Ainda não há clareza se o candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane, segundo mais votado nas Eleições Gerais de 09 de Outubro último e rosto da maior revolta popular da história do país, terá assento no diálogo político em curso na Presidência da República, entre Filipe Nyusi (já de malas prontas) e os líderes dos partidos políticos com assento no próximo Parlamento.
É que o Secretário-Geral da Frelimo e Presidente proclamado pelo Conselho Constitucional Daniel Chapo disse ontem que o diálogo em curso é destinado aos partidos políticos e que futuramente será alargado à sociedade civil e outros extractos sociais sem, no entanto, citar o nome de Venâncio Mondlane, autoproclamado Presidente da República.
“A mesa [grupo] de diálogo aqui presente está em aberto, mas o que está aqui presente são plataformas partidárias (…), por isso os líderes partidários estão representados ao mais alto nível, mas futuramente este diálogo vai ser aberto à sociedade civil e todos os extractos sociais porque vão existir várias matérias, algumas técnicas”, afirmou Daniel Chapo, sem clarificar se Venâncio Mondlane seria ou não integrado na mesa do diálogo.
O pronunciamento foi feito na manhã desta quinta-feira no fim de mais um encontro entre o Presidente da República e os líderes dos partidos políticos com assento parlamentar na X Legislatura (que inicia na próxima segunda-feira), que contou com a presença do Presidente da Nova Democracia, a maior força política da oposição nas Assembleias Municipais (em Gurué, na província da Zambézia), entre os partidos extraparlamentares.
Segundo Daniel Chapo, porta-voz do encontro, os participantes do diálogo desta quinta-feira chegaram ao consenso de que devem continuar a trabalhar para as reformas, “que é objectivo principal do povo moçambicano”. “Estamos a falar de reformas relacionadas com a Lei Eleitoral, o aprimoramento do processo de descentralização e de reformas que nos possam levar à revisão da Constituição [da República] para acomodar os interesses do povo moçambicano e outras reformas que forem necessárias”, afirmou Chapo, numa conferência de imprensa de sete minutos, reiterando que a plataforma actual é partidária.
Chapo disse ainda haver um consenso no sentido de se formar grupos de trabalho “que vão fazer parte da Comissão Técnica”, que será responsável por aprimorar os temas discutidos.
Lembre-se que Venâncio Mondlane chegou na manhã de ontem à Maputo, proveniente da parte incerta, após ter fugido do país a 24 de Outubro por temer os esquadrões da morte que, a 18 de Outubro, mataram o seu advogado Elvino Dias e o mandatário do PODEMOS Paulo Guambe.
À sua chegada, Venâncio Mondlane disse que o seu regresso visava, entre outros objectivos, quebrar a “narrativa” de que a sua ausência do país inviabiliza o diálogo político visando pôr fim à crise pós-eleitoral e às manifestações contra os resultados eleitorais de 09 de Outubro. No entanto, tudo indica que não será desta que será chamado à mesa do diálogo.
Segundo Filipe Jacinto Nyusi, que deixa a Presidência da República na próxima quarta-feira, a intenção final do diálogo político “é a estabilização de Moçambique”, acreditando que “vamos encontrar saídas”. “Os moçambicanos têm essa capacidade. Acredito que a situação vai-se inverter a favor dos moçambicanos”.
Refira-se que Moçambique vive a sua pior crise política pós-eleitoral desde 1990, motivada pela contestação popular dos resultados eleitorais de 09 de Outubro, que dão vitória ao partido no poder e o seu candidato presidencial com mais de 67% dos votos.
Perto de 300 pessoas perderam a vida durante as manifestações populares convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane, que se autoproclama Presidente eleito pelo povo. O encontro de ontem foi o segundo entre o Chefe de Estado e os cinco líderes partidários. A primeira reunião foi realizada no dia 30 de Dezembro. (Carta)