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segunda-feira, 17 fevereiro 2020 07:06

O regresso das escoltas militares para viajar no centro de Moçambique

Orlando Massianda acena com dois pepinos agarrados à mão para uma coluna de viaturas que passa a alta velocidade. Quer para tentar vender a quem passa a produção tradicional da família, numa região rural que recuou para o cenário de zona de guerra, no centro de Moçambique.

 

“Essa situação repete-se há várias semanas: os carros já não param para comprar o pepino, porque passam escoltados”, disse Orlando à Lusa, enquanto regressa a casa com as suas três peneiras cheias de pepinos.

 

“Esses pepinos, produzimos fugindo dos tiros. Um dia capinávamos e noutro não, por causa dos ataques”, acrescenta o camponês de 36 anos, que lamenta agora a falta de clientes.

 

As forças de defesa e segurança reativaram há quase dois meses as colunas de escoltas obrigatórias na N1, a principal estrada de Moçambique, no troço Muda Serração – Muxungue, para repelir os ataques de homens armados nas províncias de Manica e Sofala.

 

O troço é alvo de emboscadas a autocarros e viaturas de carga desde agosto, violência que a Polícia atribui à autoproclamada Junta Militar da Renamo, um grupo de dissidentes do maior partido da oposição que mantém entrincheirado naquela zona um número desconhecido de guerrilheiros. 

 

“Os carros passam a alta velocidade e ninguém quer arriscar a vida, parando para comprar pepinos ou carvão vegetal, que são a nossa fonte de sobrevivência”, reconhece Adriano Mafuca, camponês do povoado Chibuto 1, enquanto enfarda carvão vegetal num saco de rafia, que não sabe se terá um cliente.

 

Os “bazares de rua”, locais onde a população monta bancas nas bermas da principal estrada para vender produtos agrícolas da época ou bebidas tradicionais locais - à base de palmeiras e ervas silvestres -, agora viraram “lugares fantasma”.

 

Adriano Mafuca garante que nunca houve um ataque no “bazar de pepinos”.

 

Mas uma paragem de um motorista seria uma desobediência às ordens da escolta, cuja introdução pretende também cortar a logística do grupo de atacantes, que é abastecido através da principal estrada.

 

“Os negócios pioraram com a introdução das escoltas. Os carros passam duma única vez [escoltados nas quatro passagens diárias de ida e volta] e depois fica tudo em silêncio”, observa Maria Majude, uma camponesa de Chipue, uma aldeia esquálida pela fuga dos habitantes e comerciantes, junto a N1.

 

Pelo menos cinco posições policiais e acampamentos com viaturas de patrulha e motas existem agora no troço Muda Serração - Muxungue, tais como os de Chibuto 1 e Mutindiri 2, onde esta semana as colunas escoltadas pelas forças policiais foram metralhadas por duas vezes.

 

Para Paulo Cristóvão, um camionista que a Lusa encontrou numa fila que espera pela coluna e que faz a viagem no troço todas as segunda e terças-feiras, as escoltas reduziram a insegurança na rodovia, mas ainda não conseguiram conter os ataques de grupos armados na região.

 

“As escoltas travaram um pouco a insegurança, mas ainda ontem uma viatura foi atacada dentro da escolta, embora sem feridos”, disse à Lusa Paulo Cristóvão, que lamenta atrasos nas escoltas.

 

Os novos ataques na região já provocaram 22 mortos desde que se iniciaram a 6 de agosto, depois de anunciado um acordo de paz entre o Governo e a Renamo, contestado por guerrilheiros deste partido, que reclamam melhores condições de desarmamento.(Lusa)

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