ao Presidente da Mesa para pedir mais um boletim de voto extra. Todos foram colocados nas urnas.
Noutro caso, o presidente foi instruído a entregar boletins de voto adicionais a um director de escola que fosse mais antigo no partido. Mas, noutra Assembleia de Voto, um director de escola queixou-se de não terem recebido boletins de voto adicionais suficientes. Contudo, nem todos os presidentes acertaram. Numa assembleia de voto, eleitores furiosos rasgaram os boletins de voto extra que receberam.
E os observadores relataram que eleitores com pastas e telefones entraram nas cabines de votação. Diz-se que as pastas contêm boletins de voto extras e o telefone serve para tirar foto dos boletins de voto, para que a pessoa possa ser paga. Para evitar isso, os celulares não são permitidos nas cabines de votação, mas os funcionários nunca se opõem.
Todos esses casos foram vistos e relatados por observadores. Não há mais nenhuma tentativa de manter em segredo o enchimento das urnas. Em três assembleias de voto onde os delegados da oposição se opuseram, a polícia foi chamada e os delegados decidiram não continuar o seu protesto. (Joe Hanlon)
Quase todas as 30 empresas petrolíferas que importam e distribuem combustíveis em Moçambique estão afectadas pela grave escassez de moeda externa no sistema bancário nacional. O facto ameaça a normal distribuição de produtos petrolíferos nos próximos tempos em todo o país, gerando uma crise na economia.
Com a escassez de divisas, as empresas enfrentam sérias dificuldades para importar combustíveis ou mesmo emitir garantias bancárias para o efeito. Dados na posse da “Carta” indicam que, até meados de Outubro corrente, há combustíveis em terminais oceânicos avaliados em 120 milhões de USD em financial hold. Isto é, os produtos são descarregados e retidos, mas não são tomados pela empresa distribuidora que encomendou por falta de pagamento ou exibição de garantia bancária.
Das cerca de 30 empresas afectadas pela escassez de divisas, está a Puma Energy que há dias informou os seus clientes sobre a possibilidade de diminuir o fornecimento aos seus clientes.
“Devido a circunstâncias fora do nosso controlo, lamentamos informar que estamos a enfrentar dificuldades consideráveis na importação de produtos combustíveis, em virtude da grave escassez de moeda estrangeira disponível nos bancos comerciais”, informou a empresa em carta a que o Jornal teve acesso.
Segundo a Puma Energy, a obtenção de garantias bancárias necessárias para assegurar nossas aquisições de combustível tem-se revelado extremamente desafiadora. “Como consequência, as nossas importações foram impactadas, e este cenário pode, eventualmente, resultar em ajustes temporários no fornecimento aos nossos clientes”, lê-se na carta.
Contudo, a companhia garante envidar todos os esforços para minimizar o impacto desta situação e manter contacto constante com as partes interessadas relevantes, incluindo bancos e o Governo. Caso não haja melhorias no acesso a divisas, a Puma Energy diz que será inevitável uma reavaliação das suas operações, incluindo o volume de vendas.
A escassez de divisas no sistema bancário agravou-se quando o Banco de Moçambique parou de comparticipar na factura de importação de combustíveis em finais de Maio de 2023, para além dos efeitos da crise pandémica, do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e no Médio Oriente. (Evaristo Chilingue)
Mais de 500 vice-presidentes das Mesas de Votação estão agastados com a forma como o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) processa o pagamento dos subsídios. Segundo relatos, muitos MMV estão desde sábado a tentar receber os seus pagamentos, mas sem sucesso devido à morosidade do processo.
“Sinto-me muito triste com toda esta situação. Trabalhamos muito, mas não está a ser fácil receber o nosso dinheiro. Há muita lentidão no processo, e são apenas duas pessoas realizando pagamentos para mais de 500 Vice-Presidentes de Mesa de Votação. Eles dizem que o processo termina hoje, domingo, para este grupo, mas do jeito que as coisas estão, vamos dormir aqui”, relatou uma das fontes, que preferiu não ser identificada.
Outro MMV contou à “Carta” que muitos colegas que chegaram ao Instituto Industrial da Matola, local escolhido para o pagamento dos subsídios, nas primeiras horas (entre 04 e 09 horas), mas ainda não receberam os seus valores porque a fila não avança.
