Um total de 28 trabalhadores ligados ao projecto de construção da Fábrica de Liquefação de Gás Natural do Rovuma, liderado pela petroquímica francesa Total, encontram-se abandonados no Centro Transitório do bairro Eduardo Mondlane, na cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.
Os indivíduos, todos naturais e residentes da vila-sede do distrito de Palma e que trabalham para a empresa IFS (Internacional Facility Service), uma das subcontratadas da Total, contam que terão sido “atirados” naquele local no passado dia 03 de Abril, idos da capital do país, Maputo, onde cumpriam uma quarentena.
Segundo Amade Ali, de 46 anos de idade, o grupo era composto por 32 pessoas, que foram retiradas da vila-sede de Palma, na manhã do dia 24 de Março (horas antes do ataque terrorista) para ir cumprir uma quarentena na capital do país, mas quatro já regressaram às suas residências, na província de Nampula.
A fonte não clarificou as razões que lhes levaram a cumprir a referida quarentena em Maputo, tendo em conta que este era um protocolo rotineiro na empresa sempre que os funcionários retomassem às suas actividades após 15 dias de descanso e que nunca foi cumprida em qualquer estância hoteleira da capital moçambicana.
Entretanto, após tomarem conhecimento dos ataques terroristas e consequente paralisação dos trabalhos pela Total e evacuação de todos envolvidos no projecto, a IFIS decidiu devolver os 32 trabalhadores à província de Cabo Delgado, no entanto, para além de custear as suas despesas, optou por lhes colocar no Centro Transitório, criado pelas autoridades para receber as vítimas dos ataques terroristas, no distrito de Palma.
Conforme conta Amade Ali, a empresa não criou quaisquer condições para que os seus trabalhadores ficassem em segurança e com um mínimo de dignidade e muito menos ajudou-os a localizar os seus familiares que ainda se encontram retidos naquela sede-distrital. Porém, em contrapartida, há um funcionário que se encontra hospedado em um dos hotéis de Pemba às custas da empresa.
Ali conta que, no dia do ataque, perdeu um dos seus seis filhos, para além de terem roubado os seus bens e produtos alimentares. Afirma que está naquele local sem nenhuma perspectiva, pois, não sabe quando irá sair daquele local, assim como não sabe quando irá rever a sua família.
Já Bacar Ernesto, de 33 anos de idade, sublinha que o grupo saiu de Palma em missão de serviço e não como deslocado de “guerra”, pelo que, entende ser responsabilidade da empresa prestar assistência aos seus trabalhadores até que estes regressem às suas residências ou mesmo ajudá-los a localizar as suas famílias.
Ernesto assegura que souberam do ataque terrorista minutos depois de desembarcarem no Aeroporto Internacional de Maputo e que, a partir desse momento, não mais conseguiram se concentrar. “A nossa preocupação era saber como estava a família, porque ligávamos e os números não chamavam”, realça.
A fonte acrescenta que a sua família está bem saúde e que o seu único desejo é vê-la. Anota que, caso não seja possível continuar a sua vida em Palma, irá se fixar em Pemba, mas tal decisão depende da família, que não sabe quando irá revê-la.
Sublinhar que, para além desta situação, o grupo revela que a empresa não pagava os salários referentes ao período de quarentena.
Referir que o Centro de Trânsito do bairro Eduardo Mondlane conta, neste momento, com 179 pessoas, das quais 41 homens, 60 mulheres e 78 crianças. Desde a sua abertura, no dia 01 de Abril, o Centro já recebeu mais de 400 pessoas, sendo que a maioria conseguiu localizar os seus familiares.
Contrariamente aos primeiros dias, caracterizados por muita agitação, neste momento, o Centro encontra-se calmo, recebendo, em média, uma a duas famílias por dia. Referir que há famílias, naquele local, constituídas apenas por uma pessoa, na sua maioria crianças que chegaram à Pemba sem nenhum familiar.
Os responsáveis pela gestão do centro garantem não haver problemas de logística, servindo-se, até ao momento, as três principais refeições: pequeno-almoço, almoço e jantar. Até agora, não há previsão de quando o local será encerrado. (Abílio Maolela, em Pemba)