É notícia, desde o início desta semana, a decapitação de mais de 50 pessoas em algumas aldeias do distrito de Muidumbe, na região central da província de Cabo Delgado, acto protagonizado pelo grupo terrorista que vem aterrorizando alguns distritos daquela província, desde Outubro de 2017.
De acordo com os dados colhidos pela nossa reportagem, o massacre, que ocorreu entre os dias 31 de Outubro e 11 de Novembro, em 11 aldeias do distrito de Muidumbe, pode ter causado centenas de mortes.
Segundo as fontes, as aldeias 24 de Março e Muatide foram as mais afectadas. Contam que, para além das 20 pessoas mortas numa cerimónia tradicional de ritos de iniciação, na aldeia 24 de Março, outro grupo de adolescentes e adultos foram mortos numa aldeia próxima, participando, também, de um ritual idêntico. No total, eram 31 pessoas, das quais 25 em fase de adolescência.
As fontes narram que a situação testemunhada foi desoladora e sombria, com partes de corpos espalhadas por toda a aldeia. “Não tínhamos como continuar no local, tivemos de recolher alguns corpos para Mueda, onde as famílias realizaram as cerimónias fúnebres”, garantiu a fonte, com uma voz totalmente embargada.
Acrescentam que depois do ataque às aldeias, onde para além de matar também destruíram duas rádios comunitárias (Francisco de Assis e Nudumbu), escolas, centros de saúde, residências e outras infra-estruturas, os terroristas concentraram-se num campo de futebol, denominado “Matchedje”, que se localiza na aldeia de Muatide. Neste local, o grupo juntou diversas pessoas, capturadas nas matas e machambas, para, com recurso a instrumentos contundentes, matá-las e esquartejá-las.
Fontes da inteligência moçambicana entendem que a acção pode ser uma retaliação aos últimos golpes de artilharia, protagonizados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), registados em meados de Outubro, nos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Palma e Muidumbe. Lembre-se que, em meados de Outubro, grupo de antigos combatentes e elementos das FDS reivindicaram o abate de 270 terroristas, no distrito de Mocímboa da Praia, que se encontra sob gestão daquele grupo desde Agosto último. Até ao momento, não há clareza em torno do número de vítimas, havendo apenas uma certeza: mais de uma centena de cidadãos moçambicanos foram brutalmente assassinados pelo grupo.
Aliás, esta quarta-feira, quando tudo parecia estar calmo, após uma aparente saída do grupo do distrito de Muidumbe, novos ataques foram reportados em algumas aldeias. Uma das aldeias atacadas é a de Matambalale, que há dias recebeu um reforço do contingente das FDS, proveniente da base militar do distrito de Mueda, para manter a segurança na via que dá acesso à vila-sede daquele distrito, que dista a cerca de 17 Km.
Tal como nas outras ocasiões, os últimos episódios causaram danos nas estruturas familiares, havendo pessoas que não têm informação dos seus familiares há mais de uma semana. Outros terão testemunhado a execução dos seus ente-queridos. Entre os mortos está um professor da Escola Primária Completa de Matambalale. A vila-sede do distrito de Mueda e a cidade de Pemba continuam sendo os locais de destino das pessoas que abandonam as zonas de conflito. (Omardine Omar & Carta)