Tal como fora anunciado, na semana finda, pelo candidato Venâncio Mondlane, o Acórdão de validação e proclamação dos resultados eleitorais de 09 de Outubro, lido esta segunda-feira, em Maputo, pela Presidente do Conselho Constitucional, activou uma nova onda de protestos, denominada “Turbo V8”, em contestação aos resultados eleitorais.

Ontem, minutos após a proclamação de Daniel Francisco Chapo como o quinto Presidente da República de Moçambique, uma nova onda de manifestações entrou em curso, com a queima de pneus, viaturas e destruição de diversas infra-estruturas, entre privadas e públicas.

Em Bobole, distrito de Marracuene, um autocarro de transporte de passageiros da empresa Entre Rios foi incendiado e um comboio de transporte de carga, contendo lenha e carvão vegetal, foi saqueado pela população. Em Boane, os manifestantes queimaram uma viatura da Polícia da República de Moçambique e saquearam diversos estabelecimentos comerciais.

No bairro George Dimitrov, vulgo Benfica, um balcão do BCI foi incendiado, enquanto um armazém da Handling foi saqueado. Ainda houve registo do incêndio do balcão do BIM, no bairro 25 de Junho A e a destruição das portagens de Maputo (pertencente à concessionária sul-africana TRAC) e da Matola-Gare e Cumbeza, instaladas pela REVIMO, na Estrada Circular de Maputo.

No bairro de Inhagoia A, os residentes incendiaram o Posto Policial local e a Secretaria do bairro, incluindo a sede do partido Frelimo. Um condomínio luxuoso foi invadido, no bairro da Costa do Sol. No bairro de Maxaquene, moradores retiraram pavês da estrada e, no bairro da Urbanização, um edifício novo do Tribunal Distrital de KaMaxaquene foi também incendiado.

A fábrica da empresa Cervejas de Moçambique (CDM), localizada no bairro do Jardim, também foi invadida e saqueada, curiosamente diante de um olhar de um contingente das FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique). Aliás, parte do saque aconteceu diante da Polícia.

Um vídeo amador gravado a partir do Distrito Municipal KaTembe, do lado sul da baia de Maputo, momentos depois da proclamação dos vencedores das eleições de 09 de Outubro, mostra uma cidade capital pintada de fumo negro, como reflexo da queima de pneus, em diferentes pontos da cidade de Maputo. Várias avenidas da capital do país estiveram em bloqueadas e com pneus em chamas.

Em grande parte das situações registadas e relatadas à “Carta”, não havia registo de confrontos entre a Polícia e os manifestantes, mercê da “recolha” das FDS (Forças de Defesa e Segurança) após a proclamação dos resultados. No entanto, na Avenida Joaquim Chissano, local dos primeiros confrontos entre a Polícia e os apoiantes de Venâncio Mondlane, a 21 de Outubro, houve intervenção da Polícia antimotim (UIR-Unidade de Intervenção Rápida), com casos de lançamento de gás lacrimogénio e disparo de balas reais.

Aliás, há relatos dando conta de que, pela noite, a Polícia, estando à paisana, esteve a perseguir alguns manifestantes, entrando de casa-em-casa para assassinar os presumíveis vândalos. Um dos casos ocorreu no bairro 25 de Junho.

Referir que a Área Metropolitana do Grande Maputo, que compreende as cidades de Maputo, Matola e as vilas de Marracuene e Boane, vive um ambiente de tensão desde as primeiras horas desta segunda-feira, com o registo do bloqueio de estradas, encerramento de lojas e serviços públicos, assim como a falta de transporte público. (Carta)