O Banco de Moçambique diz que o sistema financeiro nacional continuou durante o primeiro semestre de 2022 a desenvolver as actividades de intermediação financeira e de prestação de serviços de pagamentos sem perturbações, mas caracterizado por múltiplas vulnerabilidades resultantes dos sucessivos choques que têm estado a abalar a economia doméstica.
Entre as principais vulnerabilidades, a instituição destaca a persistência da instabilidade militar em Cabo Delgado, elevado endividamento do sector público, factores climáticos adversos, nomeadamente o ciclone Gombe e a depressão tropical Ana, e a confiança do país no mercado internacional.
Em Boletim de Estabilidade Financeira referente aos primeiros seis meses de 2022, o Banco Central refere que, apesar da redução da intensidade e frequência dos ataques, num contexto de acalmia na região centro do país, ainda que o processo de desarmamento, desmobilização e reintegração não se encontre encerrado.
“Esta instabilidade levou à manutenção da suspensão do projecto em terra da Mozambique LNG - TotalEnergies localizado na península de Afungi. A incerteza quanto ao reinício das actividades de exploração dos recursos energéticos na bacia do Rovuma afecta a perspectiva de crescimento económico para o país em resultado das receitas esperadas, pesem embora os avanços apontados na exploração offshore de gás ao largo da península de Afungi, pela ENI. A instabilidade militar condiciona a actividade económica e incrementa os gastos do Governo em logística militar e assistência humanitária, além de limitar a inclusão financeira”, lê-se no documento.
Aliado ao terrorismo, o Banco de Moçambique constou ainda que, no primeiro semestre de 2022, foi notória a prevalência da pressão sobre o endividamento interno do Estado junto ao sistema financeiro. Efectivamente, a fonte relata que a dívida interna do Estado incrementou em 24,26 biliões de Meticais, nos primeiros seis meses de 2022, a reflectir a utilização de bilhetes do Tesouro para o financiamento do défice corrente.
O Boletim relata que, até ao período em referência, o stock total da dívida pública (interna e externa) contratada pelo Estado situava-se em 908 biliões de Meticais contra 848,8 biliões de igual período de 2021.
O elevado endividamento continuou a manchar a confiança do país no mercado internacional, apesar da retoma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Com isso, as agências de notação financeira continuaram a colocar a economia nacional como menos fiável. “Os principais agentes de notação financeira mantiveram a classificação do país em risco substancial no mercado internacional. A classificação de risco substancial, no mercado internacional, apesar da melhoria verificada, ainda impõe restrições no acesso aos mercados financeiros, o que pode incrementar o risco de mercado no sistema financeiro doméstico nas componentes taxa de câmbio e taxa de juros”, lê-se no Boletim.
Aliado à baixa confiança no mercado financeiro internacional, no primeiro semestre de 2022, o sistema financeiro viu-se vulnerável devido ao ciclone Gombe e à depressão tropical Ana, que afectaram as regiões centro e norte do país, tendo tido impacto severo nas infra-estruturas (vias de comunicação, fábricas, campos de cultivo, entre outros) e no bem-estar da população, gerando elevados custos económicos e sociais.
“Estes eventos extremos impactaram os níveis de produção do país, em resultado da destruição de infra-estruturas e da produção, além de terem influenciado a capacidade das famílias e empresas de honrarem os seus compromissos com o sector bancário”, observou o Banco de Moçambique. (Carta)