“Relaxamento quase total” é como se pode, fielmente, descrever o actual estado de coisas na cidade de Maputo, uma semana depois da implementação da primeira fase do “desconfinamento”, em todo o território nacional. Nem o crescimento galopante do número de casos de indivíduos infectados pela Covid-19 no país, estando o maior número de casos positivos da doença na cidade de Maputo, tem servido para colocar os cidadãos da capital em estado de alerta.
Numa ronda efectuada pelo nosso jornal por alguns bairros da cidade de Maputo, em dias alternados, constatou-se um completo e total à vontade. Concretamente, escalamos os bairros da Maxaquene “B”, Magoanine “A”, Jardim, George Dimitrov e 25 de Junho “A”.
Mas, na verdade, o “relaxamento” começou ainda na vigência da declaração, pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, do primeiro Estado de Emergência, que foi prorrogado por três vezes. O aumento do número de casos da doença foi o argumento usado pelo PR para justificar a manutenção do estado de excepção.
De acordo com as autoridades sanitárias, o país conta com um total de 3.332 casos. Deste universo, 1.638 são casos activos da doença, 1.927 indivíduos totalmente recuperados e 21 óbitos. A cidade de Maputo, que tem a maior taxa de positividade, conta com 938 casos positivos.
A primeira fase do “desconfinamento” iniciou no passado dia 18 de Agosto, assinalado pelo regresso das aulas presenciais nas instituições de ensino público e privado. Concretamente, as aulas presenciais nas instituições de ensino superior; nas academias e escolas das Forças de Defesa e Segurança; de ensino técnico-profissional; nas instituições e centros de formação de saúde; e formação profissional pública. Ainda na primeira fase do relaxamento, regressaram os “cultos presenciais”, obedecendo o limite de 50 pessoas.
A primeira fase do relaxamento das medidas contempla actividades de baixo risco. A fase dois, em que fazem parte actividades de médio risco, arranca a 01 de Setembro próximo. E a fase três, que inclui as de alto risco, tem o seu arranque previsto para o próximo dia 01 de Outubro.
Se o uso obrigatório da máscara, desde à primeira hora, conheceu alguma resistência, agora, poucos fazem uso da mesma. Aliás, fora do transporte semi-colectivo de passageiros, poucos são os cidadãos que se fazem à rua portando aquela peça. O distanciamento social, este, praticamente já sequer é observado. Os principais mercados da capital continuam sendo o espelho da não observância do distanciamento entre os vendedores.
Nem a greve dos “vulgos chapeiros”, havida semana finda, resolveu a questão da lotação dos autocarros pertencentes às cooperativas, que teimam em carregar passageiros muito acima do permitido. Nas horas de ponta, os aludidos autocarros ficam superlotados, sendo que para tentar disfarçar alguns passageiros são obrigados a sentar nos corredores.
Entretanto, o passado fim-de-semana foi o ponto mais alto no que ao desrespeito às medidas actualmente vigentes diz respeito. Foi, diga-se, um verdadeiro “regabofe”. As ruas da capital estavam quase lotadas de gente e viaturas num ambiente de uma descomunal diversão, ignorando o distanciamento social. Houve, inclusive, festas que contaram com os tradicionais (MC-mestres de cerimónias) e um som de bradar os céus.
Os estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas permaneceram abertos até altas horas da noite. Os clientes não paravam de entrar e sair dos bares e barracas (que funcionaram de forma “clandestina”). Entretanto, aos bares e barracas, sabe-se, continua vedado o seu funcionamento no quadro do Estado de Emergência.
O completo à vontade foi coroado pela actuação da Polícia da República de Moçambique (PRM), cujos “temidos mahindras” circulavam pelas artérias da capital sem esboçar qualquer reacção ante à “festança”. Os poucos indivíduos que eram interpelados pelos agentes foram, seguidamente, soltos, isto depois de alguns dedos de conversa. (Carta)