Cerca de 12 jovens provenientes de diferentes pontos de Moçambique e com uma arte em comum encontraram na arte de palha alternativa para fazer dinheiro e alimentar suas famílias diante do desemprego, pobreza, falta de oportunidades e outros problemas que enfrentam. Os 12 jovens produzem cadeiras, camas, cestos, chapéus, estantes, armários e outros bens todos feitos de palha. Adquirem o material no distrito de Mecufi e como têm uma licença de trabalho, passada pelo município, pagam mensalmente uma taxa de 720 meticais e neste momento pensam em apostar em novos desafios.
A actividade acontece no bairro Cerâmica, um dos mais pobres da autarquia de Pemba, na zona de Alto Gingone, com uma erosão extrema em que sempre que chove se registam deslizamentos de terra ou desabamentos de paredes das habitações precárias.
Foi lá onde encontramos Marcos Francisco Damião, natural de Mecanhelas, província do Niassa, que contou à nossa reportagem que migrou para Pemba ainda adolescente em busca de oportunidades, no ano de 2005, mas por falta de condições teve de se juntar a um ancião que já praticava a arte de palha e foi aprendendo.
Marcos Francisco Damião lamentou que, nos últimos meses, o fluxo de clientes caiu tendo em conta que os ataques e a Covid-19 retraíram o poder de compra de muitas famílias. Entretanto, o "mestre Damião", conforme é conhecido pelos colegas, explicou que nunca foram chamados para nenhuma feira em Pemba, mas tem ido a Nampula vender parte da sua produção.
Explicou ainda que em anos anteriores alguns turistas visitavam e requisitavam o seu atelier localizado ao ar livre na estrada que liga os bairros de Alto Gingone, Cáriaco, Chibwabwary e outros da autarquia de Pemba. Entretanto, embora o negócio não esteja a ser rentável, ele tem se dedicado porque é uma arte que gosta e ocupa-lhe.
A par de Marcos, está Almeida Martinho, natural de Nampula. Contou que começou a aprender a arte de palha em 2004, tendo chegado a Pemba para trabalhar primeiro como servente da mesma área, mas teve de voltar para Nampula devido a questões familiares. Mais tarde veio abraçar a arte de palha activamente a partir de 2010. Martinho disse que espera que, depois da restauração da paz em Cabo Delgado e do fim da pandemia, o negócio poderá vir a tornar-se rentável.
Questionado se já terá recebido algum incentivo das autoridades governamentais, respondeu que nunca houve nenhum apoio, à excepção de promessas de turistas estrangeiros que no passado chegavam a pagar por peça artística valores monetários que partiam de 6 mil meticais, mas hoje podem ficar um mês sem nenhum cliente.
Mas enquanto isso acontece, Almeida Martinho e os companheiros de luta sonham em abrir uma associação que ensine as crianças órfãs e deslocadas de guerra a arte de palha para o seu sustento e para o seu autoemprego.
Explicou que, nos próximos dias, o desafio consiste em juntar a documentação para legalizar a mesma e começar a desenvolver projectos em zonas que anteriormente foram vítimas de ataques ou mesmo em centros de acolhimento.
Os entrevistados explicaram que a pobreza, o desemprego e a falta de escolaridade que se vive em bairros como Cerâmica, em Pemba, faz com que muitos jovens se entreguem à delinquência, daí que a partir de uma associação podem aprender uma profissão e resistir serem aliciados para integrar grupos terroristas. (Omardine Omar)