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quarta-feira, 14 outubro 2020 06:49

A caverna da morte

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Margareth Uambo, menina linda, nascida na terra de Agostinho Neto em Kaxikane, município de Icolo e Bengo, em Angola. Jovem inteligente e dedicada com atributos corporais e faciais extraordinários. Logo cedo, a mangolé apaixonou-se pela medicina tendo em 2012 conseguido uma bolsa de estudo, uma vez que era uma extraordinária estudante. A bolsa da Margareth levou-a a Argélia.

 

Na Argélia tudo corria bem, boas notas, comportamento escolar bom e todos os outros aspectos sociais e financeiros seguiam em bom ritmo, até que numa triste e amarga noite do ano de 2016, a Margareth Uambo que regressava de mais um estágio cruzou com três jovens argelinos, tendo um dado uma palmada na sua "tesuda bunda"; a Margareth sorrindo, reparou aos jovens e afastou-os com desprezo. Entretanto, os argelinos são famosos por serem agressivos, frios, violentos, extremamente tesudos e calculistas, mulherengos, xenófobos, racistas, "assassinos e até terroristas".

 

Após terem batido no traseiro dela e ela ter os mostrado desprezo, os três jovens aproximaram mais o carro até a Margareth, pegaram no braço dela e começaram arrastá-la com o carro a uma velocidade de 180km/h. No passeio, onde a Margareth Uambo foi pega pelos rapazes, estavam lá alguns policiais que a princípio viram o acto como normal, mas logo que começou a barbárie, imediatamente accionaram a polícia de intervenção rápida local que foi atrás dos jovens.

 

Foram capturados os jovens. A Margareth toda ferida, aquela pele negra toda linda raspada e a cabeça a milímetros para que o cérebro sai-se. A Margareth não aguentou, morreu a caminho do hospital e o corpo chegou a Kaxikane sem a cabeça, porque a mesma separou-se do corpo durante o processo do transporte ao hospital. Estranhamente, os jovens capturados foram soltos, porque mataram uma pessoa de cor negra que na tradição deles são pecadores por isso Deus (Allah), os castigou dando-lhes a pele negra.

 

Os assassinos da Margareth não pensaram na família dela. Nos sonhos e projectos dela. Na missão que o governo angolano tinha para ela. Nas crianças, mulheres e idosos da pacata e esquecida Kaxikane de Agostinho Neto. Eles não pensaram que o curso que ela estava a fazer iria revitalizar o sector de saúde na sua comunidade, onde as mulheres morrem em bichas nos hospitais por falta de atendimento.

 

Em Blida, em 2016 vivia um jovem lindo, inteligente e dedicado de nome Shameer Mukhuta, estudante de engenharia química. Shameer era argelino, muçulmano e homossexual. Todas as moças apreciavam a sua beleza, mas não sabiam da sua opção sexual. Os colegas da república estudantil descobriram o outro lado de Shameer, convenceram-no que também eram da mesma "laia". Marcaram um encontro a três. Shameer Mukhuta pensando que aquele seria o dia "H" na satisfação dos seus desejos carnais, acabou por se tornar num filme de terror.

 

Chegada a hora, Shameer dirigiu-se ao quarto dos supostos colegas, onde acreditava que sentiria um prazer raro no seu país. Horas depois, as pessoas encontraram o corpo de Shameer sem vida, a cabeça separada do corpo e com uma escrita em francês estampada na parede que dizia: "Ici, nous ne tolérons pas les gays car ils sont des fruits du diable"; traduzindo - "Aqui não toleramos gays porque são frutos do diabo".

 

Contrariamente, ao caso da Margareth Uambo, o de Shameer Mukhuta foi bastante mediático e debatido nos canais da Argélia, houve repúdio por tudo que era canto daquele país. Os assassinos face a repercussão tiveram que colocar-se em fuga porque caso fossem detidos teriam pena de morte. As fotos circularam por toda imprensa com a escrita "Wanted"- "Voulait" que em português significa "Procurado".

 

Um tempo depois, trouxe-se a público que Shameer era homossexual e os assassinos foram encontrados. Diante desta nova realidade, os mesmos foram apenas obrigados a indemnizar a família Mukhuta e o caso foi encerrado e ficou como mais um…

 

Com a guerra na Síria, um país asiático com governação e cultura islâmica. Na Argélia, um grupo de jovens estudantes começou um movimento de recolha de assinaturas contra a guerra que mobilizou países com poder militar e armamentista pesado, como a Rússia e os Estados Unidos de América (EUA). Os jovens pretendiam ter aprovação para fazer barbaridades contra embaixadas pró-americanas por supostamente estas estarem a apoiar a morte dos sírios que na óptica deles tinham razão…

 

Os jovens estavam dispostos a tudo. Até de explodirem-se no meio da multidão, em autocarros, em universidades ou em aviões. Entretanto, para poder amealhar mais assinaturas, os mesmos andavam armados e com paus nas mãos de quarto em quarto, rua em rua, casa em casa, recolhendo assinaturas e caso alguém recusasse então teria um "fim nebuloso" e em alguns momentos perguntavam as pessoas de que religião eram, caso não fossem muçulmanos, o fim já era sabido.

 

Em Blida, os cidadãos da raça negra morrem e nada é feito. A impunidade, o preconceito, o racismo, os assassinatos e a fobia por outras religiões tornaram esta e outras cidades daquele país numa "caverna da morte". Facto é que duas estudantes zimbabuanas foram mortas; uma em situação estranha e a outra devido a propinas escolares; alguns estudantes foram explodir no ónibus.

 

Que o diga Abdelaziz Bouteflika, ex-presidente da Argélia, que passou diferentes epítetos familiares, sociais e políticos até chegar andar na cadeira de rodas e ver um avião com 300 passageiros explodir porque alegadamente as manifestações para a sua queda não estavam a surtir algum efeito.

 

A diferença entre a caverna da morte e as outras é que lá os casos são rapidamente abafados na mídia porque tudo se tornou num status quo nacional e nos outros países viralizam acabando por paralisar uma nação poderosa e com força policial reconhecida como assassina.

 

Rest peace, à todos que morreram por ser diferente!

 

Texto escrito baseando-se em conversas constantes e histórias contadas por estudantes moçambicanos na Argélia.  

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