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sexta-feira, 08 janeiro 2021 03:31

BM aponta intensificação de ataques como uma das principais vulnerabilidades do sistema financeiro

O Banco de Moçambique (BM) aponta, em Boletim de Estabilidade Financeira, referente ao primeiro semestre de 2020 e publicado em Janeiro corrente, que a instabilidade militar nas zonas norte e centro de Moçambique é uma das principais vulnerabilidades do sistema financeiro nacional, por representar custos adicionais para os clientes dos bancos e limitação na inclusão financeira.

 

“A situação de segurança é desafiadora para Moçambique, pois cria incertezas aos intervenientes do sistema financeiro e com potencial para restringir o acesso aos serviços bancários”, afirma o BM em informe.

 

A autoridade reguladora do sistema financeiro nacional relata no documento que os ataques armados na região norte de Cabo Delgado e na zona centro do país influenciam o desempenho do sistema financeiro, com particular destaque para o sector bancário. Anota também que, em Cabo Delgado, por exemplo, os clientes do sistema bancário têm de percorrer longas distâncias (cerca de 200km) para terem acesso aos serviços bancários em resultado da destruição, ou encerramento, de algumas agências bancárias em alguns distritos da província, por causa dos ataques armados.

 

“A instabilidade militar influencia a decisão de manutenção dos serviços bancários e dificulta a logística necessária das instituições financeiras que ainda operam na região, limitando a inclusão financeira da população em redor das áreas atingidas. A destruição de projectos e a deslocação da população podem contribuir para o incumprimento do serviço da dívida, uma vez que os empreendimentos financiados podem ter sido afectados pelos ataques”, acrescenta o BM.

 

Num outro desenvolvimento, o Banco Central diz que, durante o primeiro semestre de 2020, a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) foi outra razão que afectou o sistema, concretamente, na deterioração da qualidade da carteira de crédito à economia e famílias.

 

“A percepção de crescentes riscos de crédito apresentados por certos sectores da economia, com particular destaque para o segmento das famílias, amplia os riscos de deterioração da qualidade de crédito. A materialização de riscos de contracção da actividade económica previstos no início do ano, devido à Covid-19, traz ainda mais preocupações em relação à sustentabilidade da dívida das famílias e empresas privadas, como resultado da extinção de fontes de rendimento devido à paralisação da actividade de vários sectores económicos”, relata o boletim do BM.

 

Como forma de mostrar a gravidade da situação acima relatada, o BM diz que, em Junho de 2020, o crédito em incumprimento foi de 12,6% (número acima dos 5% recomendados pelas boas práticas internacionais), um crescimento de 2,5 pontos percentuais comparativamente a Dezembro de 2019.

 

Para além das empresas e famílias, o BM aponta que o endividamento do sector público associado à capacidade produtiva abaixo do potencial é outra vulnerabilidade do sistema financeiro nacional. Para o primeiro semestre, as perspectivas de agravamento do endividamento público cresceram por causa da eclosão da Covid-19.

 

Para responder aos desafios impostos pela crise pandémica, o Governo apontou para a necessidade de financiamento de 700 milhões de USD, tendo até Junho de 2020 conseguido, para tal, o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 309 milhões de USD e perdão parcial do serviço da dívida no valor de 15 milhões de USD.

 

“A cobertura deste défice pode implicar um maior e mais oneroso endividamento do Estado com recurso ao crédito interno, com consequentes implicações para a deterioração do défice erisco soberano”, observou o BM.

 

Não menos importante, o Banco Central aponta os eventos climáticos extremos/adversos que têm assolado com frequência o país, como outra vulnerabilidade do sistema financeiro nacional, bem como o nível de confiança do país no mercado internacional (por causa das dívidas ocultas) que não é dos melhores, facto que influencia negativamente os investidores na hora de decidir injectar investimento em Moçambique. (Carta)

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