O embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Maputo, Peter Vrooman, enviou um telegrama urgente ao Secretário de Estado Marco Rubio dizendo que o encerramento da Agência norte-americana de Desenvolvimento Internacional em Moçambique (USAID), com consequência nos contratos laborais dos seus funcionários, resultaria numa "grande vulnerabilidade".
Segundo Vrooman, a medida tornaria impossível para o governo dos EUA administrar adequadamente 1,5 bilião de dólares em programas de ajuda, grande parte deles fornecendo assistência humanitária vital.
Depois de anunciar a suspensão da assistência financeira em todo o mundo, o presidente Donald Trump decidiu encerrar temporariamente todas as delegações da USAID, incluindo em Moçambique.
No telegrama, cuja cópia foi obtida pelo The New York Times, o diplomata norte-americano refere que a ausência de funcionários experientes da agência em Moçambique deixaria em "banho maria" 114 iniciativas de financiamento em curso e mais de 225 trabalhadores juniores, provavelmente cidadãos locais, "que exigirão gestão e supervisão".
O telegrama pinta um quadro de caos prestes a afectar a missão diplomática dos EUA e cidadãos vulneráveis de Moçambique por causa da partida iminente dos experientes trabalhadores de ajuda, muitos dos quais oficiais do Serviço Exterior com muitos anos ou décadas de serviço.
“Como resultado, não conseguimos implementar protecções, procedimentos e gestão suficientes para evitar fraudes, desperdícios, abusos e má gestão”, escreveu Vrooman no telegrama, que é rotulado como “sensível, mas não classificado”.
Outros chefes de missões em África também estão a enviar telegramas semelhantes ao Secretário de Estado num raro esforço coordenado, disse uma fonte com conhecimento dos telegramas.
Rubio anunciou na segunda-feira que seria administrador da USAID, encerrando o seu “status” independente, e nomearia Pete Marocco, um funcionário do Departamento de Estado que trabalhou no primeiro governo de Trump, para supervisionar as operações diárias.
Elon Musk, conselheiro bilionário do presidente Trump, trabalhou com Marocco para forçar cortes drásticos na agência, congelar grande parte da sua infra-estrutura de tecnologia e bloquear os trabalhadores dos sistemas electrónicos, essencialmente, interrompendo as operações da agência antes do desmantelamento completo.
Em linha com a decisão do encerramento da USAID, todos os funcionários da Agência ao redor do mundo - mais de 10.000 trabalhadores foram obrigados a entrar em licença administrativa - e todas as contratações directas devem retornar aos Estados Unidos em 30 dias. No entanto, essas ordens foram temporariamente bloqueadas por um juiz.
Em 20 de Janeiro, Donald Trump assinou uma ordem executiva suspendendo a ajuda externa como sua principal acção de política externa, e o Secretário de Estado Marco Rubio disse que as autoridades farão em 90 dias uma revisão de toda a ajuda. O orçamento total do governo para ajuda externa dos EUA em várias agências, grande parte dela assistência humanitária, é de cerca de US$ 60 biliões por ano, menos de 1% do orçamento federal.
No telegrama da embaixada em Maputo, Vrooman, um diplomata de quase 35 anos que também serviu como embaixador no Ruanda, pediu ao Secretário de Estado que isentasse cinco funcionários de agências de ajuda da saída forçada "para concluir os controlos de propriedade e gestão necessários e as operações de encerramento de contratos, de uma maneira que proteja os interesses nacionais dos EUA e minimize as responsabilidades legais" para o governo dos EUA.
Vrooman também defendeu isenções para oito cargos de saúde para tentar manter programas de assistência humanitária. A ausência dos funcionários de saúde necessários "colocará em risco a eficácia da isenção para salvar vidas", escreveu Vrooman, em letras garrafais.
Ele observou que a USAID apoia 40 programas de salvamento de vidas e de emergência e que, em Moçambique, mais de dois milhões de pessoas dependem do fornecimento de medicamentos anti-retrovirais para prevenir a disseminação do HIV/SIDA e cepas de tuberculose.
Um programa da USAID que exige a presença de um gestor experiente em Moçambique fornece tratamento essencial para 389.000 pessoas vivendo com HIV, observou Vrooman. Ele escreveu também no telegrama que os funcionários da USAID com crianças em idade escolar devem ter permissão para permanecer no país até meados de Junho, quando o ano lectivo termina. (Carta)