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segunda-feira, 18 janeiro 2021 06:57

O político tramado

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Na “pátria dos heróis” facilmente são criados “falsos vilões e paladinos do povo”. Na Matola, em meados de 2013, era derrubado um edil bastante protegido, que tudo inaugurava, mesmo o que não lhe dizia respeito. Em meio à tempestade, algumas figuras sobressaíam e os detentores do poder não viam o mesmo com bons olhos. 
 
Algum tempo depois, a “praga” instalada na autarquia mais extensa e das mais concorridas na “terra dos desmentidos” foi removida. Tinha que se encontrar um substituto (coitado!). Na lista dos que mais “barulho” fizeram, encontrou-se um homem, doptado de fortes habilidades humanas, competências técnicas, princípios éticos e com uma avalanche de apoio das massas.
 
O homem era a pessoa certa para gerir a Matola que todos queriam. Infelizmente, no meio daquele “ciclone político e partidário”, alguém tinha que pagar pelo caldo derramado das alas detentoras do poder. Nisto, a ousadia de combater e afrontar a incompetência de um protegido da oligarquia partidária víria a custar muito caro ao homem.
 
Foi o que aconteceu. Eles haviam mexido o filhote da leoa. O grupo tentou rir-se do crocodilo, antes de atravessar o rio. Zombaram-se da monarquia interna a nível da província. O sarcasmo havia sido demasiadamente usado naquele bestseller político. Além disso, a vassoura da feitiçeira tinha sido tocada e usada para atacar o filhote querido e amado.
 
Dias, semanas e meses passaram. A autarquia estava numa gestão dos que combateram pela transparência e qualidade governativa dos munícipes matolenses. Algo tinha que ser feito para travar o jovem revolucionário, porque o trabalho feito demonstrava que o homem tinha tudo para ser o candidato e vencedor das autárquicas de 2014.
 
Várias linhas operativas de sabotagem foram montadas e enviadas para o campo. Levantamentos bancários, da vida, académico, profissional e empresarial foram feitos. Tinha que haver uma falha. Não era possível, diante de tanta súcia partidária, existir uma virgem imaculada como aquela.
 
A tesão e tensão era tanta no seio da oligarquia partidária cinquentenária. O pénis não conseguia deixar de estar erecto. A bombril pedia, cada vez mais, por mais rounds. Era preciso encontrar o meio para ejaculação ou atingir o orgasmo. Tantas rameiras passaram pelo porongo erecto insaciável. Vários gigôlos tentaram e não conseguiram vencer a tusa da bombril. O homem tinha ficha limpa e tudo para avançar a tão querida e desejada liderança da Matola. 
 
Inesperadamente, uma esperança de última-hora surgiu... Os homens, enviados em diferentes linhas operativas da sabotagem, acharam uma coisa pequena nos movimentos bancários da mulher do “jovem político atrevido” que ousou em confrontar as doutrinas cinquentenárias do partido que libertou Mosambike do jugo imperial e colonial português.
 
A esposa do “Rango da Matola” trabalhava no departamento das finanças no Ministério da Administração Estatal, onde processava, fazia os balancetes e os lançamentos dos salários. A jovem mulher, atarefada e sempre dedicada ao trabalho, profissional reconhecida no ofício e que procurava, constantemente, cumprir as metas, acabou cometendo um “erro perdulário”, que, no entanto, lhes custou muito caro.
 
A mulher do “político tramado”, efectuando pagamentos de serviços prestados pelo seu sector laboral a forncedores, acabou transferindo, supostamente por erro, uma quantia de 175 mil meticais para uma conta conjunta do casal, que tinha mais de 20 milhões de meticais, valores que se assumem  pertencer à empresa particular do “Rango da Matola”.
A transferência falhada da mulher para uma conta bancária do casal, a qual também era da empresa deles, retirou o véu da virgem imaculada que tanto os leões quanto as leoas caçavam. 
 
