O número médio de pessoas mortas por rebeldes no norte de Moçambique reduziu entre 2020 e 2021, passando de 60 para 30 por mês, indica o relatório anual dos Estados Unidos, alertando, entretanto, para novos ataques em “pequena escala”.
“Os extremistas violentos afiliados ao ISIS-Moçambique na província de Cabo Delgado aterrorizaram civis, incluindo casos de decapitações […] Uma média de 30 civis foram mortos por mês pelo ISIS-Moçambique [em 2021], contra uma média de 60 civis por mês em 2020”, indica o relatório anual dos Estados Unidos sobre direitos humanos.
A redução do número de mortos é o resultado do apoio que as forças moçambicanas estão a receber do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) desde os meados de 2021, segundo Washington, que alerta que, no entanto, as operações dos rebeldes continuam, embora em “pequena escala”.
O relatório dos Estados Unidos refere que os grupos armados que aterrorizam o Norte de Moçambique desde 2017 cometeram “abusos generalizados” e raptaram dezenas de pessoas, lembrando que perto de 600 mulheres são dadas como desaparecidas desde 2018, um dado que tinha sido avançado pela organização não-governamental Human Rights Watch.
“Em 13 de junho [de 2021], extremistas violentos decapitaram duas crianças e dois adultos, que deixaram uma área de reassentamento no distrito de Palma em busca de comida. Em 24 de agosto, extremistas violentos teriam decapitado um grupo de pescadores no distrito de Macomia, na província de Cabo Delgado. Houve vários abusos relatados pelos media semelhantes a este”, frisa o relatório.
Por outro lado, o documento dos Estados Unidos alerta para alegadas denúncias de organizações da sociedade civil sobre abusos cometidos também pelas forças governamentais que combate os grupos rebeldes na província de Cabo Delgado.
“As respostas das forças governamentais a esta violência foram, por vezes, pesadas, incluindo prisões e detenções arbitrárias”, frisa o documento, avançando que algumas organizações da sociedade civil denunciaram alegadas execuções extrajudiciais de pessoas suspeitas de estarem ligadas aos rebeldes que aterrorizam a província de Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.
Além do drama que está a ser provocado pelo conflito armado em Cabo Delgado, o relatório anual sobre direitos humanos do Departamento de Estado norte-americano alerta para casos de abusos dos direitos humanos em outros pontos de Moçambique, destacando alegadas denúncias de restrições à liberdade de imprensa, detenções arbitrárias e os altos níveis de corrupção.
“O governo tomou medidas para investigar, processar e punir alguns funcionários que cometeram abusos de direitos humanos e se envolveram em práticas corruptas, no entanto, a impunidade e a corrupção continuaram a ser um problema a todos os níveis, conclui o documento. (Lusa)