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quarta-feira, 06 outubro 2021 07:12

O caos da falta de sinalização nas estradas e o sangue derramado por acidentes

 

A falta de sinais de trânsito, desde verticais até horizontais é um verdadeiro “caos” nas estradas nacionais. Esse facto tem contribuído para a ocorrência de acidentes de viação que continuam a mutilar e matar mais cidadãos nos últimos cinco anos. O Instituto Nacional de Estatística (INE) revela os números em relatório sobre acidentes.

 

Dados de 2020, da Autoridade Estatística Nacional indicam que Moçambique tem cerca de 30 616 km de estradas. Contudo, cerca de 73,0% da extensão de estradas não estão revestidas ou pavimentadas. As poucas revestidas não estão bem sinalizadas. Ainda assim, o parque automóvel aumentou drasticamente nos últimos cinco anos. De acordo com o INE, os veículos importados para o país passaram de 661 355 em 2015 para 1 112 855 em 2020, correspondendo a um aumento de 68,3%.

 

O “caos” da falta de sinalização nas estradas pode ser geral, mas o foco vai para a Estrada Nacional Número 1 (EN1), concretamente, o troço entre as cidades de Xai-Xai, província de Gaza e Maxixe, em Inhambane, uma distância de 284 km.

 

Durante uma viagem feita há dias, “Carta” constatou que, dentro do referido troço, o “caos” total verifica-se sobremaneira entre a vila de Quissico, no distrito de Zavala, até Maxixe. Trata-se de uma distância de pouco mais de 160 km. Esta secção da EN1 é caracterizada por várias vilas e vilarejos. Geralmente, ao aproximar-se a essas zonas, o automobilista (com auxílio dos sinais) deve reduzir a velocidade até, em alguns casos, no máximo 60 km/h. Entretanto, saído desses locais, os sinais de trânsito também auxiliam o condutor a aplicar a velocidade aconselhável.

 

Entretanto, perante a escassez dos sinais, o automobilista é obrigado a adivinhar a velocidade a imprimir, por dirigir numa autêntica “escuridão”. É um “caos” que aparentemente passa despercebido aos olhos do Governo, concretamente, da Administração Nacional de Estradas (ANE).

 

O facto é que a falta de sinalização das estradas contribui em certa medida para a ocorrência de acidentes de viação. Embora nos últimos cinco anos os acidentes tenham diminuído, o número de vítimas e óbitos continuou a aumentar.

 

Dados publicados recentemente pelo INE em “Estatísticas de Acidentes de Viação, 2020”, indicam que, em 2020, o país registou 1 038 casos de acidentes, contra 2 848 contabilizados em 2015, uma redução em 63.6%.

 

 

A Autoridade Estatística sublinha que todas as províncias da região sul, Sofala e Nampula registaram maior frequência de acidentes, durante o período em análise. Em 2020, Maputo Cidade foi a província que mais acidentes registou, seguida por Gaza, Maputo Província e Nampula. Em contrapartida, Tete, Cabo Delgado e Manica registaram menos acidentes de viação.

 

Por efeito dos acidentes, nossa fonte refere que o número de vítimas registadas pela polícia tendeu a reduzir de 2015 para 2018, tendo a queda atingido os 64,8%. Entretanto, de 2019 para 2020, o cenário mudou, registou-se um aumento de vítimas em 20,5%.

 

O INE ilustra que, em 2019, o número de vítimas de acidentes situou-se em 2 078, mas no ano seguinte subiu para 2 504. “Em todo o período em análise registou-se uma tendência crescente de óbitos vítimas de acidente. As percentagens de feridos ligeiros e graves reduziram em 5,9 e 0,5 pontos percentuais de 2019 para 2020 respectivamente”, lê-se no relatório do INE.

 

A nossa fonte mostra que a percentagem de óbitos em relação ao total de vítimas de acidentes de viação registados subiu em 2019, de 33,6% para 40.1% em 2020. O número de óbitos pode a priori não parecer assustador, mas na essência é lastimável. É que em cada óbito, há pelo menos quatro membros de uma família que carregam o luto, choram, arcam custos com o funeral e/ou perdem alguém para sustentá-los. Além do óbito, as vítimas feridas, graves ou não, ficam com trauma, outras contraem deficiências, algumas graves e para o resto da vida.

 

Enfim, os acidentes são um mal que derrama sangue nas estradas do país e que a ANE pode ajudar a mitigar, sinalizando de como deve, a rede viária. (Evaristo Chilingue)

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