O Relatório anual da Amnistia Internacional denuncia que as violações de direitos humanos são cometidas por ambos os lados. O conflito entre os terroristas e forças do Governo no Norte de Moçambique aumentou as violações de direitos humanos, cometidas por ambos os lados, e agravou a crise humanitária em 2022, revela o Relatório da Amnistia Internacional (AI) 2022/23 divulgado ontem (28).
Combatentes do grupo designado localmente como "Al-Shabab" (sem ligação conhecida do grupo com o mesmo nome na Somália) continuaram a "incendiar aldeias, a decapitar pessoas e a raptar mulheres e raparigas", lê-se na parte do relatório dedicado a Moçambique.
A Amnistia Internacional relata acontecimentos como os ataques, em 21 de Maio, no Chicomo, Nguida e Nova Zambézia, onde apareceram 10 cadáveres decapitados e foram raptadas mulheres e meninas, e em Junho e Setembro nas províncias de Nampula e Niassa.
Entretanto, as forças de segurança do governo também violaram direitos humanos, incluindo "desaparecimentos forçados, assédio e intimidação de civis e extorsão", denuncia a organização.
Um dos casos apontados no relatório aconteceu na cidade de Pemba, em que soldados estacionados "submeteram os civis que passavam pela área à agressão física, extorsão e roubo". A expansão da violência armada agravou a situação humanitária, com 1,5 milhão de pessoas deslocadas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa a necessitarem de assistência humanitária e protecção devido ao conflito, segundo dados das Nações Unidas.
Crescente repressão pelo Governo
A juntar a estas violações de direitos humanos, a AI denuncia a repressão dos direitos de reunião pacífica e de expressão pelas autoridades moçambicanas que, além disso, tentam aprovar leis para "reduzir o espaço cívico".
Num protesto pacífico de comerciantes no distrito de Gondola, Sofala, em Agosto, "a polícia usou munições reais e disparou e feriu três manifestantes". Meses antes em Maputo "polícia fortemente armada com cães impediu um grupo de jovens de realizar um protesto pacífico contra as portagens na circular de Maputo, a capital", exemplificam os responsáveis pelo relatório.
A Amnistia Internacional acusa o Governo de "no meio da crescente repressão" estar agora a tentar fazer passar uma nova lei relativa às Organizações sem fins lucrativos considerada uma ameaça à sociedade civil e à liberdade de associação.
As várias crises que Moçambique atravessa provocam uma "desconfiança profunda" nas autoridades, alerta a organização de defesa dos direitos humanos. (SIC Notícias)