Eu ainda não sabia da notícia sobre o perdão concedido pelo Presidente da República (PR) aos dois jovens acusados e detidos pela polícia, ora em liberdade, por terem injuriado o próprio PR, recebi a chamada do guarda de um meu pedaço de terra algures neste país. A partida pensara que fosse o habitual das chamadas – que a comida dos cães já era - mas o teor foi outro e bem audível: “Meu patrão está perdoado!”. Logo que perguntei a razão do perdão a linha caiu. Insisti e nada. Por que cargas de águas eu fora perdoado? Eis a questão.
O perdão fora-me concedido no final da tarde e dormi preocupado em saber a razão. Na manhã seguinte, mal o sol despontara, liguei para o guarda afim de saber dos cães. Na verdade era do perdão que eu queria saber. Depois do papo habitual de perguntas e respostas, e “como quem não quer nada”, aproveitei e perguntei sobre o pedrão recebido. A resposta: “Afinal o patrão não acompanha as notícias?”. Em seguida, e perante o meu espanto (silêncio), o guarda continuou com o seu ar interrogativo: “Patrão não viu as notícias? O PR perdoou aqueles que o insultaram”. Por acaso, pouco antes de dormir, acompanhara tal notícia e não estabelecera nenhuma ligação entre as duas clemências.
- E daí? Pergunto.
- Patrão humilha-me muito sempre que vem com as suas amigas.
- Não entendi…
- É isso mesmo patrão. Patrão diz sempre a elas que eu roubo material, que eu sou preguiçoso, isto, isto, isto e que por isso o patrão ainda não acabou de construir a dependência.
-mais…
- Vamos deixar patrão. Nem vou falar de outras humilhações. Eu já perdoei patrão, assim como o PR também perdoou o patrão dele.
(silêncio)
- Se o patrão quiser pode pedir desculpas e prometer que vai falar com outros patrões para pautarem por um bom comportamento.
Um mau jeito no telemóvel, este cai e na hora toca o despertador. Eram 05H45. Relembro o sonho e não faço ideia do desfecho da conversa. Contudo, por enquanto, e para fechar, se o leitor esteve comigo até aqui e tem um patrão, aproveite e comece bem a semana: perdoa-o!. Sim. É isso mesmo: não precisa que ele tenha feito algo de mal.
PS1: Esta de “perdão à solta” lembra-me a estória de um jovem que chega à casa e diante do pai diz que se vai casar. E o pai, de forma insistente - tal era a estupefacção do filho - pede-lhe que diga, e do nada: “Peço desculpas”. Vendo que o pai estava irredutível, o filho fez-lhe a vontade: “Peço desculpas!”. E o pai, já aliviado, diz: “Agora sim meu filho, estás preparado para a vida de casado”.
PS2: Nesta onda de “perdão à solta” não me admira que por estes dias, o demissionário Hélder Martins ( ) seja obsequiado por um perdão presidencial.