Eis alguns dos antecedentes de Albano Carige, actual vereador para área de Construção e Urbanização no Conselho Municipal da Cidade da Beira que, por lei, deve suceder ao carismático falecido líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Mbepo Simango, na gestão da urbe, apurados pelo jornal Redactor.
Albano Carige nasceu no dia 30 de Agosto de 1970, na cidade da Beira, onde cresceu e estudou, até aderir à Resistencia Nacional Moçambicana (RENAMO) em 1990, pela mão da dinâmica rede clandestina da “perdiz” implantada no “Chiveve”.
Integrou a rede dos chamados “jovens” mandados recrutar por Afonso Dhlakama, então líder da RENAMO, contingente que devia integrar “os académicos” e “forças especiais” a mandar treinar no estrangeiro, para ajudar a intensificar a luta contra o regime de inspiração marxista-leninista estabelecido pela Frelimo em Moçambique.
Depois de uma longa e dolorosa caminhada pelas matas, desde Chadeia (Nhamatanda) Carige e outros jovens chegaram à “base Nfuza”, na região da Gorongosa, na província central moçambicana de Sofala, onde foi recebido por um experimentado guerrilheiro conhecido por “Cadeado”, que dirigia uma “academia militar” da RENAMO nas imediações.
O que se sabe de Albano Carige
Um colega de treino do actual vereador para área de Construção e Urbanização no Conselho Municipal da Cidade da Beira disse ao Redactor que o garbo do jovem Albano Carige viria rapidamente a impressionar Dhlakama que entre o período em que aguardava pela ida ao exterior para formação político- -militar o líder da RENAMO optou por chamá-lo para junto dele, preparando-o e, por diversas vezes, mandando-o exercer funções de “comissário político nas zonas libertadas”.
Albano Carige (Redactor Nº 6014, págs. 1 e 2) esteve sempre junto de Afonso Dhlakama e a possibilidade de ir para treinos no estrangeiro se esfumou, com o fim da guerra civil (1976-1992).
No âmbito do Acordo Geral de Paz de Roma, Albano Carige é desmobilizado na Beira com a patente de sargento, mas continua ao lado de Afonso Dhlakama, na qualidade de “secretário particular do Presidente da RENAMO”, com quem efectua diversas deslocações pelo interior e exterior de Moçambique.
Por diversas vezes Dhlakama movimentou Albano Carige por algumas cidades de Moçambique para “missões eminentemente políticas”. É neste contexto que, no âmbito das primeiras eleições autárquicas, Carige é despachado para Beira como “olheiro pessoal” do presidente da RENAMO.
Conquistada a cidade da Beira nas eleições autárquicas de 2003, o edil Daviz Simango sempre reservou cargos relevantes ao Albano Carige, a quem serviu com plena lealdade, laço que veio a se sublinhar no contexto da chamada “Revolução de 28 de Agosto” (2008), que culminou com a criação do MDM.
Depois da “aventura” de Daviz Simango de concorrer como “independente”, alegadamente “por força das circunstâncias, porque fui e sou RENAMO” os “dissidentes” da “perdiz” tomam Beira, com 56%, humilhando o candidato de Dhlakama, Manuel Pereira (2,7%) e Lourenço Bulha (33,7%), do partido Frelimo.
Em concreto, Simango avançou com apoio de um grupo de cidadãos reunidos em torno do Grupo de Reflexão e Mudança (GRM), liderado pelo falecido Francisco Masquil (que em algum momento actuou como uma espécie de agente duplo – servindo a RENAMO enquanto oficialmente estava a soldo do partido Frelimo, acto aproveitado por Afonso Dhlakama para formalmente expulsar o chamado “puto Daviz”.
Casado oficialmente e hoje pai de três filhos, Albano Carige manteve a sua lealdade para com Daviz Simango até aos últimos dias de vida de Simango, que vai a enterrar amanhã, sábado, no Cemitério de Santa Isabel, na cidade da Beira.
Caso seja confirmado no cargo de edil da Beira, Albano Carige terá a espinhosa tarefa de substituir um homem carismático e respeitado dentro e fora de Moçambique, incluindo no seio dos seus principais adversárias, com todos os riscos que tal empreitada acarreta.
Em primeiro lugar deverá estar à altura para um “jogo de cintura” na Assembleia Municipal dominada relativamente pelo MDM, para conseguir fazer passar disposições legais municipais, devendo, para tal negociar com mestria entendimentos com a RENAMO ou com o partido Frelimo, sabendo-se à partido que acordos com os “camaradas” serão relativamente mais difíceis e tendo em conta que as relações com a “perdiz” têm sido algo crispadas.
Alguns analistas acreditam que o passamento de Dhlakama (de alguma forma responsável pela dissidência que resultou no MDM) e de Daviz Simango (com alguns pendentes do o actual líder da RENAMO, supostamente pelo seu suposto relacionamento com a Junta Militar do major-general Mariano Nhongo – por confirmar), pode vir a concorrer para algum apaziguamento entre Carige e Ossufo Momade, pelo menos no que à gestão da politicamente muito cobiçada cidade da Beira tange. (Refinaldo Chilengue)