Os Centros de Saúde do Alto-Maé e Malhangalene encerraram vários serviços na manhã desta terça-feira (22), terceiro dia da greve dos profissionais de saúde, por sinal, o grupo que presta maior assistência nestes locais.
Ontem, "Carta" fez mais uma ronda pela cidade de Maputo e constatou que os pacientes estavam a voltar para casa sem receber o devido atendimento, mesmo em casos de doença grave ou doenças crónicas. Por exemplo, no Centro de Saúde do Alto Maé, Ângela de Mello estava com lágrimas porque não conseguiu encontrar um enfermeiro para vacinar sua filha.
"Minha filha completa hoje quatro meses e devia receber a vacina, mas estou a voltar para casa porque não estão a atender e nem sei o que fazer e para onde vou. Cheguei neste hospital por volta das 7h00 e parte dos enfermeiros que se encontrava aqui estava apenas a circular de um lado para o outro e não têm sequer sensibilidade para os bebés e para as mulheres grávidas".
Conversamos ainda com Sheila Massinga, que pretendia marcar uma consulta porque sentia fortes dores de estômago, mas acabou voltando para casa.
"O Governo não sente por nós, eles estão aí num bem bom e nós o povo a sofrer. Quando eles ou seus familiares ficam doentes nem sabemos para onde vão, mas não passam pelo mesmo que nós. Pedimos que conversem com os médicos porque esta área é sensível. Na escola posso chumbar e repetir o ano, mas se eu ficar doente e não receber o devido atendimento posso morrer e não posso ressuscitar, socorro", lamentou.
Ainda no centro de saúde de Alto-Maé, a Polícia da República de Moçambique (PRM) estava em prontidão porque temia que os pacientes pudessem manifestar-se por falta de atendimento.
O mesmo se passava no Centro de Saúde da Malhangalene. Muitos serviços encontravam-se encerrados e os profissionais de saúde sentados em grupinhos, a conversar como se não estivessem no seu local de trabalho. Em conversa com um paciente que preferiu anonimato, disse que não sabe o que vai ser dele porque desde segunda-feira não consegue receber os seus medicamentos.
"Hoje cheguei à farmácia às 7h30min para receber os meus anti-retrovirais porque sou seropositivo e, até às 10h00, não estavam a atender ninguém. Assim, não estou a medicar já há dias e não sei quais vão ser as consequências de não tomar os medicamentos".
"Pedimos socorro, os profissionais de saúde prometeram prestar os serviços mínimos, mas eles não estão a atender ninguém, mesmo bebés de colo. Estamos aqui a implorar pelo atendimento e mesmo com pagamento de algum suborno, eles dizem que não estão a trabalhar. O Governo e os médicos devem entender-se. Nossos filhos vão morrer, as coisas não andam bem", este foi o grito de socorro de Valentina Chissico que se encontrava no centro de saúde da Malhangalene para uma consulta a sua filha.
De seguida, visitamos o Hospital Central de Maputo, a maior unidade sanitária do país. Embora a meio-gás, aparentemente todos os serviços estão a funcionar. No banco de socorros encontramos poucos pacientes e, mesmo com lentidão, disseram-nos que a fila estava a andar.
Tudo indica que muitos pacientes estão a optar em ficar em casa ou procurar por outros hospitais porque não encontramos filas enormes como nos outros dias. Em conversa com um dos funcionários da oficina do HCM, explicou à nossa reportagem que grande parte dos serviços estão a funcionar no mínimo, mas a maior parte dos médicos aderiu à greve.
"A greve está a decorrer, mas aqui há muito silêncio porque grande parte dos sectores não estão a funcionar com normalidade. Em dias normais em que o hospital não se ressente da greve, somos solicitados todos os dias em algum sector para reparar uma máquina, uma balança ou outro aparelho, mas desde a eclosão da greve chegamos a ficar uma semana sem receber sequer uma solicitação. Tudo indica que não estão a trabalhar com normalidade porque quando trabalham há sempre um aparelho que avaria", frisou. (Marta Afonso)