Fernando Magno, 56 anos de idade. Em Maio de 2008, ele foi julgado e ilibado. Pesava sobre ele uma acusação de envolvimento em duas tentativas falhadas de assassinato do advogado António Albano Silva, ocorridas em 1999 e 2000. Ele negou tudo, em sede de Tribunal. E disse que tinha sido 'coagido' a mentir durante a instrução contraditória. Seu interrogatório no banco dos réus teve lugar no dia 24 de Maio de 2008. Magno ficou detido 8 anos, antes de ser julgado.
Foi preso em 2001, na mesma leva dos detidos do caso do assassinato do jornalista Carlos Cardoso, ocorrido em Novembro de 2000. No seu julgamento disse que não tinha qualquer informação sobre a formação de uma associação criminosa com o objectivo de eliminar fisicamente o advogado do então Banco Comercial de Moçambique.
Adil Mansur, a bravura da mulher e fracasso do rapto
Nesta terça-feira, o nome de Fernando Magno voltou à baila. Uma foto do seu Bilhete de Identidade (BI) foi posto a circular nas redes sociais como tendo sido encontrado na take away TakaTaka, onde nesta segunda-feira foi falhada uma tentativa de rapto do empresário Adil Mansur, filho de Mansur Ibrahimo Hassan, cujo pai assentou arraiais em Quelimane, vindo da Índia, há mais de 70 anos. Trata-se de uma das famílias proeminentes da Zambézia, no ramo dos negócios. Adil Mansur chegou a Maputo, vindo de Quelimane, no passado dia 4 de Agosto. Uma fonte próxima da família disse à “Carta” que Adil estava de passagem para Lisboa.
Na segunda-feira, ele dirigiu-se ao Taka Taka, localizado na “Olof Palm”. Queria comer galinha assada mas confrontou-se com uma gangue que lhe queria levar à força quando ele, a mulher e um filho saiam do pequeno restaurante, situado naquela zona altamente movimentada da cidade. Um vídeo desse trágico momento correu viral nas redes. A “bravura” da mulher de Adil foi descrita como tendo sido essencial para abortar o rapto. Ela confrontou os raptores, em número de 4, armados de K 47 e transportados numa viatura Toyota MarkX. Fugiram. Mas consta que um agente policial, armado, presenciou toda a cena, mas permaneceu inativo.
De acordo com a cena capturada no circuito interno de TV do restaurante, Mansur, apercebendo o que estava acontecendo, tentou correr de volta para o restaurante, mas os dois homens o seguiram, e um deles o derrubou. O Toyota chegou mais perto para facilitar o sequestro, mas a esposa e os filhos de Mansur intervieram para protegê-lo. A esposa agarrou o marido e bloqueou a porta do carro para que ele não pudesse ser sequestrado.
As crianças também tentaram ajudar, e uma delas até pegou a arma que um dos sequestradores havia deixado cair. Mas o bandido conseguiu recuperar a arma, disse uma testemunha. Os transeuntes gritaram com a gangue, que disparou dois tiros no passeio. Quando viram que o sequestro havia sido frustrado, entraram na viatura e foram-se embora calmamente. Nem se deram ao trabalho de usar máscaras
O porta-voz da polícia da cidade de Maputo, Leonel Muchina, diria mais tarde que agentes da corporação deslocaram-se ao restaurante assim que soube-se da tentativa de rapto. “Fechamos todas as prováveis rotas de fuga, mas não tivemos o sucesso que esperávamos”, disse. “Os criminosos conseguiram fugir”.
Nello Ferreira, Fernando Magno e um manipulador solitário?
Na manhã de terça-feira, as redes foram inundadas com dois documentos: o livrete de uma viatura turismo da marca Totoya, modelo Mark-X, mais um bilhete de identidade em nome de Fernando Magno. Não se sabe quem colocou as imagens dos documentos no “whatsapp”, mas a mensagem que as acompanha alega que os mesmos foram encontrados no local do fracassado rapto, não se sabe se dentro ou fora do Taka Taka. Estranhamente, o livrete da viatura Mark-X foi colocado nas redes sem o respetivo título de propriedade. Mas o normal em Moçambique é que os documentos andem de mãos dadas, agrafados um ao outro.
