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segunda-feira, 29 agosto 2022 03:04

Quando é que Filipe Nyusi vai apresentar os moçambicanos que financiam terrorismo em Cabo Delgado?

De quando em vez, o Presidente Filipe Nyusi surge com um discurso alarmante sobre a guerra em Cabo Delgado, mostrando que tem dados de "inteligência" dramáticos e que sugerem que o terrorismo na província nortenha não passa de uma agressão externa, com financiamento externo – dificilmente ele admite que factores internos como a exclusão social possam ser um dos combustíveis vitais da insurgência - mas com colaboradores que operam dentro do país.

 

Na semana passada, ele trouxe uma nova ladainha, no seu actual estilo discursivo de franco atirador. Ele falou sobre a existência de proprietários de postos de abastecimento de combustível que financiam o grupo terrorista que desestabiliza a província de Cabo Delgado há quase cinco anos.

 

Foi numa reunião com os Conselhos Executivo e de Representação do Estado na província de Sofala, onde se encontrava de visita. Segundo Filipe Nyusi, “há proliferação de bombas de combustíveis” na província de Sofala, sendo que alguns proprietários “usam estes meios [postos de abastecimento de combustível] para subsidiar os terroristas”.

 

“Algumas pessoas, proprietários de bombas de combustível, fugiram. Quando fomos procurá-los, tinham desaparecido”, disse Nyusi aos membros do Governo provincial e da Secretaria de Estado de Sofala, tendo ordenado à Autoridade Tributária de Moçambique a fiscalizar o negócio.

 

Os pronunciamentos de Filipe Nyusi causaram alguma indignação na sociedade moçambicana, pelo facto de o negócio dos combustíveis não constar da lista dos negócios com riscos altos ou vulneráveis ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, de acordo com um estudo elaborado pelo Gabinete de Informação Financeira de Moçambique, e também por não apontar os envolvidos.

 

O estudo foi a principal fonte de informação usada pelo Governo para a elaboração da Estratégia de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais e da Proliferação Nuclear para o período 2023-2027, aprovada pelo Conselho de Ministros na semana passada. O documento visa construir e manter um sistema financeiro robusto e prevenir o financiamento ao terrorismo.

 

Na verdade, nao foi a primeira vez que o Presidente da República denunciou a existência de moçambicanos que apoiam o terrorismo, sobretudo na província de Sofala, mas sem apontar nomes. A 31 de Agosto de 2020, durante o lançamento da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), Filipe Nyusi disse não ter dúvidas de que o terrorismo tinha raízes externas, porém, com cúmplices no território nacional.

 

“No princípio apresentavam-se como uma desordem pública, perpetrada por criminosos, que tinham em vista saquear bens da população e explorar de modo descontrolado recursos que jazem no solo pátrio. O seu modus operandi foi modificando e sabemos hoje que fazem parte de uma rede internacional que tem por objectivo claramente agredir o nosso Estado e tem contado com algumas ligações internas, que lhes garantem penetração comunitária. Hoje, de modo nítido e seguro, já podemos afirmar que fazem parte de uma rede terrorista, que de forma progressiva envereda por actos contra o Estado moçambicano”.

 

Já em Agosto de 2019, Nyusi disse existirem empresários beirenses que estavam a apoiar o terrorismo por estarem descontentes com o combate à exploração e comercialização ilegal da madeira.

 

“Há sinais de alguns moçambicanos, que vivem aqui, que vivem bem na Beira, que não estão satisfeitos, porque algumas oportunidades que se calhar tinham já não têm, pois, as coisas são feitas com alguma transparência. Quando a gente diz que a madeira agora tem de ser feita assim, ele fica zangado e vai ficar no mato. Quando, por exemplo, antes ele conseguia as coisas sem concurso, agora a gente diz vai lá concorrer, fica zangado e manda filho do outro para ir morrer”, afirmou.

 

Em Julho, também do mesmo ano, o Chefe de Estado disse, em comício popular no Posto Administrativo de Socone, na província da Zambézia, existirem “falsos empresários” que recrutavam jovens, sendo que alguns estavam presos.

 

No entanto, em nenhuma destas ocasiões, o Chefe de Estado apontou os nomes. Também as autoridades policiais nunca apresentaram e nem detiveram publicamente qualquer indivíduo indiciado de financiar o terrorismo. Igualmente, não há informação sobre a existência de alguma investigação do Ministério Público aos supostos financiadores do terrorismo em Cabo Delgado.

 

Com os ataques a não cessarem e o Presidente da República a endurecer o seu tom discursivo sobre a existência de moçambicanos, sobretudo da província de Sofala, que financiam o terrorismo na província de Cabo Delgado, as questões que não calam são: quem são? Quando serão apresentados aos moçambicanos? (A. Maolela)

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