Pela segunda vez, em menos de 15 dias, a região do Grande Maputo, que compreende as cidades de Maputo e Matola e os distritos de Marracuene e Boane, voltou a parar devido aos protestos contra o elevado custo de vida.
Nesta quinta-feira, 14 de Julho de 2022, 10 dias depois de os transportadores semi-colectivos de passageiros terem paralisado as actividades em protesto à constante subida do preço dos combustíveis, as ruas do Grande Maputo voltaram a ficar vazias e outras registaram alguns tumultos, após anónimos terem convocado uma manifestação popular.
A manifestação foi anunciada nas redes sociais no início desta semana, através de mensagens de texto e áudio. Na mensagem de texto, o mobilizador apelava ao parqueamento de todos os transportes semi-colectivos de passageiros e de viaturas particulares, em protesto ao aumento do preço dos combustíveis.
“Greve é direito sim. Dia 14/07/2022, ninguém deve sair para estrada. Pedimos todos os motoristas para parquearem chapas e viaturas particulares nas estradas. Isto é: combustível, custo de vida, aumento de salário, melhores condições de vida. Atenção, interesse público. Unidos somos fortes”, refere a mensagem.
Já no áudio de 1 minuto e 38 segundos, o mobilizador ameaça incendiar viaturas de quem se fizer à estrada, embora diga que “queremos uma greve pacífica”. O indivíduo usava um destorcedor de voz para não ser identificado.
“Moçambicanas e Moçambicanos, adultos, crianças, jovens e adolescentes. É já dia 14. Queremos acabar com tudo. Chega. Já estamos cansados. No dia 14 de Julho de 2022, esta data deve ser uma data histórica, uma data em que todos os moçambicanos se devem colocar na rua para reivindicar este custo de vida. Aquele que colocar a sua viatura na estrada, vamos queimar. Estamos a avisar. Dia 14 ninguém sai para trabalhar. Todo o mundo deve sair para uma greve. Queremos uma greve pacífica”, refere a mensagem de áudio.
Timidez e alguns focos de tumultos
Logo pela manhã, a timidez tomou conta dos residentes da região do Grande Maputo. Grande parte dos transportadores semi-colectivos de passageiros decidiram acatar a mensagem, tendo parqueado as suas viaturas por temer vandalização. Viaturas particulares também foram parqueadas devido aos mesmos motivos.
As paragens e terminais de passageiros da Cidade de Maputo, como os do Zimpeto, Albasine, Praça dos Combatentes, Praça dos Trabalhadores e Museu, encontravam-se desertos, tendo apenas os autocarros das cooperativas a garantir serviços mínimos: aliás, nem foi preciso lutar para tomar o transporte e nem houve registo de congestionamento.
Para além da ausência de pessoas e viaturas nas estradas, lojas, ferragens, armazéns, ginásios e restaurantes também estiveram encerrados. Algumas organizações da sociedade civil, tais como o Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), tiveram de adiar os seus eventos.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) mobilizou-se para evitar qualquer situação de vandalização. Agentes das Unidade de Intervenção Rápida (UIR), Unidade Canina, Polícia de Protecção e Polícia Municipal inundaram as paragens e terminais de passageiros.
No entanto, apesar da mobilização policial, houve registo de alguns focos de instabilidade. Na Estrada Nacional Nº 4 houve registo de três pontos de tumultos: no bairro Luís Cabral, junto à Maquinag, populares lançaram pedras contra viaturas e também queimaram pneus; perto da portagem de Maputo, no Município da Matola, houve também bloqueio da estrada; e também houve queima de pneus nas proximidades do supermercado Shoprite, também no Município da Matola.
Já na cidade de Maputo, as avenidas do Trabalho e Marcelino Dos Santos, junto aos mercados Malanga e Fajardo, houve registo de agitação: queima de pneus e roubos. Mesmo cenário verificou-se nas avenidas de Angola (bairros da Mafalala e Munhuana), Acordos de Lusaka (bairros da Maxaquene e Urbanização), Julius Nyerere (Polana Caniço) e Vladimir Lenine, na zona do Compone, no bairro da Maxaquene.
Até ao fim do dia, havia relatos de lançamento de pedras contra viaturas e queima de pneus em algumas arteiras da capital do país. O elevado custo de vida era apontado como sendo o principal motivo para o arremesso de pedras às estradas.
Em todas as situações, a Polícia teve de lançar gás lacrimogénio e disparar balas de borracha e também reais para dispersar os manifestantes, cumprindo uma promessa feita nas vésperas da greve.
Na quarta-feira, em conferência de imprensa, Orlando Mudumane, porta-voz da Polícia da República de Moçambique, a nível do Comando Geral, disse que a Polícia ia exercer a devida autoridade, “tomando, sempre que necessário, todas as medidas de polícia coercitivas, proporcionais e legalmente justificáveis, em todo o território nacional”. Alguns cidadãos, rotulados como agitadores, foram detidos.
Refira-se que o custo de vida tende a agravar-se e, em Junho último, bateu um novo recorde, ao se registar uma subida generalizada de preços em 10,81% contra 9,31% de Maio, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. No entanto, o Banco de Moçambique também já alertou que os preços dos bens e serviços continuarão a subir devido à guerra entre a Rússia e Ucrânia. (Carta)