Continua o esforço titânico do Governo moçambicano em afastar qualquer colação das violações dos direitos humanos às Forças de Defesa e Segurança (FDS) no teatro operacional norte, no caso concreto, a província de Cabo Delgado, que, desde Outubro de 2017, é palco de ataques armados perpetrados por indivíduos, ao que tudo indica, inspirados no radicalismo islâmico extremo.
E para o efeito, o Executivo tem-se valido de tudo, pontificando a guerra de narrativa. Depois de Amade Miquidade, Ministro do Interior, ter dito que se tratava de “acções subversivas”, esta quarta-feira, foi a vez de Jaime Neto, o Ministro da Defesa Nacional. O governante garantiu, embora sem avançar datas, que vai expor os indivíduos que, tal como disse, estão na origem da produção, montagem e difusão dos vídeos, sobre as atrocidades em Cabo Delgado.
Jaime Bessa Neto deixou a promessa durante o lançamento das comemorações dos 56 anos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Neto disse não ter dúvidas de que as imagens são tiradas por alguns cidadãos moçambicanos, montadas e, posteriormente, enviadas para fora do país. Aliás, mesmo depois de garantir que está em curso um processo investigativo para localizar a fonte, Jaime Neto assegurou que os autores já foram identificados.
“Nós estamos a investigar e vamos encontrar a fonte. Alguns moçambicanos tiram ou fazem essas imagens, montagem e entregam lá fora. Nós sabemos quem são e vamos expô-los um dia. Vamos pegá-los porque estão a agredir a nação moçambicana”, disse Jaime Neto.
O Ministro da Defesa Nacional, tal como fê-lo o seu par do Interior, negou que as FDS estejam a cometer atrocidades em Cabo Delgado e que os indivíduos (com fardamento militar) que aparecem num vídeo amador dolosamente a executar uma mulher, de tronco nu, não integram as fileiras do exército moçambicano.
O vídeo em alusão, que começou a circular, na passada segunda-feira, ilustra uma mulher, sem qualquer vestimenta e com o ventre aparentemente inchado, a ser regada de balas (disparadas de armas de vário calibre) por indivíduos trajados de uniforme das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique. A execução, a sangue frio, foi antecedida de violentas chambocadas.
Sobre o fardamento militar das FDS, o Ministro do Interior disse que os terroristas usam durante as suas incursões com intuito de fazer passar a ideia de que quem comete as atrocidades é o exército moçambicano. O desígnio, anotou o titular da pasta do Interior, é colocar a população contra as FDS, que tem como mandato defender pessoas, bens e a integridade territorial.
“Não são. Eu estou a dizer que não são”, respondeu Neto, visivelmente embaraçado com as perguntas e as insistências dos jornalistas, presentes no acto do lançamento das celebrações da semana das FADM.
Entretanto, a Amnistia Internacional (AI) disse não ter dúvidas de que o vídeo foi captado em Moçambique e que a mulher foi, de facto, executada por elementos das Forças de Defesa e Segurança. A mulher, refere a análise do Laboratório de Evidências de Crise da Amnistia Internacional, foi morta na coordenada ou perto das coordenadas -11.518419,40.021284, no meio da estrada R698, perto de uma subestação eléctrica localizada do lado oeste de Awasse, em Cabo Delgado.
A AI avança, igualmente, que a mulher foi alvejada por 36 tiros, disparados por quatro homens, que portavam Kalashnikov e uma metralhadora do tipo PKM.
Jaime Neto foi, ainda, instado a pronunciar-se sobre a prontidão e a capacidade de resposta das FDS no teatro operacional norte. A este respeito, peremptoriamente, respondeu: “se não estivessem em altura, acho que Maputo estaria ocupado”. Acrescentou: “se não estivéssemos em altura, penso que não estaríamos aqui a falar”.
No teatro operacional norte, disse o titular da pasta da Defesa, os homens continuam com “sacrifício” e “total entrega” a travar combates em defesa da soberania nacional, vincando que a eliminação ao terrorismo é o desafio da actualidade. (I. Bata)