A Glencore, um colosso da mineração e “commodities”, que também opera em Moçambique há mais de 10 anos, com negócios no sector "downstream" (distribuição de produtos refinados) do “oil and gas”, enfrentou alegações de que embarcou em esquemas de suborno e manipulação de mercado em grande escala nos EUA e foi considerada culpada.
"A Glencore International AG (Glencore) e a Glencore Ltd, ambas parte de uma empresa multinacional de comércio de commodities e mineração com sede na Suíça, declararam-se culpadas nesta semana e concordaram em pagar mais de US$ 1,1 bilhão para resolver as investigações do governo sobre violações da Lei de Práticas Corruptas Estrangeiras (FCPA) e um esquema de manipulação de preços de commodities", disse o Departamento de Justiça dos EUA (USDJ) num comunicado.
A ficha criminal é longa e contém uma galeria de governos corruptos. Mas o maior desonesto de todos nesta multidão é a Glencore, que foi apanhada com suas patas sujas em um enorme pote de biscoitos. "As acusações no assunto FCPA surgem de um esquema de décadas da Glencore e de suas subsidiárias para fazer e ocultar pagamentos e subornos corruptos por meio de intermediários em benefício de funcionários estrangeiros em váriospaíses", disse o USDJ.
"Separadamente, a Glencore Ltd admitiu ter se envolvido em um esquema de vários anos para manipular os preços do petróleo combustível em dois dos mais movimentados portos comerciais dos EUA." "O escopo deste esquema de suborno criminoso é impressionante", disse o procurador dos EUA Damian Williams, do Distrito Sul de Nova York, citado no comunicado.
"A Glencore pagou subornos para garantir contratos de petróleo. Glencore pagou subornos para evitar auditorias do governo. Subornou juízes para fazer os processos desaparecerem. No fundo, a Glencore pagou subornos para ganhar dinheiro - centenas de milhões de dólares. E o fez com a aprovação, e até mesmo o incentivo, de seus principais executivos."Em suma, a Glencore estava distribuindo subornos à esquerda, à direita e ao centro com a cumplicidade de sua alta gestão.
"A manipulação dos preços de mercado da Glencore ameaçou não apenas danos financeiros, mas minou a fé dos participantes na função justa e eficiente dos mercados de commodities em que todos confiamos", disse a procuradora dos EUA Vanessa Roberts Avery, do Distrito de Connecticut.
Em Moçambique “estamos limpos”
A bomba que rebentou na América não teve, aparentemente, repercussões nos corredores da subsidiária moçambicana da multinacional suíça. Calisto Macame, Country Manager da Glencore Moçambique disse ontem à “Carta” que a empresa "está limpa", cumprindo com todas as regras de "compliance" (conformidade ética) tanto na relação com os fornecedores como com os clientes.
Nos últimos 12 anos, disse Macame, a Glencore investiu em Moçambique mais de 60 milhões de USD, maioritariamente aplicados no Terminal Oceánico da Beira, a partir donde faz suas operações de distribuição de produtos petrolíferos para o “hinterland”, nomeadamente gasolineiras no Zimbabwe e Malawi e empresas de mineração cobre na Zâmbia e na região de Lubumbashi, na República Democrática do Congo.
A Glencore Moçambique reporta a Londres, onde uma divisão da Glencore Internacional coordena todas as operações de “oil and gas'', mas foi da sede na Suíça que chegou uma “nota interna” detalhando os incidentes de corrupção e manipulação nos EUA, agora relevados e penalizados.
Calisto Macame se diz tranquilo, pois a empresa opera num “ambiente de transparência”, evitando a colusão com seus principais “stakeholders”, nomeadamente os Caminhos de Ferro de Moçambique e a Autoridade Tributária. Para além dos negócios com Hinterland, dentro de Moçambique, a Glencore distribuiu cerca de 40 milhões de litros de derivados de petróleo. (Carta)