Na última terça-feira, o Presidente da República de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, anunciou um Pacote de Medidas de Estímulo à Economia, que visa tornar a economia moçambicana menos burocrática e mais competitiva e aliviar o actual custo de vida. Das medidas anunciadas, o destaque vai para a redução da taxa do IVA (Imposto sobre Valor Acrescentado) em 1%, baixando de 17% para 16%, a redução da taxa de IRPC (Imposto Sobre Rendimento de Pessoas Colectivas) de 32% para 10%, nos sectores da agricultura, aquacultura e transportes urbanos e a isenção do IVA na importação de factores para a produção agrícola e electrificação.
Face a estas medidas, “Carta” saiu à rua nesta quinta-feira, para perceber se os cidadãos estavam ou não de acordo com as medidas anunciadas e se as mesmas vão ter algum impacto nas suas vidas. O custo de vida, lembre-se, tem estado a sufocar o cidadão moçambicano visto que os preços dos produtos básicos disparam a cada dia.
Daniel Mafumo, 39 anos de idade, residente no bairro Matola-Gare e funcionário de uma empresa sediada na baixa da cidade de Maputo, disse à “Carta” que, quando o Presidente iniciou o seu discurso, esperava que fosse directo e explicasse quais são os produtos que vão sofrer uma redução de preços, porém, ao perceber que o Chefe de Estado não disse nada que estivesse nas suas expectativas, tratou de desligar a televisão.
“Eu esperava que Nyusi dissesse que o preço do gás, arroz, óleo, entre outros produtos de primeira necessidade, vai reduzir. A vida está cara, porque é que o Presidente não nos veio informar que o preço do pão vai baixar. Do jeito que as coisas andam, chegará um momento em que já não vamos conseguir comprar pão para os nossos filhos”, afirmou com revolta.
Depois fomos ao Mercado do Povo, que se encontra próximo do Conselho Municipal da cidade de Maputo, onde conversamos com Masquina Matusse, mãe e vendedeira naquele local. Ela mostrou-se bastante agastada com as medidas anunciadas e gritou de repúdio. “Neste país estamos apenas a sobreviver porque isto já não é viver, estamos cansados, hoje em dia estamos a vender só para comer, já não podemos construir, já não conseguimos fazer mais nada, basta”.
Por seu turno, João Nhassengo, pai de três meninas, vendedor de verduras no Mercado do Povo, criticou o facto do Presidente da República afirmar que quem não aguenta com a vida da cidade deve mudar-se.
“Nyusi nem devia dizer isso, tudo o que está acontecendo nos últimos dias parece propositado, água está muito cara, energia de 100 MT já não dá para nada. O Presidente não pode pensar que fez muito ao descontar 1% de IVA, porque estes mesmos produtos podem dobrar o preço. Ele devia evitar o agravamento do preço do «chapa», todos os dias sofremos para chegar à cidade, principalmente nós que vivemos nos bairros distantes da cidade de Maputo. Para chegar à cidade somos obrigados a fazer muitas ligações e se o «chapa» subir, vamos preferir sentar em casa e morrer à fome com os nossos filhos porque nos últimos dias os clientes não compram nos mercados, mas estamos aqui”.
Jacinta Albino, de 61 anos de idade, mãe de três filhos e chefe de família, disse que o Presidente podia reduzir o IVA em 5% para demonstrar que ele é dirigente deste país.
“Eu esperava ouvir o Chefe de Estado dizer que tudo reduziu e que o preço do transporte não vai subir. Tenho dois filhos que precisam de dinheiro de chapa todos os dias e com este negócio de verduras que faço aqui, tenho de dar de comer aos meus filhos, comprar fichas todos os dias, entre outros. Hoje em dia comprar cinco litros de óleo é para quem recebe minimamente bem”, referiu.
Por sua vez, Valério Nhatsave, 48 anos de idade, pai de quatro filhos e residente no bairro São Dâmaso, disse que o Presidente da República precisa de sentar com seus ministros e reflectir no sofrimento do povo moçambicano. “Estamos a sofrer no nosso próprio país até parece que não temos um governo”, afirmou. (Marta Afonso)