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sexta-feira, 07 agosto 2020 06:06

Já passam 120 dias após o desaparecimento do jornalista Ibraimo Mbaruco

“A esperança é a última que morre”, diz um adágio popular. É o que podemos dizer, em torno do desaparecimento, há 120 dias, do jornalista e locutor da Rádio Comunitária de Palma, Ibraimo Abu Mbaruco, cujo paradeiro ainda é desconhecido.

 

Mbaruco foi raptado a 07 de Abril passado, na vila-sede do distrito de Palma, na província de Cabo Delgado, quando regressava do seu posto de trabalho. Na altura, diz-se, enviou uma mensagem a um colega de serviço, dizendo que estava cercado de militares, porém, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) nunca se pronunciaram em torno do caso.

 

“Carta” conversou, esta semana, com o irmão do jornalista, neste caso Juma Mbaruco, que disse ainda não ter qualquer informação em relação ao paradeiro do irmão. À “Carta”, Juma Mbaruco contou que a família apenas foi notificada uma e única vez a comparecer ao Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) para ser ouvida em torno do caso, “mas, de lá para cá nunca mais nos disseram nada”.

 

Entretanto, a fonte revela que o contacto telefónico do irmão esteve activo até ao passado dia 08 de Julho, porém, as chamadas nunca foram atendidas, assim como as mensagens de SMS que nunca foram respondidas. Mesma versão é contada por um colega de Ibraimo Mbaruco, que diz: “a última versão que tivemos das autoridades é de que estavam a investigar”.

 

Já Arlindo Chissale, jornalista e activista social, baseado na província de Cabo Delgado, garante já não ter esperança de Ibraimo Mbaruco estar vivo. “A verdade é dura. Mbaruco já sabia e pressentia estes riscos. Eu sinto muito pelos seus filhos, que são ainda menores de idade e que nunca vão conseguir conhecer o pai. Já fizemos de tudo para localizar Mbaruco”, disse Chissale.

 

“Depois deste período, não tenho esperança de voltar a ver Mbaruco com vida. Pedimos, pelo menos, as pessoas que fizeram isso, para que possam mostrar o local, de modo que possamos render homenagem a Ibraimo Mbaruco”, acrescentou a fonte.

 

Quem também diz ainda não ter informação em torno do paradeiro de Ibraimo Mbaruco é Lázaro Mabunda, Oficial de Programas no Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA), capítulo de Moçambique, organização que já enviou, desde o rapto do jornalista, duas equipas para Cabo Delgado, de modo a averiguar o que havia acontecido.

 

“A primeira equipa trouxe um relatório que mostrava como todo o processo ocorreu. A segunda equipa foi para lá e abriu-se um processo contra desconhecidos sobre o rapto e desaparecimento dele. Estamos a trabalhar com a família para ver se recebem alguma informação ou não, mas a família também não recebe nenhuma informação. Sabemos que, no mês passado, o telefone dele chamava, mas ninguém atendia”, contou Mabunda.

 

À “Carta”, Mabunda disse ainda que o MISA já teve contactos com a Presidência da República e o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), mas ambas instituições apenas queriam perceber o que terá acontecido e colher mais informações.

 

Lembrar que, em Julho último, a Comissária da União Africana para os Direitos Humanos e dos Povos, Kayitesi Zainabo Sylvie, disse, no decurso da 66ª Sessão Ordinária daquele órgão, que enviou, a 30 de Abril último, um ofício ao Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, pedindo esclarecimentos urgentes sobre o paradeiro do jornalista Ibraimo Mbaruco.

 

Refira-se também que o caso “Ibraimo Mbaruco” é do conhecimento do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, que tomou conhecimento, através da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras, que pediu a investigação independente e imparcial do caso. (Omardine Omar)

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