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terça-feira, 30 junho 2020 05:03

Kamuzu Banda "ressuscita" no Malawi

Cerca de 26 anos depois da introdução do multipartidarismo, o MCP do falecido Kamuzu Banda volta ao poder no Malawi pela mão de Lazarus Chakwera, um ex-clérigo de 65 anos de idade. 

 

Chakwera venceu a nova eleição presidencial com 2,6 milhões dos 4,4 milhões de votos expressos, representando 58,7 por cento dos votos. Ele derrotou Peter Mutharika do DPP, Partido Progressista Democrático, que conseguiu apenas 1,7 milhão de votos. 

 

Chakwera diz que sua vitória é de todos os malawianos que os considera como seus chefes.

 

O líder do MCP ganhou a eleição presidencial do passado dia 23 de Junho, depois da anulação da anterior pelo Tribunal Constitucional a 3 de Fevereiro, algo incomum na SADC e no continente africano.

 

Lembre-se, o Judiciário anulou a eleição presidencial de 21 de Maio de 2019 citando várias irregularidades cometidas deliberadamente pela Comissão Eleitoral para favorecer a reeleição do então presidente Peter Mutharika, de 80 anos de idade, que ganhara com uma maioria simples de 38 por cento dos votos. 

 

O Tribunal Constitucional decidiu ainda que só pode ser declarado vencedor da nova eleição presidencial, realizada no passado dia 23 de Julho, o candidato que arrecadar cinquenta por cento mais um de votos. 

 

Malawi é o segundo país ao sul do Sahara a ver a sua eleição presidencial anulada pelo Judiciário depois do Quénia em 2017.

 

Chakwera, que foi empossado no último domingo como sexto presidente do Malawi pelo Juiz Andrew Nyirenda, concorreu à eleição presidencial através da Coligação Tonse Alliance que congrega nove partidos, entre os quais o MCP e o Movimento Unido para a Transformação de Saímos Chilena. 

 

O recém-eleito presidente dedicou a sua vitória a todos os malawianos que os considera como seus chefes e acrescentou, na ocasião, que juntamente com o vice-presidente, Saulos Chilima, garantirá que os malawianos tenham uma vida diferente. "Juntos faremos o que prometemos que é construir um novo Malawi que será bom para todos nós", disse Chakwera.

 

Por seu turno, Peter Mutharika, o candidato derrotado, até à data ainda não reconheceu oficialmente a derrota eleitoral, tendo se limitado a dizer que a eleição de 23 de Junho foi a pior na história do Malawi, em alusão a alegadas irregularidades registadas durante a votação e contagem de votos. No entanto, Mutharika não conseguiu provar as suas alegações junto da Comissão Eleitoral presidida pelo Juiz Chifundo Kachale.

 

Antigo jornalista da Tomes Group, Kachale foi nomeado há cerca de um mês em substituição de Jane Ashan para dirigir o processo eleitoral sem logística adequada incluindo recursos financeiros. Mutharika pediu aos seus apoiantes para evitar a violência como pressuposto para a manutenção da paz.

 

Esta declaração de Peter Mutharika foi descrita como um reconhecimento tácito da derrota.

 

Como primeira intervenção, Chakwera disse que o seu governo apresentará um orçamento provisório para os próximos três meses até que seu executivo leve ao Parlamento um novo orçamento para 2020/2021. A administração de Mutharika apresentou o orçamento para 2020/21 no início deste mês, mas ainda estava para ser debatido pelo parlamento.

 

MCP volta ao poder no meio de críticas ao regime Mutharika

 

Os malawianos foram às urnas a 23 de Junho votar contra o então presidente Peter Mutharika.

 

A queda de Mutharika da presidência estava chegando lentamente. Dizem os malawianos que Mutharika ignorou todos os sinais de alerta dos partidos da oposição, sociedade civil, judiciário, organizações religiosas e outros grupos de pressão para fazer as pazes. Era uma questão de tempo até que o seu império tribal desmoronasse nas urnas.

