Se nas zonas centro e norte de Moçambique, o voto é partilhado entre o partido no poder e a oposição, na zona sul, a Frelimo tem um “controlo total” do eleitorado, ganhando, geralmente, os escrutínios com mais de 75% dos votos, com destaque para a província de Gaza, onde passeia a sua classe, geralmente, com ajuda de eleitores “fantasmas”.
Entretanto, nos últimos anos, as cidades de Maputo e Matola, na província de Maputo, tornaram-se em novas zonas de influência da oposição. Em 2018, a cidade da Matola foi o principal palco de batalha eleitoral da zona sul, que obrigou a Comissão Nacional de Eleições a emitir três editais com diferentes resultados, entre os quais, um dando vitória à Renamo.
À semelhança das autarquias de Monapo (Nampula), Alto-Molócuè (Zambézia) e Moatize (Tete), na Matola, o maior parque industrial do país, a Frelimo conseguiu a vitória nos últimos segundos, tendo vencido com uma diferença inferior a 1%.
Encabeçada por Calisto Cossa, a lista da Frelimo na Matola obteve 48,05% dos votos, que lhe valeu 29 mandatos, contra 47,28% da Renamo, que conseguiu 28 mandatos, enquanto o MDM teve 4,11%, tendo ficado com dois mandatos. Junta, a oposição formava a maioria na Assembleia Municipal, porém, nunca se fez sentir devido aos desalinhamentos entre as duas forças políticas naquela autarquia. Aliás, em todos os municípios onde a oposição constituía a maioria, nunca se sentiu a sua utilidade, tanto em autarquias governadas pela Renamo, como nas governas pela Frelimo e MDM.
Com o descalabro da governação de Calisto Cossa, que chegou àquele município em 2013, como “messias”, a Frelimo foi obrigada a mudar de jogador, tendo apostado no entusiasta Júlio Parruque, actual governador da província de Maputo.
No entanto, o custo de vida e a onda de criminalidade que afecta a cidade, aliados à incapacidade da Frelimo em reestruturar os novos bairros da Matola e combater as cheias em alguns bairros históricos daquela autarquia, parecem ser um cocktail perfeito para se assistir a uma nova batalha eleitoral nesta autarquia, onde a oposição denunciou o recenseamento de pessoas provenientes de Moamba.
Para as próximas eleições, a Renamo volta a apostar no deputado António Muchanga, enquanto o MDM trocou o deputado Silvério Ronguane, que vai à nova autarquia de Matola-Rio, pelo comentador político Augusto Pelembe. A autarquia da Matola terá 66 mandatos e são esperados 645.994 eleitores.
Refira-se que durante a apresentação do cabeça-de-lista da Frelimo para a cidade da Matola, o antigo Delegado Político do MDM, na capital da província de Maputo, disse que apoiava a candidatura de Júlio Parruque por ser seu “amigo de infância e colega de escola”.
Outra nova zona de influência da oposição é a cidade de Maputo, a capital do país, onde o MDM, liderado por Venâncio Mondlane, conseguiu 39.98% dos votos, em 2013, contra 58.48% ganhos por David Simango (da Frelimo), então Edil da “cidade das acácias”. Em 2018, a Frelimo voltou a vencer o escrutínio, mas com 56,95% dos votos, contra 36,43% ganhos pela Renamo e 5,13% do MDM. A Frelimo obteve 37 mandatos, enquanto a Renamo teve 24 mandatos e o MDM três mandatos.
Com o descalabro da governação de Eneas Comiche, no seu regresso inglório à capital do país, a oposição poderá voltar a ter voz na principal cidade moçambicana, o maior centro de negócios de Moçambique.
A Renamo volta a apostar as suas fichas no deputado Venâncio Mondlane, depois de, em 2018, ter sido afastado da corrida, num triunvirato que evolveu a Frelimo e o MDM, na altura zangado com a saída do deputado do MDM para a “perdiz”. O MDM, que esperava por uma coligação com a Renamo para as próximas eleições autárquicas, também volta a apostar em Augusto Mbazo. A capital do país terá 65 mandatos, esperando-se que compareçam às urnas 635.287 eleitores.
Depois de Matola e Cidade de Maputo, a vila da Massinga, na província de Inhambane, é outra autarquia do sul do país que mostra haver alguma influência dos partidos da oposição. Em 2018, a Renamo conseguiu seis mandatos, enquanto o MDM obteve um mandato. A Frelimo ganhou a eleição, mas com 57,25% dos votos, o resultado mais baixo conseguido pelo partido no poder nas eleições de 2018, em todas as autarquias da província de Inhambane. Conseguiu 10 mandatos.
Para as próximas eleições, a Frelimo aposta em Roberto Zunguze, enquanto a Renamo escolheu Chaile Matimo e o MDM elegeu Verdiano Massingue. Em Massinga estão recenseados 31.102 eleitores e estarão em disputa 21 mandatos.
Refira-se que, nas restantes autarquias das províncias de Inhambane e Maputo, assim como em todos os municípios da província de Gaza é quase certa a vitória da Frelimo, a calcular pelo nível de popularidade dos partidos da oposição. (A. Maolela)