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terça-feira, 12 janeiro 2021 07:02

Obituário: a turma do Bang

O Bang, Adelson Mourinho, 41, que morreu hoje em Joanesburgo depois de uma batalha longa contra um cancro no estômago, foi um fenómeno vulcânico no panorama musical nacional. Ele tentou cantar, mas seu talento era deprimente. Decidiu virar promotor. Havia uma nata de rubis por lapidar. 

 

Ele predispôs-se a apará-los. Sua “label” chamar-se-á “Bang Entertainment” e tem nos bastidores uma das almas vivas do “pandza”: o Francisco Ardiles aka DJ Ardiles, que ainda não tinha criado seu "hit" com que fez "seu debut" nos palcos do pandzismo – fhoto, é só fazer fhoto...

 

Desfilam Lizha James (uma coqueluche que cantava na igreja e com quem Bang se casaria), a Ivânia Mudanisse (Dama do Bling) com seu hip hop “arrasa tudo”, Valdemiro José, e os vozeirões do Dopass e do Denny OG, mas também o maltrapilho do Zico Maboazuda.

 

São a personificação do Pandza e Bang seu protector maior. O pandza ganha terreno, um ritmo que distorce a marrabenta com ingredientes do “kwaito” e do “dance hall”, mas também com texto mais arrojado (nada conservador) apelando à juventude e recorrendo ao calão mais rasteiro e tiradas quase insanas como aquela do “dogstyle”. O “pandza” também era mais dançável que a marrabenta clássica, ganhando por KO nas barracas e nas festas de casamento.

 

Esta corrente muda o paradigma da indústria de espetáculos em Moçambique, sob a sombra tutelar do Bang. A velha nata passa para o segundo plano, e as operadoras de telefonia móvel apostam nesta geração para sua promoção.

 

Depois de Alex Bardosa, Bang foi um dos grandes organizadores de eventos musicais no país. Muito jovem. Sonhou eventos como a Festa da Praia (com Galiza Júnior) e concretizou palcos onde moçambicanos e angolanos se entrelaçavam no “showbiz”, mostrando seu talento. Bang fez o “verão amarelo”, ganhou dinheiro (quando o saco azul da “amarela” jorrava sem critério) e investiu em Estúdio e Som. Foi um batalhador incansável em defesa da música.

 

Não era um santo, mas Adelson Mourinho, natural de Quelimane, tinha uma alma fora do normal, um talento quanto baste. Ele morreu deixando um projecto de televisão que estava a dar os primeiros passos, a Strong Live Tv. Queria desafiar o Daniel David, da STV, com teve uma polêmica por causa do negócio das festas para a criançada. A doença levou-o cedo, com todo o talento, mas seu legado tem nomes sonantes e sonoridades que persistem: o pandza ainda não morreu.  (M.M.)

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