Naquela que pode ser descrita como das mais incisivas comunicações no contexto da Covid-19, o Presidente da República, Filipe Nyusi, mostrou-se visivelmente agastado com a postura dos cidadãos no que ao cumprimento das medidas de prevenção, actualmente em vigor, diz respeito.
O país está, recorde-se, desde o passado dia 07 de Setembro, em Estado de Calamidade Pública, e por tempo indeterminado, no contexto da prevenção e combate à altamente letal pandemia da Covid-19.
Filipe Nyusi manifestou o seu desagrado, esta quarta-feira, durante a cerimónia de lançamento de iniciativas das energias renováveis, tendo destacado que poderá começar a faltar espaço nas unidades sanitárias da Cidade Maputo para receber doentes padecentes de Covid-19 e que necessitem de internamento.
Tal acepção, de acordo com o Chefe de Estado, funda-se no facto de a taxa de ocupação de camas, na capital do país, ter triplicado nas últimas três semanas. Associado à taxa de ocupação, Filipe Nyusi disse que, actualmente, 100% das camas dos cuidados intensivos, na cidade capital, estavam completamente ocupadas, sendo que quem precisar de tratamento poderá não encontrar espaço no hospital e muito menos ter acesso ao ventilador (equipamento usado para auxiliar a respiração do doente de Covid-19). Actualmente, sublinhe-se, o país conta com 50 pacientes internados, dos quais 49 na cidade de Maputo, sendo que o outro está na província de Nampula.
Apar de considerar preocupante o registo de 300 pessoas infectadas pela Covid-19 por dia, Filipe Nyusi lembrou que a Cidade de Maputo registou no mês que ontem findou (Setembro) 2.222 casos positivos contra 1.107 de Agosto passado e ainda 29 óbitos contra oito registados no último mês, colocando reservas sobre o mês que hoje inicia.
Os comentários à volta da situação evolutiva da Covid-19 no país, à margem do lançamento das iniciativas das energias renováveis, vieram horas depois de a Presidência da República ter comunicado e, seguidamente, cancelado a comunicação à Nação do Presidente da República, que havia sido agendada para as 20:00 horas do dia de ontem.
“A situação na Cidade e província de Maputo é especialmente preocupante devido ao aumento rápido do nível de infecções, hospitalizações e óbitos. Não podemos ter, por dia, 300 pessoas infectadas no país. Falo disso porque podemos não ter a capacidade. Somente a cidade de Maputo registou, neste mês de Setembro, 2.222 contra 1.107 no mês de Agosto e 29 óbitos em Setembro, contra oito em Agosto. Não sabemos o que nos espera em Outubro. A taxa de ocupação de camas na cidade de Maputo triplicou nas últimas três semanas, tendo actualmente 100% das camas dos cuidados intensivos ocupados. Portanto, estamos a dizer que, aqui em Maputo, onde temos mais capacidade do que o resto do país, todas as camas que tinham sido preparadas estão ocupadas. Significa que se algum de nós ou você que me está a ouvir, seu irmão, amigo ou eu (Filipe Nyusi), estiver infectado e precisar de tratamento pode não ter espaço no hospital. E, sobretudo, não ter ventilador”, disse Filipe Nyusi.
Decorrente do “total” desrespeito das medidas, o Presidente da República avançou que o crescimento galopante do número de indivíduos infectados pela doença poderá provocar o colapso do Sistema Nacional de Saúde (SNS).
Num contexto do incumprimento das medidas, actualmente em vigor, Filipe Nyusi deixou a garantia de que serão apertadas as medidas no âmbito do Estado de Calamidade Pública.
Num outro desenvolvimento, o Chefe do Estado abordou o regresso das aulas presenciais do ensino geral, nas classes com exame. Neste ponto, Filipe Nyusi disse que a retomada das aulas presenciais nas instituições de ensino públicas e privadas continua condicionada à verificação das instituições competentes do Estado.
O presente ano lectivo, o de 2020, disse Filipe Nyusi, conhecerá o seu término a 26 de Fevereiro de 2021. O sucesso do regresso às aulas presenciais, anotou Nyusi, não depende apenas do Governo e dos parceiros, vincando que o envolvimento dos pais, encarregados de educação, do aluno, do professor, do gestor, conselho de escola e da sociedade em geral, no que à implementação das medidas de prevenção da Covid-19 diz respeito, é crucial.
No quadro da retoma das aulas presenciais, hoje (01 de Outubro) regressam os alunos da 12ª. Classe. A 19 de Outubro, regressa a 10ª. Classe e o terceiro ano de educação de adultos. Já a 7ª. Classe regressa a 9 de Novembro próximo.
“Relaxamento total” por parte dos cidadãos
Na sua longa intervenção, o PR reservou espaço para abordar a questão do comportamento dos cidadãos, na sequência do relaxamento das medidas na sequência da declaração do Estado de Calamidade Pública. Filipe Nyusi disse que os cidadãos estão a comportar-se como se a pandemia estivesse já controlada, quando está numa fase em que os cuidados deviam ser redobrados.
O comportamento dos cidadãos nas praias esteve no centro da abordagem do Chefe do Estado. Disse que não é desta que vai decretar o encerramento das praias, apesar de ter sido aconselhado a proceder nesse sentido, deplorando a forma como os banhistas se portaram durante o último fim-de-semana, que coincidiu com a celebração do 25 de Setembro, o dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Filipe Nyusi não escondeu o seu desagrado pelo facto de assistir-se à realização massiva de convívios (festas), o relaxamento total nos mercados para quem os vendedores chegam a fazer chantagens para continuar a desenvolver as suas actividades, bem como nos transportes públicos.
“Alguns concidadãos, quando se encontram nas praias comportam-se como se a situação da pandemia estivesse controlada. Não observam nenhuma medida de prevenção. Ainda não estou a dizer que as praias estão fechadas. Devia fazer isso porque fui aconselhado até neste sentido. Mas eu tenho fé na consciência dos moçambicanos e de todos que vivem em Moçambique. Estão a inventar convívios. Verifica-se o relaxamento total nos mercados”, disse Filipe Nyusi. (I. Bata)