O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, confirmou, nesta quinta-feira, ter mantido, na última quarta-feira, contacto com o candidato presidencial Venâncio Mondlane, via telefone, por forma a colocar um ponto final na tensão política pós-eleitoral, caracterizada por manifestações populares, convocadas pelo candidato, em repúdio aos resultados eleitorais de 09 de Outubro, que dão vitória à Frelimo e ao seu candidato com mais de 70% dos votos.
Numa comunicação à nação, convocada por ocasião das Festas do Natal e do Fim do Ano que se comemoram nos próximos dias 25 e 31 de Dezembro, Filipe Nyusi disse que a conversa levou mais de uma hora, porém, recusou-se a partilhar o conteúdo ou parte do conteúdo da mesma.
“Por minha iniciativa, entrei em contacto com Venâncio Mondlane, candidato a Presidente da República (…). A conversa com o candidato Venâncio Mondlane foi serena e levou muito tempo – mais de uma hora. E pelo grau de responsabilidade, que quero manter, não quero comentar etapas. Irei continuar com este tipo de diálogo, respeitando a privacidade de cada um, com muita responsabilidade e não só, com muitas sensibilidades e todos aqueles que são determinantes neste processo”, afirmou o Chefe de Estado, no fim de uma comunicação de 55 minutos, na qual voltou a fazer a retrospectiva da sua governação, iniciada a 15 de Janeiro de 2015 e renovada a 15 de Janeiro de 2020.
O contacto telefónico entre o Presidente da República e o candidato presidencial suportado pelo PODEMOS foi anunciado pelo próprio Venâncio Mondlane, na mesma quarta-feira, durante uma videoconferência com deputados do grupo Renew (que inclui a Iniciativa Liberal), realizada no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França. Tal como Filipe Nyusi, Venâncio Mondlane não revelou o conteúdo da conversa.
No encontro, Venâncio Mondlane disse que estava “profundamente convencido” de que Filipe Jacinto Nyusi “quer permanecer no poder”, pelo que “ele espera que eu incentive as pessoas a fazerem manifestações violentas para ter uma razão para declarar Estado de Emergência e assim poder permanecer no poder mais algumas semanas”.
No entanto, o Chefe de Estado – que também é Presidente da Frelimo, partido que governa o país desde 1975 e cuja vitória e legitimidade estão a ser postas em causa nas ruas – voltou a garantir que irá deixar o poder no dia 15 de Janeiro de 2025 e que não tenciona decretar o Estado de Sítio e nem o Estado de Emergência como forma de se manter no poder, como se falava em surdina.
“Porque jurei respeitar a Constituição [da República], a certeza que eu tenho, e quero deixar claro, é que, em Janeiro de 2025, deixo o poder”, afirmou Filipe Jacinto Nyusi, defendendo que “as narrativas só confundem a população”. O Chefe de Estado reitera ainda que deixa o Palácio da Ponta Vermelha “com sentido de missão cumprida”.
“Sempre disse que não tenho nenhuma intenção de permanecer no poder e muito menos de fazer o terceiro mandato, como queriam muitos insistir, ou decretar o Estado de Sítio ou de Emergência para me manter no poder. Os moçambicanos podem estar confiantes, seguros e tranquilos porque isso não vai acontecer”, disse Nyusi, de forma reiterada.
O Presidente da República defende que o seu compromisso “é com a paz” e que tem “tentado, humildemente”, dar o seu melhor para que a paz aconteça, embora “por vezes considerando-nos exageradamente tolerantes”.
Refira-se que o país vive, desde quinta-feira da semana passada, uma trégua nos protestos, sendo que a próxima fase das manifestações, nas palavras de Venâncio Mondlane, está dependente do Acórdão de validação dos resultados eleitorais, a ser divulgado, em princípio, na segunda-feira, pelo Conselho Constitucional. (A. Maolela)