O fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Marcelino dos Santos, que faleceu ontem aos 90 anos, na sua em casa, em Maputo, foi vítima de uma paragem cardíaca, anunciou o médico pessoal.
"Há uns anos eram frequentes os internamentos, nos últimos esteve mais estável, mas desta vez não suportou e acabou perdendo a vida: fez uma paragem cardíaca", referiu o médico Leopoldo da Costa em declarações à Televisão de Moçambique (TVM).
Segundo explicou, Marcelino dos Santos sofria de diferentes enfermidades que o obrigaram a várias hospitalizações.
"Já vinha sofrendo bastante nos últimos anos com problemas de saúde. Fui um dos médicos que o acompanhou e ele teve sempre altos e baixos no seu estado", descreveu.
O Presidente moçambicano e da Frelimo, Filipe Nyusi, bem como os órgãos do partido, já divulgaram uma nota de pesar pela morte, mas ainda não foram divulgados pormenores sobre as cerimónias fúnebres.
Natural de Lumbo, junto à Ilha de Moçambique, na província de Nampula (Norte do país), fez parte com Samora Machel e Uria Simango do "triunvirato" que chefiou a FRELIMO após a crise aberta com o assassínio de Eduardo Mondlane, em 1969.
Após a independência, exerceu entre outros cargos o de presidente da Assembleia da República de Moçambique, entre 1986 e 1994, último lugar institucional que ocupou, apesar de ter continuado na vida política.
De acordo com o partido Frelimo, Marcelino dos Santos engajou-se, desde a sua juventude, na luta contra o colonialismo e o fascismo, em Moçambique e em África, tendo participado e liderado o movimento nacionalista com destaque para a Associação dos Estudantes da Casa do Império, o Centro de Estudos Africanos e a Conferência das Colónias Portuguesas, organização de que foi Secretário-Geral.
Na estrutura da FRELIMO, movimento que ajudou a criar, proveniente da UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), um dos três movimentos que deu “corpo” àquele movimento de libertação nacional, em Moçambique, Marcelino dos Santos desempenhou as funções de vice-Presidente e Secretário de Relações Exteriores, cargo que exercia desde a UDENAMO e que ajudou este movimento a ser conhecido no plano internacional.
Aliás, coube a Marcelino dos Santos a elaboração dos primeiros estatutos da FRELIMO, após a união dos três movimentos nacionalistas, nomeadamente UDENAMO, MANU (União Nacional Africana de Moçambique) e UNAMI (União Nacional Africana de Moçambique Independente).
Após a independência do país, em 1975, Marcelino dos Santos foi Ministro da Planificação e Desenvolvimento, cargo que deixou em 1977, com a constituição do primeiro parlamento do país – a “Assembleia Popular” – do qual foi Presidente até à realização das primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Com os pseudónimos “Kalungano” e “Lilinho Micaia”, Marcelino dos Santos tem poemas seus publicados no “Brado Africano” e em duas antologias da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. Com o seu nome oficial, tem um único livro publicado pela Associação dos Escritores Moçambicanos, em 1987, intitulado “Canto do Amor Natural”. (Carta e LUSA)