Estive em Maputo entre os dias 25 e 27 deste mês de Abril, contra a minha vontade. A capital do meu país já não me seduz, nem quero mais sentir o cheiro que ela expele em toda a dimensão das avenidas e ruas, e dos prédios degradados. Fui porque era inevitável, o assunto requeria a minha pessoa em presença. É verdade que já fiz parte em tempos, do ram-ram desta grande metrópole, levando uma vida intensa que incluia bares noturnos onde ia ouvir música livre, com muito fumo à mistura e outras coisas que me levavam ao paraíso do céu. Mas hoje perdi a estrutura do anarquista que eu era, por isso todo este bulício, todo este cheiro de mijo alagando as acácias e as vedações e os becos dos subúrbios, as intermináveis buzinadelas, tudo isso repele-me.
Saí de Inhambane no domingo, dia 25 de Abril, transportado num autocarro da empresa ETRAGO, que podia considerar-se confortável, não fosse o inoportuno televisor colocado lá dentro e que nos é forçado a assistir, “querendo como não”. Mesmo que eu quisesse fechar os olhos para conciliar o sono e desligar-me deste castigo, seria impossível por causa do som que incomoda. A música que toca não faz parte da minha formação, pior os vídeos que vão sendo mostrados, não têm mais do que a exibição gratuita do corpo feminino. É isso que somos obrigados a assistir ao longo de uma longa viagem de quinhentos quilómetros.
Maputo não tem nada a oferecer-me, a não ser a frustração dos jovens completamente destruidos pelo álcool e pelo fumo, o desespero das mulheres sentadas na berma das ruas vendendo tudo. Dói-me sobremaneira o tratamento a que somos submetidos nos “chapas”, nos my love. Os prédios que Samora Machel nos deu estão a ruir um a um, e ninguém sabe o que será o nosso dia de amanhã, perante gritante incapacidade.
Ainda fui a tempo de ver, à entrada da cidade de Maputo, na zona de Marracuene, a nova fábrica da 2M. Lembrei-me ter visto, por via da televisão, o ilustre Tomaz Salomão na inauguração da mesma, fazendo um discurso de pompa, enaltecendo os empregos que irão para a juventude, e o milho das nossas machambas que será empregue na fabricação da cerveja. Mas o que eu não confirmo é se a 2M que se bebe em Moçambique é de boa qualidade ou não. Isso eu não confirmo nem desminto, por isso não me empolguei tanto com a intervenção dessa fugura que é membro da Comissão Política da Frelimo. A menos que volte e nos diga que a cerveja que ele mesmo propala na publicidade, é de boa qualidade.
Mas Maputo pode ser a síntese de que todo o nosso país está a ser abalroado no alto mar, em todas as vertentes. Eu desdenho Maputo, uma cidade que tem na mesma moeda um lado falso, e outro lado real. O lado falso é da Av, Julius Nyerere para lá, onde se arrotam fígados. O lado real fica mais para cá, onde a podridão nunca vai se esconder. É aqui onde vou me hospedar entre os dias 25 e 27 de Abril, convivendo com todo o fedor dos guetos sem futuro.
Maputo não tem futuro!