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quarta-feira, 17 julho 2019 06:32

Barómetro Africano sobre Corrupção 2019: Moçambicanos apontam Governo e PRM como instituições mais corruptas do país

Com o escândalo das “dívidas ocultas” ainda na ordem do dia, os moçambicanos apontam o Governo de Filipe Nyusi como a segunda instituição mais corrupta do país, depois da Polícia da República de Moçambique (PRM). As constatações constam da 10ª edição do Barómetro Africano sobre Corrupção 2019, divulgado semana finda.

 

Baseada em entrevistas a 2.392 cidadãos nacionais, durante os meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro de 2018, a pesquisa, realizada em colaboração com a Transparência Internacional, indica que 37 por cento dos moçambicanos entendem que o Executivo moçambicano é a instituição mais corrupta do país, depois dos agentes da Polícia com 47 por cento.

 

 

Os dados, que consubstanciam as inúmeras páginas de jornais que têm revelado diversos escândalos de corrupção envolvendo membros do Governo, representam um crescimento na taxa de percepção nacional em relação às instituições mais corruptas do país. Em 2015, durante a nova edição deste instrumento de avaliação continental, apenas 33 por cento dos moçambicanos consideravam o Governo como a instituição mais corrupta, contra 43 por cento que viam na Polícia, a mais corrupta, na altura também na primeira posição.

 

De acordo com a 10ª edição do Barómetro Africano sobre Corrupção 2019, 28 por cento dos moçambicanos colocam os juízes, magistrados do Ministério Público e os homens do negócio na terceira posição dos mais corruptos do país, enquanto os líderes religiosos (22 por cento), Presidência da República (23 por cento) e deputados (24 por cento) ocupam as últimas três posições. Pelo meio, estão os Governos locais (27 por cento) e as Organizações Não-Governamentais (26 por cento).

 

Relativamente à avaliação de 2015, apenas os governos locais e os homens de negócio melhoraram a sua prestação. Há quatro anos, 33 por cento dos entrevistados colocavam os empresários na lista dos mais corruptos do país, ocupando, na altura, a segunda posição, enquanto os Governos Locais eram mal vistos por 30 por cento dos cidadãos moçambicanos. A Presidência da República e os líderes religiosos eram considerados mais corruptos apenas por 18 por cento dos inquiridos, partilhando, desta forma, a última posição.

 

Moçambique país mais corrupto da África Austral

 

O estudo, realizado entre 2016 e 2018, envolvendo 47 mil cidadãos, de 35 países africanos, que falaram sobre corrupção e experiências directas de suborno, revela que Moçambique é o país mais corrupto da África Austral, com 35 por cento dos inquiridos a admitirem que pagaram subornos durante 2018 para ter acesso aos serviços públicos. O documento sublinha que um em cada quatro moçambicanos que lidaram com polícia, escolas e centros de saúde, no ano passado, teve de pagar suborno.

 

Para além de ser “de longe a pior na África Austral”, a taxa é também considerada “alta para os padrões africanos”. Botswana (7 por cento), África do Sul, Tanzânia e Zâmbia (todos com 18 por cento), Zimbabwe (25 por cento) e Malawi (28 por cento) apresentam as melhores taxas, a nível regional, enquanto Uganda (46 por cento), Serra Leoa (52 por cento), Libéria (53 por cento) e República Democrática do Congo (80 por cento) são considerados os mais corruptos do continente. Refira-se que, nos 35 países pesquisados, cerca de 130 milhões de cidadãos admitiram ter pago subornos, no ano passado.

 

Relativamente ao nível de percepção sobre a redução ou não da corrupção, 49 por cento dos cidadãos nacionais entendem que esta tende a aumentar, contra 19 por cento que pensa estar a diminuir. Em 2015, 48 por cento dos inquiridos entendiam que a corrupção estava a aumentar contra os 20 por cento que falavam na redução deste mal, que continua a degradar a vida dos moçambicanos.

 

Neste capítulo, o nosso país encontra-se entre os seis “melhores”, onde ainda fazem parte a Costa do Marfim (40 por cento), Nigéria, Serra Leoa e Senegal (todos 43 por cento) e Libéria (47 por cento). A República Democrática do Congo (85 por cento) é considerada a pior nação africana, seguida pelo Sudão (82 por cento) e Gabão (80 por cento). No geral, 55 por cento dos africanos pensam que a corrupção aumentou nos seus países, nos últimos 12 meses, concretamente, em 22, dos 35 países abrangidos pela pesquisa.

 

Apesar de o Presidente da República, Filipe Nyusi, nos seus diversos discursos e comícios populares, reiterar o combate ao fenómeno que mina o desenvolvimento social e económico do país, o facto é que 50 por cento dos inquiridos dizem não estar a fazer nada para eliminar a corrupção, contra 37 por cento que entendem estar a fazer o seu melhor. Em 2015, 49 por cento entendiam que o Governo nada fazia para combater a corrupção, enquanto 36 por cento tinham uma perspectiva diferente. Em todo o continente, 59 por cento da população africana pensa que os seus dirigentes nada fazem para acabar com este mal. (Abílio Maolela)

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