Em nome de quem está registado o título de propriedade do Mark-X”? “Carta” investigou e apurou o nome de Nello Paiva da Costa Ferreira, como constando na Conservatória dos Registo Automóvel. É provável que Nello Ferreira possa vir a ser ouvido. O facto de o seu livrete ter sido encontrado no local do crime não é, contudo, prova cabal do seu envolvimento. Uma fonte notarial disse que, em Moçambique, é normal uma compra e venda de viatura não terminar efectivamente na alteração do registo de propriedade. O registo em nome de Nello Ferreira data de 2011, apurou "Carta".-
A circulação do BI de Fernando Magno é uma tentativa da sua incriminação. “Carta” não conseguiu encontrar seu contacto, ele que sempre foi conotado com o crime, desde a saga da tentativa de assassinato do advogado Albano Silva, transformada em intentona durante o julgamento. Magno pode também ser chamado a depor. Seu BI foi exibido.
Mas, para todos os efeitos, a viatura do crime não está em seu nome. Quem postou os documentos foi criterioso. Escondeu o nome constante do título de propriedade da viatura porque este não coincidia com o nome de Fernando Magno. Sua intenção terá sido manipuladora, facto que poderia também merecer a atenção da Polícia. A intenção foi unicamente manipular a opinião pública ou despistar uma pretensa investigação policial?
Nesta mesma terça-feira, outra mensagem relacionada ao caso foi posta a circular. Rezava assim: “Imagens de documentos (Livrete e BI) colocadas a circular nas redes sociais. Bom dia! Os documentos visavam tratar o seguro automóvel, e não há NENHUM nexo de causalidade com o rapto de ontem (09/08/2021). Penso que a ´COISA´ partiu deste Grupo, pelo que agradecia que as mesmas pessoas desmentissem (retratar-se), se possível”. O texto também não está assinado, pelo que não se sabe quem é o seu autor. Depreende-se, isso sim, que se trata de um grupo de Whatsapp. Mais uma peça para perícia policial.
Neste caso, parece visível a presença de uma manipuladora…invisível. Uma pista fundamental. Quem postou o BI de Magno e o livrete? E a mensagem reactiva a esse post? “Carta” sabe que a Polícia tem meios para rastrear a origem de mensagens circuladas por “whastapp”, esperando-se que isso venha a acontecer. Mas…
National Intelligence for Crime
…Mas o caso do rapto falhado no Taka Taka, na segunda-feira, tem contornos estranhos. Há quem sugere o envolvimento de agentes da Polícia. De resto, é percepção geral em Moçambique é a de que a criminalidade raptora tem forte mão de agentes policiais, sempre em conluio com funcionários bancários. Este caso não foge muito desse âmbito do julgamento social.
Porque? Porque seus detalhes sugerem uma intrincada rede de troca de informações entre gangues criminosas com penetração no Estado. Uma certa “criminal intelligence” monitorando a circulação de empresários com grandes posses, maioritariamente de origem árabe, indiana ou portuguesa. Uma rede de troca de informação, para efeitos criminosos, à escala nacional.
Adil Mansur chegou a Maputo, vindo de Quelimane, no passado dia 4 de Agosto. E no dia 9 estava a ser vítima de rapto. Isto sugere que seus movimentos estavam a ser monitorados. Os raptores não trabalham sozinhos. Para se saber que Adil tinha viajado para Maputo alguém devia estar a monitorar os seus movimentos em Quelimane. Nas ruas de Quelimane e no aeroporto local. No aeroporto da capital e nas avenidas de Maputo. Uma gangue organizada e com a certeza de que o rapto renderia milhões e milhões (de acordo com informações que essas redes terão obtidas de comparsas trabalhando na banca). (Marcelo Mosse)