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quarta-feira, 29 setembro 2021 03:20

Mocímboa da Praia, um “pulmão” de Cabo Delgado já sem ar

A Vila de Mocímboa da Praia era como um pulmão para Cabo Delgado. A dinâmica sócio – económica da província dependia em parte do ar que era insuflado a partir de Mocímboa mas este papel vital ficou carcomido pela insurgência, quase que desfeito em todo o seu esplendor. Mocímboa encontra-se hoje completamente destruída e abandonada, na sequência dos ataques terroristas que tiveram lugar entre os dias 27 de Julho e 12 de Agosto de 2020, que culminaram com a ocupação daquele ponto estratégico pelos insurgentes.

 

Durante muitos anos, a vila-sede de Mocímboa da Praia, que dispõe de um porto de cabotagem e de um aeródromo, foi o principal ponto de abastecimento comercial dos distritos da zona centro e norte da província de Cabo Delgado, com destaque para Palma, Nangade, Mueda, Muidumbe e Macomia. Aliás, até 2018, o Aeródromo de Mocímboa da Praia era o principal local de aterragem e decolagem de aeronaves que transportavam pessoas e bens envolvidos no projecto de exploração de gás natural do Rovuma, no distrito de Palma.

 

Entretanto, hoje a vila encontra-se destruída, abandonada e sem mínimas condições de habitabilidade. “Carta” visitou, semana finda, aquela vila estratégica e testemunhou um cenário desolador. Aquilo que, em Agosto de 2020, era vila, hoje transformou-se numa ruína, com o capim e arbustos a cobrirem as ruas desertas, casas e demais infra-estruturas deitadas abaixo pelos terroristas.

 

Os militares, que constituem a maioria dos habitantes da vila, dividem o espaço com animais selvagens, com destaque para as cobras. Aliás, até hoje, ainda decorrem as actividades de limpeza da vila, envolvendo militares e alguns jovens capturados durante os combates.

 

A vila que outrora foi “pulmão” da zona norte da província de Cabo Delgado, hoje está transformada numa vila fantasma. Por exemplo, o Aeródromo não dispõe de condições para aterragem e decolagem de aviões comerciais, assim como o porto de cabotagem não apresenta mínimas condições para a atracagem de navios comerciais. Os equipamentos das duas infra-estruturas foram destruídos pelos insurgentes.

 

Os edifícios das instituições do Estado (Secretaria do Distrito, Comando Distrital da PRM, Assembleia Municipal, etc.) encontram-se completamente destruídos, tal como os bancos comerciais, os postos de abastecimento de combustível e alguns estabelecimentos comerciais.

 

Primeiros “regressados” após a reconquista de Mocímboa

 

Quase dois meses depois da reconquista da vila de Mocímboa da Praia, um grupo constituído por 73 pessoas, na sua maioria crianças, mulheres e idosos, foi resgatado das matas que se localizam nas proximidades daquela vila autárquica. Um dos membros desse grupo é Suleimane Salimo, de 55 anos de idade, que diz ter vivido mais de um ano nas matas de Vitite, nas proximidades da vila.

 

Em entrevista aos jornalistas, Salimo disse ter saído da vila de Mocímboa da Praia em Agosto de 2020, logo após o ataque terrorista. Garantiu não ter sido raptado pelos insurgentes e que, durante o período em que esteve no mato, não chegou a cruzar-se com qualquer membro daquele grupo.

 

“Nós saímos daqui em Agosto de 2020 e fomos nos refugiar no mato, onde vivíamos mal. Éramos 29. Não tínhamos comida, onde dormir e nem sabão. Não fui raptado, apenas fugi porque eles precisavam de mim, queriam matar-me porque era milícia aqui na vila”, afirmou, sublinhando que toda a sua família está no distrito de Montepuez, tendo passado todo este período ao lado da sua esposa.

 

Já Maicha Halide, de 45 anos de idade, foi encontrada nas matas de Xitolo, onde também se refugiou após os ataques terroristas de Agosto de 2020. Conta que, para além de ter passado mais de um ano a alimentar-se de mandioca e algumas frutas silvestres, também teve de viver longe das suas três filhas, que foram raptadas pelos terroristas, sendo que uma delas estava em período de gestação.

 

“Situação controlada” – Coronel Arone Nema

 

No entanto, o Coronel de Infantaria, Arone Nema, que comanda a Força Terrestre naquele ponto do país, garante que a situação está “controlada”. Porém, revela que os terroristas têm tentado, sem sucesso, atacar as Forças de Defesa e Segurança (FDS).

 

“Já tivemos movimento de pessoas estranhas, mas está controlado porque conseguimos repelir e capturar alguns enviados do inimigo”, disse Nema, revelando que as FDS detiveram 28 jovens por suspeita de pertencer ao grupo de malfeitores.

 

Em relação às 73 pessoas resgatadas, a fonte explicou que as mesmas ainda estão sendo investigadas para se apurar a veracidade das suas estórias. Caso se confirme as suas versões, estas serão encaminhadas aos locais onde se encontram as restantes vítimas dos ataques terroristas. Sublinhar que, deste grupo, 18 pessoas foram encaminhadas à cidade de Pemba, devido ao seu estado de saúde.

 

Refira-se que a vila-sede de Mocímboa da Praia está sob controlo das FDS desde o último dia 08 de Agosto, 12 meses depois de a mesma ter estado sob gestão dos insurgentes. (A. Maolela)

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