Depois de muita perícia, “Carta” estabeleceu que o jovem militar das FDS que deu a cara após o assassinato da mulher desnudada de Awasse chama-se Ramiro Moisés Machatine. Ele filmou o curso da tragédia, e também gritou que a mulher era dos “al shababe”. No fim da mortandade, 36 balas cravadas num único corpo indefeso, filmou-se a si mesmo, com telemóvel, numa espécie “selfie” de herói vivo. O recorte dessa imagem não deixa esconder sua identidade: Ramiro Moisés Machatine. Ele tinha uma página no Facebook. Pejadas doutros tantos retratos, incluindo os de adolescente inocente dos subúrbios de Maputo.
“Carta” acedeu a página (ainda não foi descontinuada) e deu de caras com mensagens de condolências. Ontem de manhã, quarta-feira, quando tiveram conhecimento de que Ramiro morreu, seus amigos e parentes iniciaram essa romaria de condolências: RIP, Descanse em Paz.
Há 19 semanas, a 2 de Maio, Ramiro havia postado seu retrato de soldado na guerra, corpo envolto numa corrente de munições de uma metralhadora PKM. As reações a esse “post” são de amigos e colegas enaltecendo sua bravura. O mesmo “post”, hoje, carrega mensagens exprimindo a dor da perda, alguma lamentação e outras insinuações sobre vingança divina, como se Ramiro tivesse visto a morte como punição de Deus por seu envolvimento na vil execução da mulher desnudada de Awasse.
Nas mensagens postadas, há, no entanto, quem tentava alegar que Ramiro Machatine não era o carrasco de Awasse. Contra todas as aparências! Aliás, “Carta” obteve a confirmação de um familiar e doutro militar das FDS: trata-se da mesma pessoa. A princípio, os traços fisionómicos suscitam a dúvida metódica: a espessura dos lábios superiores, o tamanho dos narizes e a concavidade dos olhos parecem distintas, numa primeira observação.
No, entanto, uma continuada observação, mais os testemunhos colhidos, desfez-nos as dúvidas. Ainda não obtivemos os detalhes sobre como ele terá sido morto. Mas uma confirmação de que se trata da mesma pessoa coloca em causa a posição oficial do Governo segundo a qual o grupo de executores da mulher de Awasse não pertence às Forças de Defesa e Segurança. (Carta)