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quarta-feira, 26 agosto 2020 14:48

Ataque ao Semanário Canal de Moçambique: Condenação, Condenação, Condenação….

O passado domingo terminou de forma trágica para o sector da comunicação social, em Moçambique. Foi reduzida a cinzas, a meio da noite, a Redacção do semanário independente “Canal de Moçambique”, sediada no centro da capital moçambicana, Maputo. Indivíduos, até aqui a monte, arrombaram as instalações daquele órgão de comunicação social e, de seguida, atearam fogo, que só veio ser debelado pelo Serviço Nacional de Salvação Pública (SENSAP). No local foram encontrados dois bidões de combustível, de 20 litros cada, que se acredita terem sido usados pelos malfeitores durante a acção.

 

“Carta de Moçambique” falou, esta segunda-feira, com o porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), a nível da cidade de Maputo, Hilário Lole, para quem é prematuro avançar com qualquer informação relacionada com o processo investigativo. O caso foi remetido à 6ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique.

 

Ainda ontem, o Chefe da Redacção do “Canal de Moçambique”, André Mulungo, garantiu que o diário electrónico, o “Canal Moz”, não vai conhecer qualquer interrupção no processo de produção, deixando, igualmente, a certeza de que o Semanário Canal de Moçambique estará nas bancas logo às primeiras horas da próxima quarta-feira.

 

Entretanto, as reacções em torno do atentado àquele semanário não se fizeram esperar. A condenação e cepticismo no que à responsabilização dos autores morais e materiais do ataque àquele jornal diz respeito foram o denominador comum.

 

“Vil ataque contra o Canal de Moçambique”, MISA Moçambique

 

Para o MISA Moçambique, trata-se de um acto “vil”, “bárbaro” e “cobarde”, não merecedor de um outro posicionamento senão condenatório e nos termos mais gravosos. O ataque, anota a organização, está inserido numa estratégia global levada a cabo pelos sectores retrógrados da sociedade, cujo objectivo é reverter o processo democrático no país, daí o atentado às liberdades de imprensa e expressão.

 

O Director Executivo do MISA-Moçambique, Ernesto Nhanale, disse não ter dúvidas que o sucedido demonstra um descompromisso total dos detentores do poder com a protecção das liberdades. Nhanale anotou que vislumbrava dias difíceis para a imprensa independente no país, vincando, no entanto, que ela não se deve deixar desfalecer.

 

Para o Director Executivo do MISA-Moçambique, o acto ignóbil de que foi vítima o Canal de Moçambique é um teste à firmeza da imprensa independente. “A imprensa independente vai ter um futuro muito complicado, mas ela não se pode desfalecer. Está a ser testada a sua firmeza. Estamos a ser tentados, mas há uma coisa importante que tem de manter as pessoas em pé: é a consciência de que o que estão a fazer é para um bem maior. A imprensa independente sempre foi a vanguarda das liberdades de imprensa e de expressão aqui em Moçambique”, disse Ernesto Nhanale.

 

Sobre a responsabilização dos presumíveis autores, Ernesto Nhanale reagiu nos seguintes termos: “eu não acredito. E isso não é bom. A partir do momento que um cidadão passa a não acreditar nas instituições do seu Estado, esse Estado tem de rever. Eu pessoalmente não acredito a não ser que nos surpreendam. Talvez até nos podem surpreender com uma mentira. Eu não acredito até no que vão dizer. Não acredito. Até não confio no que eles vão dizer. Eles (órgãos de justiça) têm muito a fazer para devolver a sua credibilidade”.

 

“Visa silenciar o Canal de Moçambique”, SNJ

 

O Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) não se coibiu de emitir o seu posicionamento à volta do sucedido. Na pessoa do Secretário-Geral, Eduardo Constantino, disse que o ataque não visa outra coisa senão silenciar o Canal de Moçambique. Mas, mais do que silenciar aquele órgão de comunicação social, o atentado deve ser encarado como um sinal inequívoco de intimidação à imprensa moçambicana no seu todo, por isso, merecedor de uma vigorosa condenação.

 

“Nós condenamos de forma mais vigorosa o ataque à redacção do jornal Canal de Moçambique. Aquilo visa, sobretudo, silenciar o Canal de Moçambique e não só. É um sinal claro de intimidação a toda a imprensa moçambicana”, disse Eduardo Constantino.

 

Eduardo Constantino avançou ainda que, durante a visita que efectuara à Redacção daquele órgão, disponibilizou as instalações do SNJ para, a título gratuito, querendo, o Canal de Moçambique instalar o seu “quartel-general”.

 

O Secretário-Geral do SNJ avançou que, com estes actos, se está a tentar colocar em causa as liberdades de expressão e de imprensa que foram, tal como disse, conquistadas “com muito sacrifício”.

 

Adiante, tendo em conta os últimos acontecimentos, Eduardo Constantino mostrou preocupação com relação ao actual estado de coisas, mostrando reservas quanto ao futuro da classe. Aliás, Constantino chegou mesmo a afirmar que a se manter o actual quadro adivinhava-se um “futuro complicado”.

 

“Estamos muito preocupados pela forma como as coisas estão a andar. Não sabemos como será o nosso futuro como profissionais da comunicação social. A ser assim, temos um futuro complicado e nós não gostaríamos que chegássemos a esse extremo”, anotou.

 

Noutro desenvolvimento, Eduardo Constantino exigiu que as autoridades da justiça desencadeiem uma investigação profunda e que os autores morais e materiais sejam identificados e responsabilizados pelos seus actos. (Ilódio Bata)

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