Os ataques dos terroristas em Cabo Delgado tomaram um rumo inesperado com os terroristas lançando ataques surpresa a bases da polícia e do exército no início de Julho e, nestas incursões, apreenderam armas e munições.
De acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED), uma iniciativa desagregada de recolha, análise e mapeamento de crises, esta mudança de táctica estava em preparação para ataques maiores na aldeia de Pundanhar, no distrito de Palma.
Até recentemente, Pundanhar era uma área proibida para os terroristas, desde a chegada das tropas ruandesas e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) como parte de uma operação conjunta no ano passado.
De acordo com um consultor de segurança, o assalto foi lançado a um posto da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) na madrugada de 9 de Julho, surpreendendo os agentes, obrigando-os a recuar e a deixar armas e equipamentos. Também afirmou que o número de oficiais que foram atacados era desconhecido, pois "80 a 100 membros da UIR fugiram".
O ataque foi posteriormente reivindicado pelo Estado Islâmico, que disse ter apreendido armas e queimado um quartel durante a incursão.
Citado pelo jornal sul-africano News24, a ACLED diz que os terroristas lançaram a 11 de Julho um ataque semelhante a uma posição das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas em Mandimba, Nangade, apreendendo um significativo carregamento de armas, munições e equipamentos.
No dia seguinte, atacaram outra base das FDS em Chitolo, a menos de 40 Km da vila de Mocímboa da Praia. Na altura dos ataques, os meios de comunicação social em Moçambique noticiaram que os soldados alegaram ter sido esmagados por forças em número superior após intensos confrontos.
De acordo com o jornal sul-africano News24, os ataques dos terroristas estão se espalhando para o sul de Cabo Delgado, uma área que abriga a maioria dos deslocados internos. O Centro de Integridade Pública (CIP) defende que a propagação do conflito para o sul de Cabo Delgado deverá afectar pelo menos 61 projectos no sector mineiro, que são geradores de rendimentos significativos para o governo.
“As novas incursões colocam em risco cerca de 61 projectos que operam no sul da província, o que pode representar uma perda imprevista de receitas do Estado”, diz a organização em comunicado.
Falando durante um webinar intitulado "A maldição dos recursos de Cabo Delgado - além do gás natural", organizado pelo Instituto de Estudos de Segurança, o especialista moçambicano Borges Nhamirre disse que os ataques têm vindo a alastrar para o sul de Cabo Delgado - uma zona livre de conflitos. Nhamirre acrescentou que o alastramento para o Sul de Cabo Delgado significava que as Forças da SADC e do Ruanda tinham mais terreno para cobrir, resultando em recursos limitados.
As novas áreas em que o conflito se espalhou abrigam pessoas deslocadas internamente (IDPs) em campos. A Organização Internacional para as Migrações disse que falta abrigo, comida e kits de higiene adequados. Como tal, se o conflito se espalhar para essas áreas, a situação humanitária pode piorar.
Violência terrorista provoca fuga mais alta de crianças num ano
Uma nova onda de violência em Cabo Delgado forçou mais de 30 mil crianças a fugir em Junho. A ONG Save the Children disse que foi o maior número de crianças em fuga num único mês, desde o início dos ataques terroristas à região em 2017.
Esses receios foram também levantados por Nhamirre, que disse: “Tínhamos cerca de 7 500 deslocados internos. Agora os recentes ataques originaram cerca de 50 mil novos deslocados internos, o que significa que irá agravar a já má situação humanitária em Cabo Delgado”.
No seminário, João Feijó, da Organização não governamental moçambicana Observatório do Mundo Rural, disse ser necessário iniciar conversações com as forças rebeldes para pôr fim à guerra. “Não haverá desenvolvimento com essa insegurança. Devemos acabar com esta guerra e iniciar conversações com os rebeldes. Temos de saber quem são os líderes e falar com eles”, disse Feijó.
Para a analista Fátima Mimbire, “as empresas interessadas em investir em Cabo Delgado devem apoiar os esforços de assistência aos deslocados internos e garantir o regresso seguro das comunidades”. (Carta)