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terça-feira, 19 maio 2020 05:29

Sequestros em Moçambique: Uma década de um crime ainda por “desvendar”

Há quase uma década entrava em cena, em Moçambique, uma forma de crime organizado jamais visto. Era a onda de raptos e sequestros, tendo como principais alvos cidadãos de origem asiática. Uma investigação da “Carta” constatou que a “resistência” pelo uso das novas técnicas de investigação criminal tem permitido que os sequestradores continuem a fazer o que “bem lhes apetece”, ameaçando as famílias das vítimas e levando valores monetários que nunca mais são recuperados.

 

Um especialista internacional em segurança e investigação criminal forense disse à “Carta” que os sequestradores têm recorrido ao WhatsApp para se comunicar com as famílias das vítimas, porém, conectado à rede Wi-Fi e não à internet das companhias de telefonia móvel, o que dificulta o seu rastreio pelas autoridades.

 

Segundo a fonte, em países como Estados Unidos da América (EUA), Alemanha, França e África do Sul tem sido possível rastrear este tipo de comunicação, através de tecnologia específica para o efeito. A tecnologia, conta a fonte, já foi apresentada às autoridades moçambicanas, mas nunca se mostraram abertas em adquirir o equipamento.

 

À “Carta”, fonte do Ministério do Interior contou que a indústria do sequestro começou como um ajuste de contas entre empresários que acederam ao mundo de negócios, através da prática de agiotagem, mas acabou atraindo alguns.

 

Cronologia de alguns sequestros desde Junho de 2011

 

-26 de Junho de 2011: rapto de um dos proprietários dos Armazéns Atlântico. Escapou do cativeiro antes de ser pago o resgate de cerca de 1 milhão de USD;

 

-1 de Dezembro de 2011: raptado um dos proprietários da Ferragem SOMOFER, quando fazia exercício físico no Circuito de Manutenção António Ripinga, em Maputo;

 

-5 de Dezembro de 2011: raptada uma mulher. Pagou cerca de 800 mil euros para o seu regaste;

 

-28 de Janeiro de 2012: raptada segunda mulher;

 

-11 de Fevereiro de 2012: tentativa de rapto do dono da Auto Hilux;

 

-26 de Fevereiro de 2012: rapto de um cidadão português, na Praia do Bilene, a 150 Km de Maputo (caso não registado pelas autoridades consulares);

 

-30 de Abril de 2012: tentativa de rapto de duas mulheres;

 

-19 de Maio de 2012: raptado o proprietário da Incopal e dos Armazéns Machava, na Matola;

 

-27 de Junho de 2012: raptado um empresário que esteve em cativeiro cerca de um mês;

 

-Outubro de 2013: raptado Ahmad Abudul Rachid, de 13 anos, na cidade da Beira;

 

-Novembro de 2014: raptado Momade Bashir Sulemane, proprietário do Grupo MBS;

 

-Junho de 2016: raptado Américo Sebastião, em Marínguè, província de Sofala;

 

-Março de 2017: raptado Moktar Assif na cidade da Beira;

 

-Abril de 2019: raptado Carlos Camurdine, em Maputo;

 

-28 de Novembro de 2019: raptado Shelton Lalgy, filho do empresário do ramo dos transportes Junnaid Lalgy. Rapto ocorreu na cidade da Matola, província de Maputo;

 

-06 de Dezembro de 2019: raptado filho do empresário Hanif Chacha, na cidade da Beira;

 

-13 de Janeiro de 2020: raptado Faizel Patel, no bairro da Ponta Gêa, cidade da Beira;

 

Lembrar que, de Janeiro até agora, sete empresários foram raptados no país, em concreto nas cidades de Maputo, Matola, Chimoio e Beira. Todos ainda não foram esclarecidos pelas autoridades. (Omardine Omar)

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