A percepção do Observatório do Cidadão para Saúde (OCS) surge na sequência de relatos dando conta de mau atendimento caracterizado por longas filas, desrespeito aos direitos do utente, entre outras anomalias. Para aferir sobre a alegada crise silenciosa, o OCS lançou uma campanha de fiscalização em alguns hospitais da cidade de Maputo, tendo como ponto de partida o Centro de Saúde da Malhangalene.
Neste local, acompanhou o atendimento no serviço pré-natal e pode verificar longas filas, com um único profissional para 50 gestantes, o que provoca longas horas de espera. Em alguns casos, as parturientes são obrigadas a fazer ecografia nas clínicas privadas devido a supostas cobranças ilícitas nas unidades sanitárias.
Já no Centro de Saúde de Xipamanine, o cenário era bastante sombrio por falta de corrente eléctrica e salas de parto totalmente às escuras. As lanternas de celulares eram uma alternativa para o trabalho de parto. Associado à crise de energia, apenas uma enfermeira estava em serviço para atender as parturientes que gritavam de tanta dor e, indiferente à situação, ela continuava a conversa com a sua colega, servente neste caso. Ambas ″rezavam″ para que não fosse restabelecida a energia para que terminassem o seu turno a dormir.
O OCS também visitou o Hospital Geral de Mavalane onde constatou maus tratos e morosidade no atendimento, com alguns pacientes na fila por mais de oito horas. Enquanto as parturientes gritavam de dores, era visível um e outro profissional de saúde desfilando a sua classe e outros empenhados em acompanhar as novidades do dia por meio do celular.
Fontes do Hospital Geral de Mavalane dizem ainda que as parturientes não recebem nenhuma refeição depois da saída da sala do parto, nem sequer uma chávena de chá ou um prato de sopa para recuperar as forças, o que evidencia que há greve silenciosa nos hospitais da cidade de Maputo. Lembre-se que os médicos e pessoal da saúde ameaçam paralisar as suas actividades a nível nacional, colocando em risco a vida dos moçambicanos, numa altura em que falta quase tudo nos hospitais para o seu normal funcionamento.
Entre vários aspectos, os profissionais da saúde exigem um enquadramento adequado na nova Tabela Salarial Única e melhores condições de trabalho. (Marta Afonso)