Finalmente, o porongo erecto despejou o esperma na cara e nos mamilos da primeira meretriz que apareceu. O orgasmo foi atingido com um simples beijo. Sucede que a ansiedade era tanta e os nervosos quase explodiam a cabeça da cúpula toda. Os batuques já não tocavam o som do Mapiko/ Nhambaro/ Tufo ou Marrabenta. A orquestra tinha que encontrar novas formas de maestria. Por fim, a hora da vingança foi anunciada: a justiça espantalha tinha que funcionar para os senhorios do glorioso.
 
Foi feita a cama para o “Rango da Matola” dormir. O homem acabou sendo constituído arguido, acusado de cumplicidade por defraudação e ocultação de crime financeiro. O adversário do protegido e discípulo do mestre do calote secular, Chopstick, já tinha o passe livre para chegar ao trono. 
 
Enquanto isso, o “Rango” combatia na justiça procurando provar que não tinha nada a ver com aquela situação e que a mulher havia falhado, para além do referido valor ser uma simples gota de água no oceano. Mesmo defendido por um dos melhores advogados da praça, o homem foi condenado a oito anos de prisão, por um crime que ele não cometeu e a mulher, que supostamente desviou o dinheiro, voltou para casa inocentada. 
 
A informação sobre a sentença era comemorada nas vermelhadas e badaladas campanhas. Brindes de whiskys, vinhos e champagnes eram feitos, porém, escondidos dos holofotes da mídia crítica, que poderia afectar negativamente a imagem do partido e do candidato, a favor da oposição.
 
O homem havia sido atirado para as masmorras. Inconformado e com a honra manchada, o jovem Rango recorreu da sentença. Metidos a competentes, os juízes da dita Secção reduziram-na para três anos, mas com pena suspensa. Entretanto, o homem, insistiu. Escreveu para o Supremo, pedindo que o seu caso fosse analisado no âmbito da jurisprudência (igualdade de direitos/ sem dualidades de critérios). 
 
No Supremo, a esperança de que a honra seria reposta era tanta. A luta pelo poder político seria recomeçada: o sistema teria um novo adversário, um osso duro de roer, porém a esperança desmoronou. Ora, sucede que no Supremo, o homem tinha lá o seu padrinho de casamento, um pai, irmão e companheiro de longas batalhas. Com a jurisprudência criando fortes dores de cabeça nos juízes presidentes do Supremo, aliada à pressão externa da mão política, num belo dia, cumprindo uma agenda política e devidamente desenhada, o “admirado padrinho” foi mandatado para convencer o homem a retirar o processo no âmbito da jurisprudência, visto que estava a lutar demais com o sistema, na sua totalidade, e pediu para submeter um novo requerimento solicitando o arquivamento do processo por erros judiciais.
 
Quando tudo indicava que o “acordo de cavalheiros” entre o mediador (padrinho) e os leões ferozes havia sido suprido, eis que o último golpe de Shaolin foi aplicado. O colectivo de juízes presidentes do Supremo enviou o homem para os calabouços, dando três anos de prisão efectiva e matando todas as possibilidades de o homem continuar a sua vida com a família. 
 
O Rango da Matola foi destruído social, política e juridicamente. Contudo, ele permaneceu espiritual e epistemologicamente livre.
 
Fica uma lição: a luta de homens iguais morre quando, em vida, não encontramos discípulos a altura de Platão e Aristóteles. O Rango da Matola foi mais um político convicto tramado, entre os vários que, dia-a-dia, vivem situações similares na família, no sector de trabalho, na mesa de copos com amigos, discotecas, no partido, na igreja e noutros locais.
 
Segundo informações, os pássaros dizem que, após ele ter vivido nas masmorras, atirado pelo. onde vivia como um menino da caverna de Platão, contemplando o mundo no interior daquele pavilhão pintado de branco, tentando compreender o fado e o valor da vida. 
 
Hoje, habituado com o canto dos pássaros e o uivo dos lobos, o homem pretende viver ao lado dos apóstolos do bem...Onde é, e quem são?
 
Omardine Omar
Janeiro de 2021   

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