Foi consumada, na manhã desta quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025, a transição do poder político no país, com a investidura de Daniel Francisco Chapo como o quinto Presidente da República de Moçambique, em substituição de Filipe Jacinto Nyusi, que vinha liderando os destinos da nação desde 15 de Janeiro de 2015.
A cerimónia, que teve lugar na Praça da Independência, em Maputo, foi caracterizada por fortes medidas de segurança e pela ausência das habituais camisetas e bandeiras vermelhas do partido Frelimo, assim como do desfile militar, em apresentação ao novo Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Num cenário característico de um país em “tensão”, as principais ruas e avenidas da capital do país estiveram tomadas por militares e agentes da Polícia, uns equipados a rigor e outros à paisana, mas todos devidamente armados. Aliás, a cerimónia estava repleta de agentes de segurança que o público espectador.
Os sinais da militarização da capital do país estavam visíveis desde a entrada do Aeroporto Internacional do Maputo até ao centro da cidade de Maputo, tanto usando a Avenida De Angola, assim como a Avenida dos Acordos de Lusaka, as duas principais vias que dão acesso ao centro de Maputo, saindo do Aeroporto. Em todo trajeto (em ambas vias) era notável a presença massiva de agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR, a polícia antimotim) e de viaturas de patrulha.
Já no centro da cidade de Maputo, as FDS haviam bloqueado os cruzamentos da Avenida Eduardo Mondlane com as avenidas Guerra Popular, Filipe Samuel Magaia, Karl Marx, Olof Palm e Vladimir Lenine, assim como os cruzamentos destas aveninas com a 25 de Setembro. Também estavam bloqueados alguns troços das avenidas Zedequias Manganhela, Josina Machel, Fernão Magalhães, 24 de Julho, Samora Machel, Ho Chi Min e a Rua da Rádio.
Em todos pontos bloqueados, para além de agentes da Polícia de Trânsito, estavam também os agentes da Polícia antimotim, militares e viaturas blindadas da Polícia e das FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique). O trânsito de viaturas e pessoas era apenas permitida a cidadãos devidamente acreditados ou convidados à cerimónia de investidura do Chefe de Estado.
Aliás, o acesso à Praça da Independência era feito mediante a apresentação do crachá ou do convite, sendo que as pessoas que não portavam estes “bilhetes” não tinham permissão para entrar no recinto do evento. A triagem, no caso dos jornalistas e do “público em geral”, era feita a partir do cruzamento entre as avenidas 25 de Setembro e Samora Machel.
Igualmente, os acessos ao local da cerimónia, sublinhe-se, estavam confiados à Casa Militar, a guarda presidencial. Aliás, mais de uma dezena de autocarros foram mobilizados para transportar elementos das FADM, na sua maioria da Casa Militar e da Polícia Militar. Os céus de Maputo estavam tomados de helicópteros (dois) da Polícia e os edifícios localizados nas redondezas da Praça da Independência serviam de campos de tiro dos atiradores de elite.
Para além de autocarros para o transporte de militares, igualmente foram mobilizados mais de 10 autocarros para transportar claques do partido Frelimo, provenientes de diversos bairros da cidade de Maputo. No entanto, diferentemente dos outros eventos, as referidas claques (na sua maioria da OJM e OMM) não traziam quaisquer itens do partido no poder: camisetas, capulanas, bonés e/ou bandeiras.
Os cânticos e as palmas constituíram a única identidade presente das claques da Frelimo, sobretudo durante a entrada e saída do novo Presidente da República, tal como no decorrer da leitura do termo de juramento e na passagem dos símbolos do poder.
No fim, contrariamente ao que estava agendado (e anunciado no início do evento), não houve a habitual parada militar ou desfile militar, que marca a apresentação das Forças de Defesa e Segurança (Polícia e Forças Armadas) ao novo Comandante-em-Chefe. O Protocolo de Estado não deu quaisquer explicações em torno do caso.
Refira-se que ao longo da cerimónia, que durou cerca de três horas houve registo de corte de energia, que se prolongou por pouco mais de 10 minutos, tendo causado desconforto e desconfiança à maioria dos convidados.
O sistema de ventilação também esteve deficitário, obrigando os convidados a recorrer aos leques para abafar o calor (de 34ºC) que se fazia sentir no local, tal como as telas gigantes instaladas no local para que os convidados e o público em geral acompanhassem o evento. Aliás, o problemas das telas era extensivo à sala de imprensa, onde os jornalistas tinham apenas o som (diga-se de qualidade), mas sem acesso às imagens do evento. (A. Maolela)