Os comerciantes da Área Metropolitana de Maputo (que inclui Maputo, Matola, Boane, Matola-Rio e Marracuene) ameaçam encerrar os seus estabelecimentos caso os manifestantes insistam em pressioná-los a reduzir os preços dos produtos de primeira necessidade.
Informações colhidas pela "Carta", logo nas primeiras horas, davam conta do bloqueio da Estrada Nacional N° 2, concretamente na ponte sobre o Rio Matola, protagonizado por um grupo de manifestantes, composto, maioritariamente, por jovens.
Em conversa com alguns comerciantes que se encontravam nos seus estabelecimentos [abertos de forma tímida], estes disseram que a queda dos preços não depende deles, mas sim dos fornecedores e de outros intervenientes na cadeia de negócios.
"Nós sofremos vandalizações durante o mês de Dezembro e grande parte dos nossos irmãos não conseguiram se reerguer; outros, inclusive, decidiram encerrar definitivamente os seus estabelecimentos e voltar à sua terra de origem. O mesmo pode acontecer no meu estabelecimento. Os manifestantes querem que eu venda o saco de arroz de 25 kg ao preço de 1000 Meticais, enquanto eu o adquiri a 1200 Meticais. Isso significa que esse negócio não é rentável para mim. Então, é melhor eu fechar do que acumular prejuízos", disse Ernest Mugongolo.
Outro comerciante contou que, nesta época, são poucos os agentes económicos que conseguem vender produtos de primeira necessidade. Mas, com essa onda de manifestações, a situação tende a piorar.
"Desde a semana passada, temos estado a receber visitas de manifestantes que vêm impor uma lista de preços e, quem não garantir que vai aderir, eles ameaçam vandalizar a loja. Assim, eles ganham, mas nós perdemos. Se for assim, é melhor parar com o negócio", disse Unculo Marique, dono de uma mercearia.
Marique explicou que, com medo de perder os seus produtos, alguns comerciantes chegam a simular a queda de preços para agradar os manifestantes naquele momento, e depois retornam aos preços normais, mas com certo receio.
Em Malhampsene, concretamente na Estrada Nacional N° 4, a via também se encontrava bloqueada e os transportadores não podiam circular. Os manifestantes obrigaram os camionistas a estacionar no meio da estrada para impedir a circulação dos veículos, principalmente, do transporte semi-colectivo.
Em conversa com um grupo de manifestantes, estes justificaram que se trata de uma pressão para chamar a atenção do governo para a estabilização dos preços.
"Nós bloqueamos a via porque as coisas estão caras. Com 2 mil Meticais já não se compra nada. O custo de vida deve baixar. Nós não queremos fazer manifestações para vandalizar ou roubar algo de ninguém, mas apelamos à polícia para que não lance gás lacrimogéneo e nem atire balas verdadeiras contra nós, como vem fazendo", disseram sem detalhar o mecanismo de redução de preços.
"Vamos continuar a nos manifestar até que o governo nos dê ouvidos e reduza os preços dos produtos de primeira necessidade e do cimento".
No terreno, os agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) estiveram a trabalhar em Malhampsene e na Matola Rio, para desbloquear as vias e permitir a livre circulação. Em alguns casos, foram obrigados a dispersar os manifestantes, utilizando gás lacrimogéneo.
No fim da tarde desta segunda-feira, circularam relatos dando conta de tentativas de bloqueio na zona da Casa Branca (bairro Trevo, na Matola), o que provocou um enorme engarrafamento para quem queria entrar ou sair da cidade de Maputo. Na localidade de Goba, distrito de Namaacha, também houve tentativa de bloqueio logo nas primeiras horas.
No bairro do Benfica, o comércio ficou parado, sobretudo na Avenida de Moçambique, com quase todos os estabelecimentos encerrados, uma vez que os comerciantes receberam um aviso na última quinta-feira, de que, caso não baixassem os preços, deveriam interromper as suas actividades.
Na cidade de Maputo, alguns estabelecimentos de venda de material de construção enviaram mensagens aos seus clientes para que pudessem adquirir o cimento a partir desta segunda-feira pelo preço único de 320 Mts.
Refira-se que a exigência de redução de preços por parte dos manifestantes surge no âmbito das 25 medidas apresentadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, para os próximos 100 dias no quadro do que é designado “Governo do Povo”. (M.A)