“Cheguei às 07h00, mas até agora, 17h00, ainda não tive o meu subsídio. Aqui entra quem tem 100 Mts para subornar os polícias e passar para frente. Mas daqui não saio sem o meu valor, vivo muito longe e não foi fácil chegar aqui”, relatou outra fonte.
Mais adiante, conversamos com outra fonte, que já estava com a voz rouca de tanto gritar para exigir aquilo que é seu por direito. “Cheguei a este local às 07h00, não levei comida porque não sabia que estaria aqui até às 15h00. A fila não anda, muitos MMV que chegam vão entrando mediante pagamento de suborno, e nós, que não temos nada, somos obrigados a aguentar a fila. Há relatos de colegas que saíram deste local ontem por volta das 20h00 e acabaram sendo assaltados e tiveram os seus subsídios roubados. Então, eu penso que isso é propositado, para chegarmos às nossas casas sem nada”.
Cármen Maoche, residente na Machava, lançou um grito de socorro. “Pedimos socorro às autoridades competentes. Trabalhamos duro, mesmo nas formações não tínhamos subsídio de alimentação e de transporte. Mas não podíamos faltar, pois, seríamos substituídos. Aguentamos tudo isso na expectativa de que receberíamos o nosso dinheiro sem todos esses constrangimentos. Trabalhamos para eles e agora temos que chorar para que nos paguem”.
Entretanto, “Carta” tentou ouvir o Secretariado de Administração Eleitoral (STAE) da Matola, que prometeu reagir esta segunda-feira. (M. Afonso)
O Director Provincial do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) em Nampula, Luís Cavalo, confirmou, sexta-feira (11), a detenção pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal de cinco funcionários daquele órgão ao nível do distrito de Nampula, por desvio de mais de um milhão de meticais. Parte deste valor já foi recuperado.
Cavalo explicou que o montante desviado por cinco funcionários, incluindo o Director Distrital do STAE em Nampula, destinava-se ao pagamento de cerca de 300 Membros de Mesa de Voto envolvidos no processo eleitoral de 9 de Outubro.
Segundo anunciou a fonte, para pagar os 300 Membros de Mesa de Voto, o STAE terá que recorrer a parceiros. Refira-se que o caso foi despoletado depois de os MMV terem decidido manifestar-se junto às instalações do STAE distrital exigindo o pagamento dos seus subsídios. (Carta)
Está, mais uma vez, aberta a guerra dos editais entre os concorrentes e os órgãos eleitorais nas eleições moçambicanas. Depois de, em 2023, a Renamo ter reclamado vitória em mais de duas dezenas de autarquias, com recurso a cópias dos editais, agora é a vez de Venâncio Mondlane e o PODEMOS desafiarem os órgãos eleitorais a provarem com que base estão a declarar a vitória da Frelimo e do seu candidato presidencial nas eleições de 09 de Outubro próximo.
No último sábado, o candidato presidencial suportado pelo PODEMOS (Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique) divulgou mais de cinco centenas de cópias de editais do apuramento parcial dos resultados da votação do dia 09 de Outubro de 2024, no âmbito das VII Eleições Gerais e IV Provinciais. Os dados estão disponíveis no Google drive.
O apuramento parcial, lembre-se, resulta da contagem dos votos depositados na urna de cada Mesa de Voto. Os editais, que na sua maioria dão vitória a Venâncio Mondlane, nas eleições presidenciais, e ao PODEMOS, nas eleições legislativas, são referentes às províncias de Inhambane, Sofala, Zambézia, Tete, Manica, Nampula, Cabo Delgado, Maputo Cidade e Maputo Província.
Desde a tarde de quinta-feira (24h após a votação) que Venâncio Mondlane tem defendido ter ganho as eleições presidenciais (e o PODEMOS as eleições legislativas) da última quarta-feira, embora os resultados oficiais apontem para a vitória de Daniel Chapo, candidato suportado pela Frelimo, partido no qual ocupa o cargo de Secretário-Geral.
