A cidade e a província de Maputo acordaram nesta segunda-feira aos tiros, com novas barricadas, pneus incendiados em vários pontos e comércio fechado, além de transporte público paralisado, tudo devido à nova onda de manifestações em protesto contra os resultados das eleições de Outubro de 2024, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Na baixa da cidade de Maputo, os estabelecimentos comerciais estavam fechados e sem os habituais clientes. O transporte público ficou paralisado, os veículos particulares circulavam de forma tímida e até os arrumadores de carros não estavam nas ruas.
Em alguns pontos, os manifestantes ergueram barricadas para impedir a livre circulação de pessoas e bens e queimaram pneus, como em Malhampsene, Maquinag, nas Avenidas das FPLM e Acordos de Lusaka, nas proximidades de Joaquim Chissano. Na zona da Casa Branca, o cenário era o mesmo: vários pneus incendiados e uma presença musculada dos homens da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e militares, empenhados na remoção dos objectos e em apagar o fogo causado pelos pneus colocados no meio da estrada. Em alguns bairros da Matola, circularam relatos dando conta de um helicóptero que sobrevoava áreas residenciais nas primeiras horas do dia, disparando balas verdadeiras.
Nas paragens, o número de passageiros aumentou consideravelmente no fim da tarde, com pessoas tentando chegar a diversos pontos. Os moto-táxis eram os meios de transporte mais visíveis nas estradas, mas cobravam preços elevados, alegando escassez de combustível devido ao encerramento de alguns postos de abastecimento.
Vale destacar que, enquanto o povo se manifestava nas ruas, ocorria em simultâneo a investidura dos deputados na Assembleia da República, na sua X Legislatura. Aliás, devido à cerimónia de investidura dos deputados, várias ruas e avenidas da Cidade de Maputo estiveram bloqueadas pela Polícia, sobretudo a Avenida 24 de Julho, cuja circulação era impedida a partir da Praça 16 de Junho até ao cruzamento da Avenida Mohamed Said Barre.
Para além do bloqueio de estradas, a cidade de Maputo continuou militarizada, um cenário que se verifica desde Outubro passado. Carros de assalto, armas de guerra e aviões de espionagem e atiradores de elite foram mobilizados para fazer a segurança do evento. O Município de Maputo tomou as ruas para remover o lixo que gerava caos em várias áreas da cidade.
Relatos que chegam de outras partes do país indicam que a Estrada Nacional Número 1 (EN1), especificamente em Incaia, no distrito de Bilene, na província de Gaza, estava bloqueada. Além disso, diversas infra-estruturas públicas e casas de funcionários foram vandalizadas e incendiadas pelos manifestantes. Diversos documentos, como cédulas, livros de registo, entre outros, foram queimados no fim do dia deste domingo.
Ainda ontem, Malawi anunciou que os seus autocarros de passageiros com destino à África do Sul ficaram imobilizados durante várias horas em Moçambique, precisamente em Tsangano, próximo da vila de Ulónguè, depois de manifestantes terem bloqueado a estrada em direcção à cidade de Tete.
Os transportadores malawianos usam o corredor de Tete para chegar à África do Sul, passando pelo Zimbabwe. A crise pós-eleitoral em Moçambique está a afectar igualmente o escoamento de combustível e de fertilizantes dos portos moçambicanos para o Malawi. (M. Afonso)