Sir Motors
Ao contrário das previsões e afirmações, "as redes de tráfico mudaram para rotas novas e mais seguras...fora da área controlada pelos insurgentes, que é altamente militarizada". Contrariamente às percepções e previsões de que os insurgentes ganhariam financiamento com o comércio ilegal, "a nossa pesquisa no norte de Moçambique em janeiro e fevereiro de 2021 revelou que há poucas evidências de que as economias ilícitas se tornaram de facto uma importante fonte de renda para os insurgentes", de acordo com um relatório de 28 de Abril da Global Initiative Against Transnational Organized Crime (GI-TOC). Esta é a agência internacional que se tornou a especialista mais bem informada em economias ilícitas na África Oriental e Austral.
O relatório completo está em https://globalinitiative.net/analysis/esaobs-risk-bulletin-17/. Ele contém um mapa bom e detalhado das rotas de tráfego (na imagem ilustrativa deste artigo) e de forma mais clara em http://bit.ly/Moz-traffic-map
"Os combates em curso tiveram um efeito de arrastamento nas...várias rotas de tráfico - de heroína, rubis, ouro, madeira, vida selvagem - e rotas de contrabando de migrantes - que há muito estão enraizadas em Cabo Delgado há décadas."
Após extensa pesquisa, "nenhuma evidência foi encontrada ligando os insurgentes ASWJ [Ahlu-Sunna Wa-Jama'a, conhecidos localmente como al Shabaab ou machababos] com a rota de suprimento de drogas baseada em dhow." E o GI-TOC critica explicitamente a reivindicação de 11 de março do enviado do governo dos EUA, John Godfrey, de "um nexo entre o financiamento do terrorismo e o tráfico de drogas em Moçambique".
Existem três rotas de drogas e todas mudaram em resposta à guerra que corta as estradas. A principal rota tradicional tem sido dhows que viajam da costa de Makran, no Paquistão, até a costa do norte de Cabo Delgado, onde as drogas são enviadas em pequenas embarcações para as praias para serem recolhidas em veículos. Os carregamentos de drogas, agora metade heroína e metade metanfetamina, mudaram-se para o sul, para as praias ao redor de Pemba, Nacala e Angoche. “Um traficante de heroína conhecido do GI-TOC, que anteriormente estava baseado em Mocímboa da Praia, mudou-se para o sul, para Nacala”.
A segunda rota é para remessas maiores em contentores, e algum tráfego mudou de dhow (barcaças) para contentores. Os contentores que chegam a Pemba vindos do Paquistão às vezes contêm heroína e os do Brasil carregam cocaína. "Esses traficantes de alto volume supostamente desfrutam do apoio de altos funcionários do partido e do governo."
Há um entendimento implícito de que se trata de um comércio de trânsito e que a heroína segue para a África do Sul e nenhuma fica em Moçambique. Assim, a procura local em Cabo Delgado sempre foi suprida por uma terceira rota, em veículos que partem da Tanzânia através da Ponte da Unidade e através de Mueda. Este também mudou-se para oeste, cruzando para Niassa e depois através de Lichinga.
O contrabando de pessoas também costumava descer a costa em dhows com pessoas que caíam nas praias nas noites de lua. Agora a rota mudou para oeste e é por estrada via Malawi. Os investigadores do GI-TOC descobriram uma outra rota de longa data, por via aérea. Nos voos da LAM de Nairóbi para Pemba, após o embarque do avião, os assentos vazios são ocupados por pessoas contrabandeadas e não registadas. Na chegada a Pemba, eles são admitidos por um oficial de imigração de confiança.
As gemas agora parecem ser exportadas via Malawi e transportadas para a Ásia, muitas vezes como parte do comércio ilegal de vida selvagem, que inclui dentes e garras de leão e pangolins vivos da reserva do Niassa. Mas o comércio de marfim parece ter sido interrompido e o GI-TOC não encontrou nenhuma evidência de marfim movendo-se por Pemba ou Malawi. Existe alguma mineração artesanal de ouro nas áreas controladas pelos insurgentes de Mocímboa da Praia e os insurgentes provavelmente se beneficiam disso. (JH)