Até ontem, a contagem paralela de Venâncio Mondlane apontava sua vitória com 53%, em todo país, à frente de Daniel Chapo, que conta com 39%. Ossufo Momade aparece na terceira posição com 5% e Lutero Simango na última com 3%. O nível de processamento era de 53,01%.
Do apuramento paralelo feito pela equipa de Venâncio Mondlane, Daniel Chapo, que é apontado vencedor das eleições presidenciais, pelos órgãos eleitorais, venceu em apenas três províncias, nomeadamente, Inhambane, Niassa e Gaza.
Em conferência de imprensa concedida na última sexta-feira, Mondlane defendeu que algumas Comissões Distritais de Eleições não tinham, até aquele dia, condições para realizar o apuramento distrital, visto que não dispunham de editais de apuramento parcial, na medida em que houve empolamento de dados, quando o partido no poder se apercebeu da derrota eleitoral.
Em comunicação à nação, proferida na quinta-feira, através das suas plataformas digitais, Venâncio Mondlane disse que os órgãos eleitorais, em todo o país, ordenaram a interrupção da contagem dos votos e apuramento parcial dos resultados. “Até às 07h00 de hoje [quinta-feira], 99,9% do total das Mesas de Voto instaladas em todo o país não tinham os Editais fixados nos lugares de estilo junto às Assembleias de Voto. Houve impedimentos para isso”, denunciou.
Um dos casos, segundo Venâncio Mondlane, aconteceu na EPC 7 de Setembro, na Cidade de Maputo, onde o Presidente da Mesa de Voto nº 1 “escondeu mais de 200 votos para que não fossem contabilizados”, quando supostamente se apercebeu da derrota do partido no poder e do seu candidato presidencial. Na mesma escola, afirmou Mondlane, o Presidente da Mesa nº 2 simplesmente fugiu e, até às 13h desta quinta-feira, ainda não se havia feito a Acta e o Edital da votação.
Sublinhe-se que, em grande parte das Assembleias de Voto instaladas no Distrito Municipal de KaMubukwane, visitadas pela “Carta”, os Editais da votação não foram fixados para que os eleitores conhecessem os resultados. Em algumas Assembleias, os Membros das Mesas de Voto até abandonaram o material de votação, deixando a sua responsabilidade para os agentes da Polícia.
No entanto, resultados oficiais (não definitivos) indicam a vitória de Daniel Chapo e Frelimo em todas as províncias do país. Até ao fim de hoje, todos os órgãos eleitorais de nível provincial deverão divulgar os resultados do apuramento intermédio.
Lembre-se que, nas eleições autárquicas de 2023, os órgãos eleitorais declararam a vitória da Frelimo em 64 autarquias (excepto Beira que havia sido conquistada pelo MDM), apesar de indícios gritantes de viciação dos resultados. Em sede da validação e proclamação dos resultados, o Conselho Constitucional deu quatro municípios à Renamo, porém, ignorou as reclamações daquela formação política em mais de uma dezena de autarquias.
Aliás, uma contagem paralelas do Consórcio Eleitoral Mais Integridade confirmou a vitória da Renamo nas Cidade de Maputo e Matola, porém, a contagem foi ignorada pelo Conselho Constitucional, o órgão supremo da justiça eleitoral em Moçambique. (A. Maolela)
A Comissão Provincial de Eleições, a nível da Cidade de Maputo, divulgou, este domingo, os resultados intermédios da votação da passada quarta-feira, dando vitória a Daniel Francisco Chapo (da Frelimo), com 53,68% dos votos (obteve 204.117 votos), à frente de Venâncio António Bila Mondlane, que obteve 128.669 votos, correspondentes a 33,84%.
No entanto, dos dados tornados públicos no fim da tarde de ontem, chama atenção o facto de os votos nulos e brancos apurados pelos órgãos eleitorais aproximarem-se ao total de votos obtidos pelos candidatos Ossufo Momade e Lutero Simango, sendo que a diferença é de 1.303 votos.
De acordo com os números da Comissão Provincial de Eleições da Cidade de Maputo, nas eleições presidenciais, 17.234 votos foram considerados nulos, enquanto 28.916 eleitores depositaram votos em brancos, totalizando 46.150 votos inutilizados na capital do país, um número superior a capacidade do Estádio Nacional do Zimpeto, que tem capacidade para 42 mil espectadores.
