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terça-feira, 24 março 2020 05:08

Dois anos depois, insurgentes voltam ao local onde tudo começou… mas desta vez para içar a bandeira

Foi durante a madrugada do dia 05 de Outubro de 2017, que tudo começou, em Cabo Delgado. Coincidência ou não, mas foi também durante a madrugada, desta segunda-feira (23 de Março de 2020), que os insurgentes, que têm estado a matar, pilhar e destruir várias infra-estruturas sociais e económicas (entre públicas e privadas), conseguiram, até ao momento, aquela que pode ser considerada a maior demonstração de força, desde o início dos ataques em finais de 2017.

 

Para além da coincidência do “período de horas”, há igualmente coincidência no local. Ou seja, o local é o mesmíssimo. A vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia. Mas, desta vez, a ousadia foi tanta que culminou com a tomada total e completa daquela circunscrição territorial, que dista a pouco mais de 345 quilómetros da cidade de Pemba, a capital provincial.

 

Sem fugir aos moldes que sempre o caracterizou, o grupo atacante, empunhando armas brancas e de fogo, irrompeu vila adentro, tomou o quartel das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e, no final, içou a sua bandeira. O ataque, precisaram fontes da “Carta”, iniciou quando passavam poucos minutos da hora quatro. Depois da tomada da vila, assistiu-se a uma confrontação  armada com o exército governamental.

 

Os insurgentes, tal como contaram as nossas fontes, tomaram os edifícios oficiais e as principais vias que dão acesso à vila-sede de Mocímboa da Praia. Contaram, igualmente, que o bando atacante, durante a manhã e princípio de ontem, é quem estava fazer patrulha na vila e a rechaçar toda e qualquer investida das FDS.

 

Até ao fecho da presente edição, não foi possível apurar o número real de mortos (civis, militares e integrantes do grupo) e das infra-estruturas destruídas. As fontes contaram ainda que os insurrectos invadiram o Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) e libertaram os prisoneiros que se encontravam encarcerados.

 

Depois da informação ter começado a circular, a PRM convocou, logo pela manhã, a imprensa para, em meio sem alternativas, confirmar o ataque e, consequentemente, a tomada da vila pelos insurgentes.

 

Orlando Mudumane, porta-voz da PRM, disse que o ataque iniciou por volta das 04:30 h, quando um grupo de “malfeitores” atacou a vila, o quartel das FDS e içou a bandeira. Até ao momento, em que concediam a conferência de imprensa, disse Mudumane, as FDS estavam em fogo cruzado com os “malfeitores” com o fito de tentar recuperar a vila-sede.

 

"Neste momento, decorrem esforços no sentido de se repor a ordem e segurança pública naquele local, as Forças de Defesa e Segurança estão a desdobrar-se em vários pontos no sentido de identificar os principais pontos que os malfeitores usaram para entrar na vila de Mocímboa da Praia. Os malfeitores criaram barricadas nas principais entradas àquela vila, está-se a combate-los, as Forças de Defesa e Segurança estão em fogo cruzado com os malfeitores e acredita-se a qualquer momento a ordem será reposta", disse Orlando Mudumane.

 

O ataque, ocorrido na madrugada de ontem, tem lugar dias depois do Comandante Geral da PRM, Bernardino Rafael, ter escalado aquele ponto e orientado uma cerimónia pública de apresentação de indivíduos que se dedicavam ao aprovisionamento da logística para os insurrectos.

 

“As FDS continuam a travar um combate com os malfeitores”, Bernardino Rafael

 

Quatro horas após a comunicação do porta-voz, veio o Comandante Geral da PRM, Bernardino Rafael, falar à Nação. Bernardino Rafael apenas veio confirmar que a situação no terreno ainda estava longe de ser controlada.

 

Rafael disse que a troca de tiros continuava no teatro de operações e que as FDS tudo estavam a fazer para repor a ordem e tranquilidade naquela circunscrição territorial.

 

“Neste momento, as Forças de Defesa e Segurança continuam a travar combates na vila sede de Mocímboa da Praia. As FDS estão a fazer de tudo para devolver a ordem e segurança públicas”, confirmou.

 

De seguida, o Comandante Geral da Polícia apelou à população daquele distrito a manter a calma e permanecer em estado de alerta máximo.

 

Entretanto, nem o porta-voz e muito menos o Comandante-geral fizeram menção, nas respectivas comunicações, ao registo de qualquer vítima humana decorrente dos ataques ocorridos naquele distrito. (Carta)

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