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sexta-feira, 01 outubro 2021 07:04

Artistas plásticos e artesãos dizem estar a “viver momentos críticos” com a Covid-19

Os artesãos e artistas plásticos dizem estar a viver um “momento crítico” por falta de apreciadores e compradores de arte, devido aos efeitos causados pela pandemia da Covid-19. Em conversa com a “Carta”, os fazedores da arte afirmaram que chegam a ficar mais de um mês sem vender qualquer artigo, o que faz com que a sua sobrevivência se torne cada vez mais difícil.

 

Luís Balate, artesão e vendedor na Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo (FEIMA), revela que as coisas estão “péssimas” para si e seus colegas. “A maioria dos nossos clientes vem do estrangeiro e, com essa pandemia que veio reduzir as viagens e o turismo, a situação dos artesãos tornou-se crítica. Por vezes saímos para fazer a exposição fora, mas não passa disso porque não conseguimos vender sequer uma obra e nem conseguimos contactos de possíveis clientes que possam vir comprar algo”, disse.

 

“Perante esta situação, nós estamos descontentes, tivemos de nos adaptar e reduzir as nossas contas em casa. Se antes comprávamos quatro pães, hoje somos obrigados a dividir um pão com os nossos filhos para conseguirmos comer. Por vezes, somos obrigados a sair do FEIMA e levar os nossos produtos em que os nacionais podem comprar como brincos, pulseiras para mercados locais, como Xipamanine e Janete, onde somos obrigados a vender a um preço mais baixo”, sublinha.

 

Ana Sueia, também vendedeira do FEIMA, confirmou haver poucos clientes naquele mercado de artes e que, nos últimos dias, chegam a ficar mais de duas semanas sem receber qualquer cliente que queira adquirir seus produtos.

 

“Aqui, a maioria de nós está em problemas com o pessoal administrativo, porque estamos há meses sem conseguir pagar o aluguer das bancas, que varia de 400 a 600 Meticais por mês. Há dias em que eles optam em nos vir expulsar e noutro dia perdoam-nos e nos deixam continuar a vender mesmo sem dinheiro para pagar a renda porque percebem que temos falta de compradores”, revelou.

 

Já António Sambo, de 49 anos de idade, pai de quatro filhos, disse que já pensou em desistir daquela actividade, mas não sabe o que pode fazer além da arte. “Cada dia que passa, acordo e venho aqui no FEIMA apenas para sentar. Se aparecer um cliente, vai comprar e se não aparecer voltamos para casa assim de mãos abanadas. Estamos a viver mal, não recebemos apoio de ninguém, muitas vezes não temos dinheiro nem para comprar 5 Kg de arroz. Há meses em que fico 30 dias sem vender sequer uma obra. As bancas estão a cair e nem conseguimos repor o nosso stock. Estamos a trabalhar mal”, conta.

 

“Anteriormente, conseguíamos vender e pagar a renda das bancas sem nenhum problema. Chegávamos a fazer pouco mais que um salário mínimo numa semana, mas agora acabo um mês inteiro sem pegar sequer 5.000 Meticais. Ultimamente, tenho dificuldades de pagar água, comprar energia entre outros”, afirmou.

 

Já Teresa António Tembe, 32 anos de idade, vendedeira de roupas de capulana, afirma que nesta pandemia não tem recebido clientes e só vai ao FEIMA para garantir a sua banca, porque tem esperança de que tudo isso vai passar e as coisas vão voltar a ser como eram antes.

 

“Não consigo clientes nos últimos dias e o que tenho feito é levar parte do salário do meu esposo pagar a banca. As vendas caíram bastante. Antes da pandemia, eu conseguia vender 5.000 Meticais diário, mas agora fico duas a três semanas sem vender sequer 100 Meticais”, sublinha. (Marta Afonso)

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