O Presidente da Renamo, Ossufo Momade, obteve 36.560 votos, correspondentes a 9,62%, enquanto o Presidente do MDM, Lutero Simango, conseguiu 10.893, equivalentes a 2,86%. No total, os dois candidatos presidenciais conseguiram 47.453 votos, mais 1.303 em relação aos inutilizados pelos órgãos eleitorais.
A nível das eleições legislativas, os órgãos eleitorais inutilizaram um total de 16.991 votos, em resultado de 8.123 votos nulos e 8.868 votos em branco. Na urna, o MDM obteve 25.912 votos, o correspondente a 6,34% e a Renamo conseguiu 51.635, o equivalente a 12,62%. A Frelimo, dizem os órgãos eleitorais, venceu a eleição com 236.310 votos (57,78%), contra 83.963 (20,52%), conseguidos pelo PODEMOS.
Outro facto curioso nos dados da Comissão Provincial de Eleições da capital do país está na diferença do número de votantes nas duas eleições. Nas eleições presidenciais, votaram um total de 426.389 votantes, o correspondente a 63%, enquanto nas legislativas votaram um total de 425.992, o equivalente a 62,95%. No entanto, no acto da votação, os eleitores são entregues, ao mesmo tempo, os dois boletins de voto, referentes à eleição presidencial e à eleição legislativa.
Segundo a Presidente da Comissão Provincial de Eleições da Cidade de Maputo, os dados foram aprovados na tarde deste domingo, por consenso, numa sessão que contou com a presença dos mandatários da Frelimo, Renamo, Nova Democracia e PODEMOS. Igualmente, contou com a presença dos observadores eleitorais da União Europeia.
Refira-se que a inutilização de votos é uma estratégia já antiga dos órgãos eleitorais para reduzir votos da oposição. Em 2023, por exemplo, os órgãos eleitorais inutilizaram, nas autarquias de Maputo e Matola, 33.782 votos, dos quais 12.158 votos (8.849 votos nulos e 3.309 em branco), na Cidade de Maputo, e 21.624 votos (18.504 votos nulos e 3.120 votos em branco), na autarquia da Matola.
Aliás, comparativamente às eleições autárquicas, o número de votos inutilizados, na Cidade de Maputo, subiu em 33.992 votos. Isto é, perto de 34 mil eleitores deslocaram-se às urnas em vão, um número suficiente para lotar o Estádio da Machava. (A. Maolela)
A Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, deteve, na última quarta-feira (09), dez cidadãos por prática de ilícitos eleitorais, enquanto decorria a votação. A porta-voz da PRM em Nampula, Rosa Nilza Chaúque, avançou esta quinta-feira que os ilícitos foram registados nos distritos de Nampula, Nacarroa, Nacala, Monapo e Rapale.
"Tivemos dez casos de ilícitos eleitorais, sendo dois de tentativa de introdução de boletins preenchidos nas urnas. Tivemos também cinco casos de tentativa de destruição de boletins. Os ilícitos foram registados na cidade de Nampula e nos distritos de Eráti, Nacarroa, Nacala, Monapo e Rapale" avançou a fonte.
Acrescentou que, nos casos em que a Polícia disparou, fê-lo para manter a ordem e segurança pública, contudo apelou às partes interessadas para que se mantenham nas suas residências aguardando pela divulgação dos resultados. (Carta)
Em alguns estabelecimentos de ensino, em que estiveram a funcionar as Assembleias de Voto, os alunos ficaram privados de aulas porque as salas ainda continuavam ocupadas na manhã de ontem, quinta-feira, pelos agentes eleitorais.
"Carta" foi à rua às 05h00 para obter alguns resultados parciais colados nas salas pouco depois do término da contagem de votos por parte dos Membros das Mesa de Voto (MMV) e constatou que o processo de apuramento ainda estava a decorrer.
“Eu vim para dar aulas, até cheguei um pouco atrasado, mas algo me dizia que hoje não teria como dar aulas e é o que estou a constatar, tendo em conta que os MMV ainda estão nas salas e outros ainda nem terminaram de apurar os resultados da votação. Não tenho outra opção a não ser aguardar e arranjar um dia para compensar as aulas perdidas”, explicou um dos professores de Língua Portuguesa que falou na condição de anonimato.