 

Como o rei Faraó, Mutharika endureceu o seu coração ao longo dos anos e fez vista grossa aos gritos dos malawianos para que ele governasse o país em benefício de todos.

 

Ele ficou teimoso e nunca ouviu ninguém, sendo que não se sentia à vontade para trabalhar com pessoas de outras regiões.

 

Malawi não tem províncias 

 

O Malawi possui apenas 28 distritos nas regiões Norte, Centro e Sul. Mutharika é do Sul, no distrito de Tholo, próximo de Moçambique, sendo pertencente à tribo Lomwe, que se estende até ao território moçambicano.

 

Dizem os críticos do regime de Mutharika que todas as posições de topo nas empresas públicas era uma reserva de poucas pessoas de um grupo tribal da região sul donde Mutharika é originário. Por outro lado, os contratos lucrativos eram para comparsas e para aqueles que estavam ligados a ele em termos políticos ou tribais. 

 

As embaixadas estão cheias de amigos, parentes e companheiros da região Sul.

 

Instituições públicas como a MACRA, Autoridade Reguladora das Comunicações, a Autoridade Tributária, a Empresa de Electricidade, entre outras, serviam como saco azul para desviar recursos para financiar as actividades do DPP, o Partido no Poder, e o grupo tribal Mulakhwo wa Lhomwe.

 

Mutharika presidiu um governo caracterizado por impunidade, promessas não cumpridas, corrupção, nepotismo, regionalismo, marginalização, abuso de recursos públicos e captura do Estado.

 

Não havia visão para desenvolver o país

 

Mutharika é um indivíduo que não se comoveu com a situação dos malawianos e nem se preocupou ou se importou com as acusações feitas contra ele. Ele esqueceu que um dia precisaria das mesmas pessoas que estava ignorando e vitimizando.

 

Ficou claro que Mutharika não ganharia através do sistema de 50 por cento mais um de votos ou pela via da sua tribo.

 

Também ficou claro que a população do Norte não votaria nele, porque ele tinha votado a região ao esquecimento.

 

Os malawianos nunca vão entender como é que alguém que é professor de Direito e que ensinou em várias universidades americanas e viveu nos EUA 40 anos exibiu um nível tão alto de incompetência, reduziu-se a líder tribal/regional, fez parte do sistema corrupto, lutou contra o Judiciário, ofereceu resistência na introdução de mudanças constitucionais para reforçar a democracia e permitiu que determinadas pessoas abusassem e desviassem recursos públicos sem tomar medidas.

 

É ainda acusado de ser um líder fracassado que ficará nos anais da história política do Malawi como o pior presidente desde 1994. A sua derrota é vista pela maioria dos malawianos que votaram pela mudança como uma bênção, uma vez que estavam cansados da corrupção institucionalizada, do tribalismo e da má governação e desejam uma nova vida sob a liderança de Lazarus Chakwera e do seu vice Saulos Chilima que prometeram melhorar o bem-estar de todos os malawianos independentemente da região ou da tribo.

 

A Aliança MCP-UTM tem o desafio de construir um Malawi unificado onde todos estejam acomodados e façam parte do Malawi. Para a maioria dos malawianos, a derrota humilhante de Mutharika é um castigo por agir impunemente, pois ele cometeu muitos erros e não conseguiu corrigi-los, tendo deixado um legado ruim que levará tempo para ser esquecido.

 

No entanto, os cidadãos têm o dever de fornecer freios e contra-pesos para que os líderes sejam responsabilizados.

 

O MCP está fora do poder desde as primeiras eleições multipartidárias pós-independência em Maio de 1994.

 

Sob direcção de Hastings Kamuzu Banda, o MCP operou durante 30 anos como partido único com atrocidades e terror, mas Lazarus Chakwera reconheceu esse passado sombrio e a luta que os malawianos travavam para conquistar a democracia. Chakwera deixou o púlpito como presidente da Assembleia de Deus do Malawi em 2013 para abraçar a política. 

 

Ele substituiu o veterano político John Tembo na liderança do Malawi Congress Party (MCP).(FI) 

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