O cenário era o mesmo em quase todas as escolas, nomeadamente, na EPC África Amiga, EPC Canhine, EPC do 3° Bairro, EP1 do 4° Bairro, Escola Secundária Ngungunhane e Hluvukane EP2.
Por outro lado, nas escolas onde as cópias das actas já tinham sido coladas, boa parte voava de um lado para outro porque a cola utilizada para fixar o material ia perdendo força. Quando se esperava que as aulas seriam retomadas no período da tarde, os poucos alunos que decidiram ir à escola encontravam-se do lado de fora das salas de aula, colocando o papo em dia, dando a entender que praticamente foi mais um dia perdido.
Pelo menos em oito escolas, os alunos não tiveram aulas pelo segundo dia consecutivo, sem esquecer que na quarta-feira foram obrigados a ficar em casa devido ao processo de votação. (Marta Afonso, em Chókwè)
A Sala da Paz, grupo de organizações de observadores eleitorais, alertou ontem para “casos significativos” de ilícitos nas eleições de quarta-feira em Moçambique que colocam em causa a credibilidade do processo, mas pediu que os concorrentes aceitem os resultados.
“A Sala da Paz considera que a fase de contagem e apuramento dos resultados ao nível das mesas de votação decorreu de forma pacífica e ordeira. No entanto, registaram-se igualmente casos significativos de ilícitos e irregularidades eleitorais que podem sustentar questionamento sobre a credibilidade do processo”, refere o organismo, num informe do processo de contagem e apuramento parcial dos resultados, enviado à comunicação social.
O informe dos observadores da Sala da Paz reporta incidências registadas a partir das 20:00 de quarta-feira e até às primeiras horas de ontem, tendo sido visitadas 3.549 mesas em todas as províncias moçambicanas.
Os observadores eleitorais apontaram cortes sistemáticos de energia elétrica, exatamente no período de contagem de votos, indisponibilidade de material (lanternas, giz e quadros), reforço da segurança policial, detidos com boletins de voto preenchidos e a demora e não fixação de editais em algumas assembleias de voto como alguns problemas verificados na eleição de quarta-feira e que se tem verificado também em escrutínios anteriores.
“Regista-se um momento tenso na vila de Moatize, [em Tete, no centro de Moçambique], onde populares montaram barricadas, alegadamente para contestar os resultados do apuramento parcial. A Polícia está no terreno e lançou gás lacrimogéneo para atenuar a agitação. No entanto, o ambiente continuava tenso até as 10:40 de hoje [quinta-feira]”, lê-se ainda no documento.
Apesar dos ilícitos e irregularidades verificadas, a Sala da Paz pediu que os concorrentes às eleições gerais aceitem os resultados e que os moçambicanos aguardem “tranquilamente” a sua divulgação, adotando uma postura de “serenidade e não-violência”.
“Apelamos a todos os concorrentes eleitorais a respeitarem o processo democrático, reconhecendo que as eleições são uma expressão da vontade do povo. É essencial aceitar os resultados como uma manifestação da escolha dos eleitores”, refere-se no informe.
A Sala da Paz garantiu que vai continuar a monitorizar o processo até à validação dos resultados pelo Conselho Constitucional, pedindo, também, que os órgãos de proteção exerçam as suas funções com “isenção e integridade”, obedecendo os parâmetros legais.
As eleições gerais de quarta-feira incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos - em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.
Concorrem nesta eleição à Presidência da República Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Daniel Chapo, com o apoio da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, e Ossufo Momade, com o apoio da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição).
A publicação dos resultados da eleição presidencial pela Comissão Nacional de Eleições, caso não haja segunda volta, demora até 15 dias, antes de seguirem para validação do Conselho Constitucional, que não tem prazos para proclamar os resultados oficiais após analisar eventuais recursos.
A votação incluiu legislativas (250 deputados) e para assembleias provinciais e respetivos governadores de província, neste caso com 794 mandatos a distribuir. A CNE aprovou listas de 35 partidos políticos candidatas à Assembleia da República e 14 partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores às assembleias provinciais. (Lusa)